Cantora segue 'Movida madrileña' com artista uruguaio em single com música de 1977 que uniu os traços modernistas das obras de Caetano Veloso e Bob Dylan. Capa do single 'Negro amor', de Gal Costa com Jorge Drexler Divulgação Resenha de single Título: Negro amor Artistas: Gal Costa e Jorge Drexler Compositores: Bob Dylan em versão em português de Caetano Veloso e Péricles Cavalcanti Edição: Biscoito Fino Cotação: * * * * ♪ Em 1977, ao gravar o então inédito folk Negro amor, Gal Costa uniu os traços modernistas das obras de Caetano Veloso e Bob Dylan em registro agudo, pautado pela intensidade. Uma das melhores faixas de Caras & bocas, álbum de ambiência roqueira lançado pela cantora naquele ano de 1977, Negro amor é versão em português It's all over now, baby blue, música da inicial fase folk do cancioneiro de Dylan. Gravada em janeiro de 1965 e lançada em março daquele ano no quinto álbum de estúdio do cantor e compositor norte-americano, Bring it all back home, It's all over now, baby blue flagra o bardo contestador ainda em ambiência acústica, mas já à beira da transição da obra para o universo eletrificado do rock. Na versão brasileira intitulada Negro amor, escrita por Caetano Veloso com Péricles Cavalcanti em português que mantém a alta carga poética da letra original de Dylan, a música incorpora referências brasileiras, aludindo à química da música de Jorge Ben Jor ao anunciar que “os alquimistas estão no corredor”. Decorridos 43 anos do emblemático registro original de Negro amor, Gal (ar)risca “outra vida, outra luz, outra cor” para a versão brasileira do folk de Dylan em gravação feita com a voz e o violão de Jorge Drexler, cantor, compositor e músico uruguaio residente em Madrid, na Espanha. A gravação chega ao mercado fonográfico em single programado pela gravadora Biscoito Fino para sexta-feira, 18 de dezembro, juntamente com outro single em que a cantora regrava Coração vagabundo (Caetano Veloso, 1967) em dueto com Rubel. São mais duas das dez faixas do álbum em que, sob a direção artística de Marcus Preto, Gal revisita músicas do próprio repertório ao lado de elenco masculino que, além de Drexler e Rubel, inclui António Zambujo, Criolo, Rodrigo Amarante (em Avarandado), Seu Jorge (em Juventude transviada), Silva, Tim Bernardes, Zé Ibarra (em Meu bem, meu mal) e Zeca Veloso (em Nenhuma dor). Em tese, qualquer nova abordagem de Negro amor por Gal é arriscada pela improbabilidade da cantora reeditar o tom visceral da gravação original de 1977. Surpreendendo, a artista dribla bem o risco. A voz de Gal soa com viço – mesmo com “outra vida, outra luz, outra cor” – e se harmoniza com o fluente canto em português de Drexler. Contudo, quem risca o fósforo é Felipe Pacheco Ventura, coprodutor da faixa em parceria com Drexler. Com evocação da música celta na introdução da gravação, o arranjo de cordas reacende Negro amor naquela que, a julgar pelas seis faixas já reveladas, é contribuição mais expressiva de Ventura ao disco comemorativo dos 75 anos de Gal Costa. A disposição dos violinos, violas e violoncelos – estes a cargo de Marcus Ribeiro – produzem espécie de fricção que potencializa o significado dos versos cantados de forma alternada por Gal e Drexler em gravação que culmina com o verso em espanhol “Y no queda más nada, negro amor”. Em forma aos 75 anos, Gal Costa segue a Movida Madrileña com Jorge Drexler para reafirmar afinidades entre Bob Dylan e Caetano Veloso, compositor-bússola dessa senhora cantora em 55 anos de carreira fonográfica.