De acordo com o pesquisador responsável pelo indicador, na prática o saldo positivo foi provocado por efeito estatístico. A atividade econômica brasileira cresceu 0,6% em outubro frente a setembro, indica o monitor do PIB da Fundação Getulio Vargas (FGV). Apesar da expansão, é o pior resultado desde abril, mês considerado o 'fundo do poço' da crise provocada pela pandemia do coronavírus, quando houve queda de 9,1%.
Na prática, o saldo positivo na margem foi provocado por efeito estatístico, segundo o pesquisador Claudio Considera, da FGV, responsável pelo indicador. A estimativa da FGV ficou abaixo da do Banco Central: a prévia da entidade apontou alta de 0,86% em outubro, na comparação com o mês anterior (veja no vídeo mais abaixo).
Como o indicador foi comparado com meses imediatamente anteriores, em que a economia estava mais enfraquecida devido à pandemia de covid-19, com restrições mais fortes de circulação social — o que afetou fortemente a economia de serviços —, o indicador começou a mostrar taxas positivas a partir de maio, lembrou o pesquisador.
"Mas há meses esse aumento, na margem, vem desacelerando", disse o técnico. Assim, para o especialista, o desempenho não representa sinal de retomada sustentável, na atividade econômica e foi influenciado por base de comparação baixa. "A economia só volta a crescer quando houver vacinação [contra covid-19] em massa", afirmou ele.
Economia brasileira cresce 0,86%, em outubro
No trimestre móvel encerrado em outubro, a alta foi de 6,4% ante os três meses anteriores. Na comparação interanual, a economia apresentou queda de -2,7% em outubro e de -3,1% no trimestre móvel findo em outubro.
“O forte crescimento de 7,7% da economia brasileira no 3º trimestre, reverteu, em parte, a forte retração de 9,7% registrada no 2º trimestre deste ano. No entanto, este crescimento não teve continuidade em outubro, que apresenta a menor taxa mensal desde a forte retração de abril”, diz Considera.
Segundo ele, a tendência da economia parece ser retomar às incipientes taxas mensais do início do ano, pré pandemia. Das 12 atividades desagregadas que compõem o PIB apenas seis apresentam-se no plano positivo tanto contra mês anterior, como na comparação interanual.
“O setor de serviços ainda apresenta grande resistência à recuperação com grande influência das atividades de transportes, de administração pública, e particularmente de outros serviços que pesa quase 15% do PIB”, diz o economista.
Segundo ele, esses resultados são reflexo do fraco desempenho dos dois principais componentes da demanda: o consumo das famílias e a formação bruta de capital fixo. “Mesmo com a flexibilização das medidas de isolamento e pequena melhora dos setores de alojamento, alimentação, serviços prestados às famílias, educação e saúde, o crescimento observado ainda é insuficiente para trazer o consumo para o plano positivo.”
No levantamento da FGV, a economia de serviços, que representa mais de 70% da economia, mostrou alta de 0,5% em outubro ante setembro. Embora positivo, esse resultado também é o pior desde abril (-8,4%), mês considerado como "auge" do impacto negativo, na economia, dos efeitos da covid-19.
Na comparação com outubro do ano passado, a atividade de serviços caiu 3,6% em outubro desse ano, com retração de 4,1% no trimestre finalizado em outubro, ante igual período em 2019. "Serviços foi muito afetado pela pandemia" lembrou Considera, frisando que esse segmento ainda não deu sinais de recuperação sustentável até outubro.
Pelo lado da demanda, a pesquisa mostra saldo positivo no consumo das famílias, ainda favorecido por pagamento de auxílio emergencial, por parte do governo. Em outubro, o consumo das famílias subiu 2,2% ante setembro, no levantamento da fundação. Mas ainda é 3% abaixo de outubro do ano passado, segundo leitura do Monitor. No trimestre encerrado em outubro, a queda é de 4,4% ante mesmo período em 2019, no consumo das famílias.
E esse patamar de consumo pode piorar a partir do ano que vem, admitiu o especialista. Isso porque o mercado de trabalho mostra sinais preocupantes, notou ele.
"Vamos terminar o ano com desemprego em alta", alertou o economista, lembrando que o auxílio emergencial termina em dezembro desse ano. Ou seja, na prática, sem o benefício do governo, isso vai gerar maior volume de pessoas à procura de vagas, para compor renda.
"Muitos empregos não 'voltaram' ao longo da pandemia, e nem vão voltar. Tivemos bares, restaurantes fechando e, no caso de turismo, a atividade não vai voltar totalmente de uma hora para outra" afirmou. "Além disso, temos agora aumento de número de casos [de covid-19]" completou o técnico.
Nem mesmo os investimentos na economia, que poderiam ajudar a tornar o cenário da atividade mais favorável, deram sinais positivos na leitura do Monitor do PIB até outubro, acrescentou o técnico. A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) caiu 1,1% em outubro ante setembro, na pesquisa da FGV. Na comparação com outubro do ano passado, a queda é de 1% em outubro desse ano, em FBCF.
Para o especialista, os sinais até o momento delineados pelo levantamento é de redução de ritmo de crescimento da atividade até outubro, influenciado por serviços e demanda operando de forma fraca —o que não confere boa perspectiva para a economia em 2021, admitiu ele.
"Duvido que a economia cresça ano que vem tudo que perdeu esse ano", afirmou Considera, acrescentando que o PIB do próximo ano deveria subir pelo menos 4,5%, para isso acontecer.
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