Panes de sistema não exigem ações de hackers. Diversos problemas na infraestrutura e imprevistos podem causar erros temporários. Pane desta segunda (14) surgiu por 'efeito cascata' iniciado na gestão de cotas de armazenamento. O Google Docs é o editor de texto disponível no serviço de armazenamento de arquivos na nuvem Divulgação Os serviços do Google ficaram inacessíveis para boa parte dos usuários no início da manhã desta segunda-feira (14), o que surpreendeu muitas pessoas – inclusive pelo receio de que os dados da conta pudessem se perder para sempre, caso o acesso não fosse restabelecido. Alguns dos erros, embora temporários, afirmavam que "não foi possível encontrar a conta Google". A empresa informou que a pane foi causada por um 'efeito cascata' iniciado na gestão de cotas de armazenamento. O problema gerou erros no sistema de autenticação que, por sua vez, impediu o acesso aos serviços que dependiam da conta Google. Nos bastidores, o Google possui um serviço de autenticação, a Gaia ("Administração de IDs e Contas Google", na sigla em inglês). Como usuário, você não interage diretamente com esse produto, mas ele é necessário para o funcionamento de toda a infraestrutura que depende de autorização. Riscos do armazenamento em 'nuvem' A estabilidade da infraestrutura do Google tem um histórico digno de elogios, mas acaba contribuindo para o "fator surpresa" em situações como esta. Embora não haja qualquer relato de que dados tenham sido perdidos desta vez, esse é um risco real para todos – seja no seu computador pessoal ou em um serviço on-line, na "nuvem". Como os serviços sempre estão on-line, é difícil de imaginar a possibilidade de tudo ficar inacessível ou cair de repente. Mas esse é um risco real e constante para qualquer serviço on-line, ou "em nuvem". A "nuvem", na internet, é apenas o computador de outra pessoa – nesse caso, os do Google. E, como qualquer computador, os sistemas do Google também quebram, dão problema, precisam de reposição ou sofrem com panes elétricas e de rede. Diante de ataques recentes como o vírus de resgate no Superior Tribunal de Justiça (STJ) e a invasão da rede da empresa de segurança FireEye, já começam a circular hipóteses (sem qualquer prova) de que a queda dos serviços do Google seria resultado da ação de hackers. Mas o fato é que há muitos outros problemas e dificuldades que podem derrubar serviços on-line – e nem é a primeira vez que o próprio Google sofre algum revés técnico. Outros casos Até problemas cotidianos podem se tornar desafiadores para empresas que precisam manter dezenas de milhares ou centenas de milhares de computadores funcionando 24 horas por dia. No fim de setembro, uma pane geral na infraestrutura de autenticação da Microsoft derrubou o acesso a diversos serviços, como o Teams e o e-mail do Outlook.com. Como todos eles dependem de credenciais para autenticação, os serviços da Microsoft não conseguiam confirmar que os usuários tinham autorização para acessar os serviços – e tudo parou de funcionar. Foi um caso parecido com o do Google, nesta segunda. No último dia 7, um problema de refrigeração tirou do ar diversos serviços, inclusive o aplicativo Caixa Tem. O erro foi causado por um rompimento de uma canalização em um data center da IBM – ou seja, uma interrupção no fornecimento de água derrubou diversos serviços e aplicativos. Já o Amazon Web Services (AWS), serviço de computação em nuvem da Amazon, enfrentou dificuldades técnicas no fim de novembro, derrubando diversos serviços que dependem da infraestrutura da empresa. O game de celular "Pokémon Go" ficou indisponível, bem como infraestruturas muito relevantes em determinados setores, inclusive na área médica. Como se precaver Antes de apostar em "ataques de hackers" como explicação para tudo, vale pensar um pouco nas consequências de um erro técnico ou dificuldades nessa teia intricada de sistemas que compõem os serviços que estamos acostumados a usar. Quedas em serviços conhecidos por sua estabilidade nos surpreendem, mas são normais e até corriqueiras. Na maioria das vezes, elas são breves e atingem um número reduzido de usuários. O problema do Google chamou atenção, desta vez, pela quantidade de pessoas afetadas – inclusive as organizações que pagam pelo Google Workspace, a linha empresarial do Google, ficaram sem acesso. Olhando pelo lado bom, o erro o erro durou apenas 45 minutos – o que não é algo que devemos achar natural. Em 2011, o Google teve de recuperar 150 mil contas a partir de fitas de backup após uma falha de software excluir esses dados dos sistemas regulares, criando uma indisponibilidade que durou até 30 horas para as contas atingidas. Você poderia ficar 30 horas sem a sua conta? Como sempre, a prevenção é o melhor remédio: tenha uma conta de e-mail em um provedor diferente para não perder todos os seus contatos nem ficar incomunicável; guarde uma cópia dos seus dados em outro lugar – de preferência, em um armazenamento local, como um pen drive ou HD externo. Se a internet toda cair, não vai adiantar ter seus dados em outro provedor de nuvem. Dúvidas sobre segurança, hackers e vírus? Envie para g1seguranca@globomail.com VÍDEOS: as notícias mais assistidas do G1