Resultado foi de alta de 7,7% no 3º trimestre de 2020, mas pandemia ainda atrapalha setores importantes a sair do buraco. PIB avança 7,7% entre julho e setembro, diz IBGE oo Depois de tombo histórico, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil retomou o campo positivo e cresceu 7,7% no 3º trimestre de 2020. Economistas consultados pelo G1 ponderam, contudo, que o resultado ainda é bastante desigual e beneficiado pelos programas de distribuição de renda durante a pandemia do novo coronavírus. O setor de Serviços, novamente, é exemplo da retomada discrepante. No trimestre, houve alta de 6,3% em relação ao período anterior, mas segue em queda de 4,8% em relação aos mesmos meses de 2019. PIBinho com cara de PIBão: 5 pontos para entender o ritmo de recuperação da economia Dentro da rubrica, há retomadas vigorosas e outras muito lentas. Atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados registra alta de 6,0%, enquanto a categoria de "Outras atividades de serviços" tem redução de 14,4%. Veja abaixo a opinião dos especialistas. PIB trimestre a trimestre Guilherme Luiz Pinheiro/G1 Silvia Matos, economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) Para Silvia Matos, a recuperação vista no 3º trimestre é resultado do esforço dos estímulos monetários e fiscais implementados pelo governo, além do natural crescimento por conta da reabertura da economia ao longo da pandemia. O Ibre/FGV previa crescimento de 7,4% no trimestre. A economista afirma que a revisão do PIB de 2019 feita pelo IBGE, de 1,1% para 1,4% no ano, deixou o sarrafo mais alto para que se chegasse no número, o que faz do resultado ainda melhor. "Se a recuperação não fosse forte seria preocupante. Em termo de política fiscal, o Brasil gastou como países desenvolvidos, não como os vizinhos latino-americanos", afirma Silvia. A economista chama atenção para a retomada desbalanceada da economia e foca no comparativo com o 3º trimestre de 2019. "Os serviços prestados às famílias continuam 14% abaixo do nível do ano passado. Mas apesar de má notícia, eu esperava um resultado pior", diz Para ela, é natural que esses serviços continuem em marcha lenta porque a pandemia ainda limita o consumo pleno do setor. Ainda no 3º trimestre, houve redução da mobilidade, bastante renda distribuída, e medo de sair. A equação continuou direcionando o holofote para o consumo de bens. "Além do Auxílio Emergencial, houve antecipação do 13º de R$ 50 bilhões para aposentados e pensionistas. Com menores transferências do governo e falta de recuperação do mercado de trabalho, teremos um freio de recuperação no 4º trimestre", diz a economista. Miriam Leitão comenta como deve ser o resultado do PIB do terceiro trimestre Gesner Oliveira, sócio da GO Associados O economista Gesner Oliveira acredita que o resultado confirma as expectativas de recuperação. Em sua análise, os repasses governamentais deram empuxo não só ao consumo diretamente, mas na Indústria de Transformação e na Formação Bruta de Capital Fixo, que forma parte dos investimentos empresariais. "O Auxílio Emergencial foi muito importante para o crescimento da construção, que teve desempenho acima de todas as expectativas com materiais e reformas da casa", diz o economista. "Outra contribuição grande para o período foi a flexibilização de regras trabalhistas pela MP de suspensão de salários, que manteve renda com a população", prossegue. Com base no resultado, a GO Associados fez simulações para o desempenho da economia no próximo trimestre. Apenas com carrego estatístico — isto é, sem crescimento real da economia —, a queda anual ficaria em 5% em 2020. Com crescimento da ordem de 2,3%, o Brasil chegaria a uma queda de 4,5%. No radar, estão a diminuição dos estímulos, com a redução das parcelas de R$ 600 para R$ 300 do auxílio, o encaminhamento da crise fiscal no país, e a segunda onda de Covid-19 no país. "Claro que a voz a ser ouvida é dos epidemiologistas, mas, mesmo no exterior, os fechamentos não parecem ser tão severos quanto os do 2º trimestre", afirma Oliveira. Thais Zara, economista-sênior da LCA Consultores A economista Thais Zara acredita que as revisões do PIB de 2019 e do 2º trimestre de 2020, divulgadas nesta quinta-feira (3) pelo IBGE, contribuem bastante para novos cálculos do saldo final deste ano de pandemia. "É possível notar que houve um comportamento de queda mais ameno da indústria, com queda menor do interanual", diz. "Do lado da demanda, vale ressaltar que queda do consumo das famílias foi bem menos intensa no 2º trimestre, de -13,5% para -12,2%. Continua sendo expressivo, mas no 3º trimestre temos queda de 6%, puxado pela reabertura progressiva da economia e pela sustentação do Auxílio Emergencial", prossegue Zara. De acordo com a economista, os resultados mostram mais claramente que o efeito do isolamento social ficou concentrado no 2º trimestre. A recuperação foi menos intensa porque ainda há um rescaldo de limitações para o setor de serviços, mas principalmente porque os números do mercado de trabalho, de população ocupada, continuam a se deteriorar. "É possível que tenhamos algum impacto de reorganização dos modelos de trabalho, mas é cedo para prever os impactos pós-pandemia", diz. 1xVelocidade de reprodução0.5xNormal1.2×1.5x2x VÍDEOS: Últimas notícias de Economia Initial plugin text