
Com quatro músicas inéditas, disco do artista pernambucano soa como carta endereçada ao caótico mundo de 2020. Capa do EP 'Querido caos,' de Igor de Carvalho Arte de Thiago Liberdade Resenha de EP Título: Querido caos, Artista: Igor de Carvalho Edição: Edição independente do artista Cotação: * * * * ♪ Primeiro lançamento fonográfico de Igor de Carvalho desde o álbum Cabeça coração (2019), um dos bons discos do ano passado, o EP Querido caos, tem vírgula ao fim do título. Essa vírgula dá outro sentido ao título e às quatro músicas inéditas deste disco endereçado pelo artista recifense como carta ao caótico mundo de 2020. No mercado fonográfico a partir de sexta-feira, 4 de dezembro, Querido caos, é EP impregnado de raiva, tensão e alguma esperança. O cantor e compositor expressa sentimentos fortes no repertório autoral, refletindo o nublado estado de espírito que tem dominado parte da humanidade neste ano de incertezas e sustos cotidianos. Contudo, nada soa banal, gratuito ou raso em Querido caos, – EP que confirma o talento sobressalente de Igor de Carvalho na vigorosa cena musical pernambucana. Já na primeira das quatro músicas do disco – Você se foi, primeira parceria de Igor com o poeta pernambucano Giuseppe Mascena – fica evidente o alto nível musical do EP, gravado com produção musical orquestrada por Rogério Samico. Samico divide a assinatura dos arranjos com o maestro e multi-instrumentista Henrique Albino. O arranjo de Você se foi, aliás, é estupendo por traduzir a atmosfera de tensão em que se ambienta a canção sobre disfunção amorosa. “A beleza do grito” e “O silêncio eloquente” mencionados na letra poética deixam entrever o ódio latente que ganha força na medida em que a faixa avança. Na sequência do EP, Com todo meu amor – música cantada por Igor com Alice Caymmi e previamente lançada em outubro, como single – dá prosseguimento à DR em gravação que se insinua como fado, resvala na cadência do samba e sugere a pulsação do reggae até restabelecer o clima inicial de fado. Com todo meu amor é composição de Igor em parceria com os conterrâneos Lula Queiroga e Juliano Holanda, outro talento sobressalente da cena pernambucana que reforçou em 2020 a parceria com Zélia Duncan, mote do próximo álbum da cantora, previsto para 2021. Já o rockabilly Fúria é composição somente de Igor, gravada com guitarras e com urgência que se afina com a angústia que permeia o EP Querido caos, e que está traduzida na expressiva arte criada por Thiago Liberdade para a capa do disco. “Vamos encurtar a história”, propõe Igor em verso de Fúria. No arremate do EP, Elixir – outra canção de Igor com o parceiro Juliano Holanda – acalma os ânimos com certa doçura que entrevê luz no fim do túnel existencial. É como se, ao fim da carta endereçada ao caos, Igor Carvalho reconhecesse que o tempo é o elixir curativo que dilui as fúrias e as tensões ocasionais que geraram o vigoroso EP do artista.