
Com um dos melhores roteiros do ano e atuações impecáveis, filme que estreia em cinemas nesta quinta (19) conta história de escritor da produção de Orson Welles. Em menos de 20 minutos, é possível perceber que "Mank" é um dos melhores roteiros de 2020. Ao final da história dirigida por David Fincher ("Garota exemplar"), não dá para negar que é um dos melhores filmes dos últimos anos. A produção estreia em cinemas brasileiros nesta quinta-feira (19) e na Netflix em 4 de dezembro. Assista ao trailer de 'Mank' Com a ajuda de um elenco inspirado pela atuação de um Gary Oldman ("O destino de uma nação") no auge, o cineasta foca nos bastidores pouco conhecidos da obra-prima de Orson Welles, "Cidadão Kane" (1941), mas também entrega um novo clássico. Tudo isso com uma fotografia em preto e branco belíssima e diálogos construídos por frases de efeito com tamanha maestria que transcendem o clichê para formar um possível concorrente poderoso ao Oscar. Cidadão Mank Inspirado em fatos, mas sem compromisso com um retrato fiel da realidade, "Mank" acerta ao se aprofundar na história do roteirista Herman J. Mankiewicz (Oldman) e ir além da parceria complexa com Welles (Tom Burke), que aparece de forma passageira na trama, para a realização de "Cidadão Kane". Com isso, o filme pega emprestado o formato não linear do clássico para retratar momentos marcantes de uma vida que se confunde com a história do cinema entre as décadas de 1920 e 1940, e mostrar que tem um protagonista tão grandioso – ou pelo menos interessante – quanto Charles Foster Kane. Tom Burke e Gary Oldman em cena de 'Mank' Divulgação/Netflix Entre idas e vindas, o público acompanha seus problemas com a bebida e com apostas e sua relação com figuras poderosas como chefes de estúdios. Com paciência e cuidado, o enredo desvenda aos poucos o mistério de como a amizade improvável entre o beberrão desbocado e o magnata de mídia William Randolph Hearst (Charles Dance) se transformou no roteiro sobre um certo cidadão sedento por poder. A produção ainda encontra espaço para dar voz a outras personagens esquecidas no sucesso da obra de Welles, como a da atriz Marion Davis (Amanda Seyfried), jovem amante de Hearst, e de Rita Alexander (Lily Collins), secretária que ajudou Mankiewicz a escrever depois de um acidente de carro. Charles Dance em cena de 'Mank' Divulgação/Netflix Ingredientes poderosos Com fotografia fiel à época e uma história fundamentalmente humana, "Mank" é talvez o filme menos marcado pelo estilo de Fincher em sua carreira, celebrada por obras de linguagem única como "Seven: Os sete crimes capitais" (1995) e "Clube da luta" (1999). A escolha talvez seja explicada pelo roteiro, assinado pelo pai do cineasta, Jack Fincher, antes de sua morte em 2003. O respeito pelo texto é acompanhado por uma devoção às atuações, encabeçadas por Oldman, em um dos melhores trabalhos de uma carreira repleta de personagens inesquecíveis. Sob o olhar do diretor, o britânico tem espaço para elevar as performances de todos a seu redor, com um desempenho desenfreado e autodestrutivo, mas doce e carismático, tudo ao mesmo tempo, como apenas alguém no ápice de sua arte conseguiria. Arliss Howard e Amanda Seyfried em cena de 'Mank' Divulgação/Netflix Entre um elenco notável se destaca também Seyfried, que dá a Davies uma sagacidade contida indispensável para equipará-la a Mankiewicz, e justificar o carinho entre dois personagens tão distintos, um dos pontos centrais da trama. "Mank" mostra como um roteiro impecável é a base de atuações brilhantes – e prova o poder explosivo da mistura desses dois ingredientes quando bem utilizados. Ao partir da celebração de um dos maiores clássicos do cinema, o filme se torna algo mais: uma homenagem ao próprio ofício de contar histórias em duas horas e alguns trocados. Gary Oldman em cena de 'Mank' Divulgação/Netflix