Dueto com filho de Caetano Veloso em música de 1967 é bela amostra do álbum revisionista que a cantora lança em 2021. Capa do single 'Nenhuma dor', de Gal Costa e Zeca Veloso Divulgação Resenha de single Título: Nenhuma dor Artistas: Gal Costa e Zeca Veloso Compositores: Caetano Veloso e Torquato Neto Edição: Biscoito Fino Cotação: * * * * ♪ É simbólico que Zeca Veloso tenha sido o cantor convidado por Gal Costa para interpretar a canção Nenhuma dor com a artista no álbum em que Gal revisita dez músicas do próprio repertório em duetos com elenco masculino. Zeca é filho de Caetano Veloso, mentor da carreira da cantora e parceiro do poeta e letrista Torquato Neto (1944 – 1972) na composição dessa canção apresentada na voz de Gal Costa no álbum Domingo, produzido por Dori Caymmi. Neste disco lançado em 1967 e dividido por Gal com Caetano, a cantora deu voz a oito músicas do compositor, nome dominante nos créditos das 12 faixas. Na gravação original do LP Domingo, Nenhuma dor acentuou o tom melancólico do disco em gravação em que ouve-se somente a voz de Gal e o violão de Dori. Ao contrário do que faz supor o título, a canção é triste, embora doce, e soa como súplica do poeta para que ele e a namorada se desviem do caminho da dor. Na releitura de 2020, lançada em single pela gravadora Biscoito Fino nesta sexta-feira, 13 de novembro, Gal se afina com Zeca Veloso nos melancólicos tons menores da canção. Zeca é produtor do fonograma, em crédito dividido com Felipe Pacheco Ventura, criador do arranjos de cordas. Os violinos de Ventura e os violoncelos de Marcus Ribeiro encorpam a gravação, mas o instrumento condutor do arranjo é o violão tocado por Zeca Veloso. Na primeira gravação como cantor feita fora do clã dos Veloso, Zeca se confirma intérprete capaz de atingir densas regiões emocionais com a voz aguda que, posta em falsete no início da gravação, se abranda e se harmoniza com o canto terno de Gal na metade final do single, como segunda voz. O contracanto de Zeca sugere a angústia que pede Nenhuma dor, canção até então nunca regravada por Gal desde 1967. E a escolha dessa canção para esse revisionista álbum gravado pela cantora em estúdio – sob a direção artística de Marcus Preto – sinaliza disco fora do trilho óbvio e da linha geralmente preguiçosa e populista de projetos do gênero. Tal impressão é reforçada pela iluminada abordagem da canção Avarandado (Caetano Veloso, 1967) feita por Gal com Rodrigo Amarante e lançada em single simultaneamente com a gravação de Nenhuma dor. Se os próximos oito singles do disco (previstos para serem apresentados até o fim de janeiro), mantiverem o alto nível artístico dessas duas amostras iniciais, Gal Costa lança em fevereiro, em LP e CD, álbum à altura da importância dessa cantora referencial na música brasileira.