Para o mercado, futuro presidente não terá margem para promover mudanças significativas nas políticas públicas que afetam grandes empresas. Wall Stree é a sede das principais bolsas de NY como a New York Stock Exchange (NYSE) Reuters Em meio à disputa acirrada entre o republicano Donald Trump e o democrata Joe Biden, bolsas de valores nos Estados Unidos registraram seu maior salto pós-eleição em décadas. Em outras regiões do mundo, os mercados também estão em alta. Ainda à espera do resultado final sobre quem vai chefiar a maior economia do mundo, por que estamos vendo pregões mais fortes? Em poucas palavras: porque o mercado acredita que o futuro presidente não terá margem para promover mudanças significativas nas políticas públicas que afetam grandes empresas. Isso, segundo os analistas, traria menos incerteza para os negócios. Bovespa fecha em alta com atenções voltadas às eleições nos EUA Na quarta-feira (04/11), dia seguinte ao dia das eleições dos EUA, as ações subiram à medida que os investidores apostavam que os resultados mais apertados do que o projetado dias atrás reduzem a chance de o novo presidente conseguir implementar mudanças capazes de afetar as empresas de forma significativa. Sócio-fundador da consultoria financeira EM Funding, em Londres, Wilber Colmerauer, diz que há uma certa sensação de "alívio" no mercado. Ele alerta que é preciso cuidado na análise de muito curto prazo, mas compara as projeções de dias atrás (de que Biden ganharia com folga) com a realidade, ainda no meio da apuração, de que Biden segue favorito, mas com uma diferença apertada nos votos: "Projetava-se que Biden ia ganhar, teria a tal da onda azul, ele ia poder de fazer o que bem entendesse. E havia certo medo no mercado de que um governante novo, democrata, que tinha feito alguns acordos com área mais à esquerda do partido poderia estar mais tentado a sair colocando impostos, fazendo uma agenda que fosse só dele", diz. "E o que estamos vendo é uma eleição mais apertada. Ninguém vai ter carta branca para sair fazendo o que quiser. E, no meio de uma crise econômica e de uma pandemia, é importante que decisões sejam contestadas. Não se quer ninguém com carta branca pra fazer o que acha melhor." Bolsa de Valores de São Paulo sobe 1,97% Sem mudanças radicais Entre as propostas de Biden que o mercado financeiro considera negativas, está o aumento de impostos para empresas. Um governo sem maioria folgada reduziria as chances de essas propostas serem aprovadas e realmente entrarem em vigor. O motivo para essa expectativa de uma espécie de redução no poder do futuro presidente está no resultado também apertado da eleição para o Legislativo — mais especificamente no Senado, hoje controlado pelos republicanos. Até a manhã desta quinta-feira (05/11), democratas e republicanos estavam empatados, com 48 senadores eleitos de cada lado. Eleições nos EUA: por que país usa colégio eleitoral em vez de voto direto para escolher presidente Economista-chefe da FHN Financial, Chris Low diz que deve ser um governo dividido, independentemente de quem assumir a Casa Branca. "Isso significa muito menos probabilidade de radicais mudanças legislativas, grandes gastos ou programas fiscais e, portanto, muito menos incerteza." Na quarta-feira, o índice Dow Jones subiu mais de 1,3%, enquanto o S&P 500 aumentou 2,2% e o Nasdaq subiu quase 3,9%. Essas altas ocorrem, no entanto, depois de fortes quedas na semana anterior. No S&P 500 e Dow, os ganhos foram os maiores em um único dia após uma eleição presidencial em pelo menos quatro décadas. As empresas de tecnologia e saúde, agora vistas como menos propensas a enfrentar novas regulamentações, lideraram os ganhos. As ações do Facebook subiram mais de 8%, enquanto várias grandes seguradoras de saúde tiveram saltos de dois dígitos. Os índices na Europa também fecharam em alta, voltando depois de uma queda acentuada após o discurso prematuro da vitória do presidente Trump. A maioria dos mercados asiáticos também subiu. No Brasil, o Ibovespa também fechou em alta na quarta-feira e abriu em alta nesta quinta-feira. Mesmo com resultado indefinido nas eleições dos EUA, mercados estão otimistas Judicialização Agora, o mercado está atento a uma possível judicialização da eleição dos EUA. Ainda nas primeiras horas da quarta-feira, Trump se declarou vencedor da eleição e disse que iria à Suprema Corte para contestar o que ele chamou de "fraudes", sem qualquer evidência sobre essas acusações. "Isso é uma fraude para o público americano. Isso é uma vergonha. Nós íamos vencer essas eleições… Francamente nós vencemos as eleições", afirmou Trump em discurso na Casa Branca, televisionado às 4h20 no horário de Brasília. Trump defende paralisar a contagem dos votos e contesta principalmente as cédulas enviadas pelos correios. Wilber Colmerauer considera que o processo de judicialização, por enquanto, está sob controle, mas que representa grande risco. "As instituições americanas são fortes e está sendo dado voto de confiança de que até algumas pessoas do próprio partido republicano vão controlar isso. Por que o de Trump é forte. Se fosse por ele, não tenho dúvida de que tentaria fazer mais confusão, que é o que ele gosta de fazer", diz. "É o preço da confusão que o mercado está agora querendo medir." VÍDEOS: Últimas notícias de Economia