Especialistas questionam se produto é exaltação cultural ou exploração monetária. Segunda edição da Barbie Dia dos Mortos causa polêmica Alfredo Estrella/AFP A artista plástica e colecionadora Zoila Muntané tem cerca de 2.000 Barbies. Sua coleção inclui edições exclusivas e, agora, uma nova versão cadavérica dedicada ao Dia dos Mortos, que alguns criticam por monetizar a maior tradição cultural do México. Com vestido rosa e enfeites típicos das comemorações de 1º e 2 de novembro, a segunda edição do famoso brinquedo "comemora o México, sua festa, seus símbolos e sua gente", afirma a fabricante Mattel. É uma adaptação da "Catrina", ou "Calavera Garbancera", criada pelo cartunista José Guadalupe Posada em 1912. Sociólogos afirmam, contudo, que essa Barbie transformada em um esqueleto elegante, com características da famosa pintora mexicana Frida Kahlo, é apenas mais um caso de "apropriação cultural" para fins comerciais. Colecionadora Zoila Muntane posa com edição 2020 da Barbie de Dia dos Mortos Alfredo Estrella/AFP A Barbie Catrina "está relacionada a fluxos migratórios que agora são muito mais marcantes", disse à AFP Librada Moreno, socióloga e acadêmica da Universidade Nacional Autônoma do México. Essa boneca é "fruto de uma hibridização cultural, entre o que existe do outro lado da fronteira (nos Estados Unidos) e o que está aqui", completa. Os críticos da apropriação cultural alertam para o risco de distorção de tradições, símbolos e outros elementos transformados. Um ponto de vista que pode se chocar com a liberdade criativa. Moreno lembra que, nos Estados Unidos, onde vivem 36 milhões de mexicanos, ou seus descendentes, cada vez mais se incorporam as tradições do vizinho latino-americano. A Barbie do Dia dos Mortos, que custa em torno de 72 dólares, cerca de R$ 405, usa neste ano um vestido de renda rosa, e seu rosto pálido é detalhado em cores brilhantes. Em 2019, ela se vestiu de preto. No ano passado, o look da boneca era todo preto com detalhes coloridos. Seu criador, o mexicano-americano Javier Meabe, diz que buscou "criar mais consciência sobre a festa" que, segundo as lendas indígenas, marca o retorno do morto ao mundo dos vivos para ser homenageado com oferendas em casas e túmulos. Versões 2019 (esquerda) e 2020 da Barbie Dia dos Mortos Alfredo Estrella/AFP Considerado o festival mais representativo do México, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) declarou o Dia dos Mortos Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, em 2003. Sucesso da Disney Para o sociólogo Roberto Álvarez, essa celebração "deveria ser um tema solene", mas se tornou um evento comercial nos Estados Unidos desde o grande sucesso do filme da Disney Pixar "Viva: a vida é uma festa" (2017) e, anteriormente, com "007 contra Spectre" (2015), da saga James Bond. A Barbie Dia dos Mortos é a quarta edição desta boneca inspirada no México, depois da Catrina, de 2019, e das dedicadas à jogadora de golfe Lorena Ochoa e a Frida Kahlo. Barbie comemora 60 anos investindo na diversidade das bonecas A boneca da pintora não pôde ser vendida no México, porque a família de Kahlo considerou que a imagem da boneca não correspondia à da artista. Desde seu lançamento em 1959, Barbie vendeu mais de 1 bilhão de cópias de seus muitos estilos e profissões. VÍDEOS: Semana Pop explica temas do entretenimento