Cantora regrava três músicas que, encadeadas no disco, ganham mais sentido no momento atual da humanidade. Capa do EP '10:39', de Sandy Arte de Thainan Castro Resenha de EP Título: 10:39 Artista: Sandy Gravadora: Universal Music Cotação: * * * * ♪ Há dez anos, ao apresentar o primeiro álbum solo, Manuscrito (2010), Sandy Leah cantou sob o estado transitório das coisas boas e más da vida. Tudo passa, ressaltou a cantora e compositora paulista nos versos de Tempo (2010), parceria de Sandy com Lucas Lima. Uma das boas músicas de álbum irregular, Tempo faz ainda mais sentido no mundo de 2020. Assim como também faz sentido que Tempo seja a última das três músicas cantadas por Sandy no EP 10:39, disco lançado pela artista nesta quarta-feira, 14 de outubro, com capa que expõe a cantora em ilustração de Thainan Castro. O título 10:39 alude ao tempo total de duração das três gravações inéditas que compõem o EP. Além do sentido adicional adquirido em ano marcado por pandemia que tem deixado o mundo em estado letárgico de alerta e tensão, Tempo – a canção – ganha vida em arranjo que se insinua épico ao fim do registro que encerra o disco. No conjunto das três canções do EP, que deve ser ouvido na ordem das faixas, no entendimento de Sandy, Tempo deixa a mensagem final tão óbvia quanto acalentadora – “Isso também vai passar” – na pequena viagem emocional do disco. Em 10:39, Sandy inventaria tensões e emoções reais da humanidade neste turbulento ano de 2020. E acerta na escolha das duas regravações de músicas de lavras alheias que a conduzem nessa jornada musical e emotiva. Música apresentada em outubro de 2013 como primeiro single do álbum Amianto (2014), da banda capixaba Supercombo, Piloto automático (Léo Ramos, Carol Navarro, Paulo Vaz, Raul de Paula, Pedro Toledo, 2013) é composição conhecida por Sandy quando ela foi jurada do programa de TV Superstar (TV Globo). Em Piloto automático, o grupo de Vitória (ES) rascunha inquieto balanço de uma vida – em linha parecida com a da canção Epitáfio (Sergio Britto, 2001), dos Titãs – com o reconhecimento dos limites de cada ser humano na viagem. “Fácil de falar, difícil fazer”, reitera Sandy no refrão da música interpretada como balada de clima meio etéreo na gravação que abre o EP. Entre Piloto automático e Tempo, há Lua cheia (Pedro Viáfora, 2018), música do último álbum de estúdio do grupo paulistano 5 a Seco, Síntese (2018). Versando sobre inseguranças e angústias cotidianas, Sandy ilumina Lua cheia em registro que cresce e fica aliciante no refrão em que o autor da canção propõe boas vibrações para diluir os abalos de mundo contaminado por ódios e medos. Mesmo sem densidade na voz para sempre delicada e juvenil, a cantora dá o recado e aproveita bem o tempo de EP que gera filme gravado em haras do interior do estado de São Paulo – sob direção de Douglas Aguillar – e roteirizado a partir do encadeamento dos clipes dessas três músicas que fazem todo o sentido no disco gravado por Sandy em casa, com o marido Lucas Lima e com a participação remota de outros (poucos) músicos. Pela coesão e pelo sentido que faz em 2020, o EP 10:39 é o melhor título da discografia solo de Sandy.