Elis Regina canta 'Arrastão' em festival de 1965 Reprodução / Vídeo Resenha de série documental de TV Título: Noites de festival – Episódio 1 Direção e roteiro: Renato Terra e Ricardo Calil Exibição: Canal Brasil Data: 14 de outubro de 2020 Cotação: * * * 1/2 ♪ Desdobramento do documentário Uma noite em 67, filme de 2010 em que os cineastas Renato Terra e Ricardo Calil descortinaram os efervescentes bastidores do III Festival de Música Popular Brasileira, a série Noites de festival extrapola a histórica competição de 1967 e é dedicada à memória de Zuza Homem de Mello (1933 – 2020), pesquisador musical que escreveu o livro, A era dos festivais – Uma parábola (2003), que serviu de guia para o roteiro do filme. Estruturada em seis episódios a serem exibidos semanalmente pelo Canal Brasil às quartas-feiras, a série documental funciona como spin-off do filme e tem direção e roteiro assinados por Terra e Calil. O primeiro episódio foi ar na noite de hoje, 14 de outubro, com foco no I Festival de Música Popular Brasileira – exibido em 1965 pela TV Excelsior – e no I Festival Internacional da Canção (FIC), promovido pela TV Rio em 1966. O primeiro foi vencido pela música Arrastão (Edu Lobo e Vinicius de Moraes, 1965) na voz de Elis Regina (1945 – 1982). O depoimento de Sérgio Cabral mostra como o gestual grandiloquente da cantora, na defesa da música, contribuiu para que Elis arrastasse multidões para a TV e para os auditórios, dando início à era dos festivais. Já o FIC de 1966 foi vencido por Saveiros (Dori Caymmi e Nelson Motta, 1966), música que os compositores tentaram em vão classificar no festival de 1965, como revela Nelson Motta, autor da letra. Ao ser declarada a vencedora, Saveiros foi apresentada debaixo de vaias, na voz de Nana Caymmi, em ginásio carioca. O depoimento da cantora, que relativiza a vaia e lembra que o maior prêmio para ela foi o dinheiro recebido pela vitória da música, é um dos trunfos do primeiro episódio pela habitual sinceridade de Nana. “Saí dona do mundo”, lembra Nana. Mesmo sem a fluência do documentário original, o episódio inicial da série Noites de festival mostrou como se estruturou a cena dos festivais. Em depoimento lúcido, Ferreira Gullar (1930 – 2016) sentenciou que os festivais foram frutos de efervescente realidade musical, e não o contrário. Zuza Homem de Mello, cujo depoimento perpassa e legitima todo o episódio inicial pelo conhecimento histórico, corroborou tal pensamento e aponta o maior catalisador involuntário da cena: João Gilberto (1931 – 2019). Foi João, ao sintetizar a bossa nova, quem inspirou toda uma geração posterior de compositores, como Chico Buarque, também ouvido neste primeiro episódio da série Noites de festival. Mas nada teve mais valor nesse episódio do que ver e ouvir Elis Regina apresentando Arrastão, na íntegra, na semifinal do festival de 1965 que detonou movimento musical que gerou a MPB. A exibição do número de Elis referendou o clichê de que uma imagem vale por mil palavras.