Rentabilidade do sistema financeiro caiu para 11,2% no primeiro semestre de 2020, em comparação com 17,8% no mesmo período do ano anterior, aponta relatório. O lucro líquido das instituições financeiras somou R$ 40,8 bilhões no primeiro semestre deste ano, o que representa uma queda de 31,9% em relação ao mesmo período de 2019, informou nesta quinta-feira (15) o Banco Central por meio do Relatório de Estabilidade Financeira.
Segundo a instituição, o recuo do lucro dos bancos nos seis primeiros meses deste ano está relacionado com os efeito da pandemia da Covid-19, com impacto a partir de março.
Refletindo a queda do lucro líquido, informou o BC, a rentabilidade do sistema financeiro caiu para 11,2% no primeiro semestre de 2020, em comparação com 17,8% no mesmo período do ano anterior, uma queda de 6,6 pontos percentuais.
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"A rentabilidade dos bancos apresentou forte redução, notadamente em razão do aumento das despesas com provisões (recursos apartados no balanço para fazer frente a eventuais perdas)", informou o BC.
Segundo a instituição, o nível de provisões para fazer face a perdas esperadas com "ativos problemáticos" é um dos mais elevados desde o final de 2014.
O BC acrescentou que a pandemia também afetou as receitas de serviço, porém com efeitos menos relevantes sobre o resultado dos bancos.
A instituição ressaltou, porém, que a pandemia eclodiu em um momento em que a rentabilidade bancária já havia se recuperado dos efeitos da recessão de 2015 e de 2016, o que "permitiu a absorção de despesas com provisão em nível semelhante ao observado durante aquela recessão, sem transtornos para o sistema".
Por conta disso, o BC avaliou que, mesmo com a queda, a rentabilidade do sistema "permanece em patamares que não representam risco significativo para a estabilidade financeira".
"Os níveis de rentabilidade atuais continuam em patamares que permitem aos bancos manterem os índices de capital adequados e o suprimento de crédito à economia real", acrescentou.
Expectativa para o futuro
Segundo o BC, a expectativa para o segundo semestre deste ano é de estabilidade da rentabilidade do sistema.
"Essa perspectiva está ancorada, sobretudo, na possibilidade de menor necessidade de provisionamento, na queda do custo de captação e na recuperação gradativa da atividade econômica", informou.
No entanto, também avaliou que a "incerteza quanto ao cenário para 2021 continua elevada".
"O cenário deve ficar mais claro conforme as medidas temporárias de combate à crise (tais como os prazos de carência concedidos pelas IFs em operações de crédito e os auxílios emergenciais) forem sendo removidas, o que permitirá ter uma dimensão mais precisa sobre os efeitos da pandemia da Covid-19 na inadimplência do sistema", concluiu.
Medidas adotadas
O BC avaliou ainda que as medidas adotadas pelo governo "foram importantes para preservar a solvência e a resiliência do sistema bancário no enfrentamento dos efeitos adversos da Covid-19 e para permitir que o Sistema Financeiro Nacional (SFN) atravessasse o período agudo de estresse, sempre com baixo risco de liquidez".
Em março deste ano, o BC divulgou as principais medidas de combate aos efeitos da pandemia, com liberação de recursos ao sistema financeiro. Ao todo, mais de R$ 1,2 trilhão foi liberado.
Informou, ainda, que a atualização do chamado "teste de estresse" (simulações para testar eventuais problemas no sistema financeiro) para estimar os efeitos do choque da Covid-19 nos agentes da economia real demonstra "impacto expressivo, porém menor" que o publicado relatório de estabilidade financeira anterior, de abril deste ano.
"O fator que mais contribui para essa melhora foi a recuperação dos fluxos de recebimento de vários setores da economia até agosto de 2020, após a queda acentuada em abril e maio. Esses resultados corroboram a capacidade do sistema financeiro nacional para absorver os choques provenientes dos efeitos da pandemia, mesmo sob hipóteses severas", concluiu.