Capa do EP 'Tempo de romance', de Chitãozinho & Xororó Divulgação Resenha de EP Título: Tempo de romance Artistas: Chitãozinho & Xororó Gravadora: Onda Musical Cotação: * * * ♪ Em cena desde 1970, Chitãozinho & Xororó pretendiam comemorar os 50 anos de carreira ao longo de 2020. A pandemia atrapalhou os planos da dupla paranaense formada pelos irmãos José Lima Sobrinho (o Chitãozinho) e Durval Lima (o Xororó), nascidos em Astorga (PR) – em 1954 e em 1957, respectivamente – e residentes em Campinas (SP) desde a década de 1980. Haveria turnê pelo Brasil com show inédito e também haveria livro, entre outros produtos e eventos comemorativos. Na prática, somente o EP Tempo de romance – lançado nesta sexta-feira, 25 de setembro – acabou sendo concretizado no rastro de algumas lives da dupla. Ainda assim, as cinco gravações do disco sintetizam os caminhos percorridos por Chitãozinho & Xororó nestas cinco décadas em trajetória atrelada às mudanças da música sertaneja. Iniciado no alvorecer da década de 1970, o paulatino processo de urbanização do som sertanejo passa necessariamente pelas vozes desses irmãos que logo aderiram à eletrificação do gênero. Na configuração do repertório do EP Tempo de romance, a gravação da música Eu voltei pro mato (Elias Mafra, Gabriel Rocha, Leandro Visacre, Lucas Carvalho, Luigi, Willian Dos Santos e Xororó) simboliza a evocação das raízes caipiras pelo toque da viola manuseada por Xororó. Já Nosso terceiro cachorro (Xororó, Hudson Cadorini, Cristian Luz, Alex Torricelli e Vitor Cadorini) – faixa que anunciou o EP ao ser apresentada em maio – representa a balada sentimental turbinada com teclados, guitarra, baixo e bateria dentro do padrão pop do mercado de música urbana romântica. A propósito, a balada Corações rebeldes (Jairinho Delgado) bate no EP com direito a solo de guitarra de Fernando Zor, um dos arranjadores do disco ao lado de Claudio Paladini e Gabriel Pascoal. Chamariz do EP Tempo de romance, por ser a única gravação inteiramente inédita do disco, a abordagem da balada Imagina (José Augusto e Bruno Caliman, 2014) rebobina o flerta da dupla com a música country norte-americana, evidenciado sobretudo nos anos 1990, década em que, contratados por gravadora multinacional em 1989, Chitãozinho & Xororó invadiram centros urbanos até então refratários à música sertaneja, como a cidade do Rio de Janeiro (RJ). Dessa época em que os irmãos eram “os meninos do Brasil”, a dupla revira Página virada (José Augusto e Paulo Sérgio Valle, 1989) com a dupla Jorge & Mateus – vozes do sertanejo universitário dos anos 2000 – nesse EP que indica que, por mais que a música sertaneja tenha sofrido mutações e gerados outros ídolos, o tempo de Chitãozinho & Xororó ainda não passou totalmente.