Levantamento mostra que quanto menor a qualidade da alimentação no domicílio, maior é o consumo de arroz, sobretudo para as famílias em situação de fome. Quanto maior a restrição no acesso à alimentação de qualidade, maior a demanda por itens básicos, como arroz Reprodução/TV TEM Um levantamento divulgado nesta quinta-feira (17) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) dimensiona a relevância do arroz na alimentação dos brasileiros quanto a qualidade alimentar. No geral, quanto mais restrito é o acesso pleno e regular a alimentos, maior a necessidade de consumo do cereal. Em 5 anos, cresce em 3 milhões o nº de pessoas em situação de fome no país, diz IBGE Brasileiros gastam mais com jogos e apostas que com arroz, aponta IBGE Arroz e óleo mais caros: entenda por que a inflação dos alimentos disparou no país O levantamento foi realizado entre junho de 2017 e julho de 2018, quando o arroz, que é um dos alimentos mais consumidos no Brasil, ainda não sofria com aumento de preços como o observado desde agosto de 2020. Nesta pesquisa, o IBGE buscou investigar a situação alimentar nos domicílios brasileiros. O órgão classificou como segurança alimentar o acesso pleno e regular aos alimentos de qualidade – em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais. Já a restrição no acesso à alimentação de qualidade foi classificada como insegurança alimentar, dividida em três níveis: Insegurança alimentar leve: há preocupação ou incerteza quanto acesso aos alimentos no futuro, além de queda na qualidade adequada dos alimentos resultante de estratégias que visam não comprometer a quantidade de alimentação consumida. Insegurança alimentar moderada: há redução quantitativa no consumo de alimentos entre os adultos e/ou ruptura nos padrões de alimentação. Insegurança alimentar grave: há redução quantitativa de alimentos também entre as crianças, ou seja, ruptura nos padrões de alimentação resultante da falta de alimentos entre todos os moradores do domicílio. Nessa situação, a fome passa a ser uma experiência vivida no lar. Além de identificar o aumento no número de pessoas que passam fome no país e quantificar os domicílios por tipo de situação alimentar, o IBGE investigou a demanda por alimentos de acordo com a condição da alimentação no lares brasileiros. Duas variáveis foram usadas para esta análise: a despesa financeira com cada item alimentar e a quantidade consumida anualmente para cada produto. "Quando a gente olha por dentro as despesas com alimentação, percebemos que os domicílios com insegurança grave trabalham com itens básicos de alimentação, enquanto aqueles com segurança alimentar consomem produtos diversos e mais caros", apontou o gerente da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do IBGE, André Luiz Martins Costa. Em média, a despesa mensal familiar com arroz foi de R$ 12,79 em 2018. Nos domicílios com acesso pleno e regular à alimentação, essa média caía para R$ 11,32, enquanto entre as famílias com algum tipo de insegurança alimentar essa média subia para R$ 15,35 – R$ 3,03 a mais que o desembolsado nos lares que contavam com alimentação de qualidade e em quantidade suficiente. Entre os três níveis de restrição alimentar, o maior gasto médio com arroz foi observado entre as famílias com insegurança alimentar moderada (R$ 15,79). Para o grupo com insegurança grave, que caracteriza a situação de fome, a média foi um pouco menor, de R$ 15,01. A mesma situação foi observada quanto ao gasto com feijão. A média do gasto familiar com este tipo de grão foi de R$ 5,92, sendo que as famílias com segurança alimentar gastavam, na média, R$ 5,33, enquanto entre as famílias com algum tipo de restrição alimentar essa média de gasto foi de R$ 7,31. O maior gasto com feijão foi observado entre as famílias com insegurança moderada (R$ 7,75), R$ 0,10 a mais que o desembolsado pelas famílias com insegurança grave (R$ 7,65). Levantamento mostra a diferença do gasto familiar mensal com produtos alimentícios entre famílias com acesso pleno à alimentação daquelas com restrições alimentares Economia/G1 Para legumes e verduras, as famílias com segurança alimentar gastavam R$ 18,25, mais que o dobro do desembolsado por aquelas com restrição severa à alimentação, cujo valor médio foi de R$ 8,93. O mesmo foi observado no gasto com frutas (R$ 27,43 e R$ 9,93, respectivamente) e com leites e derivados (R$ 53,30 e R$ 21,69). O oposto acontecia quando observado o gasto médio com produtos alimentícios mais caros, como as carnes, legumes e verduras, frutas, leites e derivados. As famílias com segurança alimentar desembolsam valor superior à aquelas com algum tipo de restrição alimentar e até mais que o dobro daquelas em situação de fome. Enquanto as famílias com acesso pleno e regular a alimentos gastavam, na média, R$ 94,98 com carnes vísceras e pescados, a média do gasto das famílias com insegurança alimentar caía para R$ 75. Entre aquelas em situação de fome esta média caía ainda mais, chegando a R$ 65,12. Para legumes e verduras, as famílias com segurança alimentar gastavam R$ 18,25, mais que o dobro do desembolsado por aquelas com restrição severa à alimentação, cujo valor médio foi de R$ 8,93. O mesmo foi observado no gasto com frutas (R$ 27,43 e R$ 9,93, respectivamente) e com leites e derivados (R$ 53,30 e R$ 21,69). A diferença de gastos é ainda maior quando comparados produtos considerados supérfluos. Para aquisição de azeite de oliva, por exemplo, as famílias com segurança alimentar gastavam em média R$ 2,55, contra R$ 0,67 da média gasta pelas famílias com algum tipo de insegurança alimentar. Para refrigerantes, a média foi de, respectivamente, R$ 13,87 e R$ 7,60, enquanto com cervejas e chopes foi de R$ 12,61 e R$ 4,40. Alta do arroz: entenda por que o alimento ficou tão caro Maior gasto, maior quantidade Além de desembolsarem mais com itens básicos de alimentação, as famílias com algum tipo de restrição alimentar também consumiam quantidades maiores destes produtos. “Os alimentos básicos, como arroz e feijão, são mais relevantes, tanto em relação a valor quanto à quantidade, em domicílios em situação de insegurança alimentar”, enfatizou o analista da pesquisa, José Mauro de Freitas Júnior. De acordo com o levantamento do IBGE, quanto maior a gravidade da insegurança alimentar no domicílio, maior é a aquisição de três grupos de alimentos específicos: os cereais e leguminosas, as farinhas, féculas e massas, e os pescados. O consumo alimentar domiciliar per capita anual de cereais e leguminosas foi, em média, de 26,7 kg para as famílias com segurança alimentar, enquanto para aquelas em situação de fome consumiam cerca de 2 kg a mais – 29,6 kg por ano. Já para farinhas, féculas e massas, a média de consumo anual domiciliar per capita foi de 11,9 kg para as famílias com acesso pleno e regular à alimentação adequada, enquanto para aquelas com restrição severa essa média subia para 13,1 kg. Famílias com restrição alimentar consomem maiores quantidades de itens básicos de alimentação Economia/G1 O consumo de pescados, por sua vez, foi em média de 2,3 kg por ano entre as famílias em segurança alimentar, enquanto aquelas em situação de fome a média foi superior ao dobro, chegando a 5,2 kg. No sentido oposto, o IBGE observou que houve menor aquisição alimentar domiciliar per capita anual de hortaliças, frutas, e produtos de confeitaria, entre outros, entre as famílias com insegurança alimentar na comparação com aquelas em situação de segurança. Para as hortaliças, a média de consumo anual foi de 28,2 kg para as famílias em segurança alimentar, contra 13,1 kg para aquelas com insegurança grave. Para frutas, as médias de consumo foram, respectivamente, de 33 kg e 11,3 kg. Para produtos de confeitaria, a diferença foi ainda maior – cerca de 3 kg para as famílias com acesso pleno e regular à alimentação contra 0,85 kg para aquelas em situação de fome.