Capa do álbum 'O líder em movimento', do rapper carioca Abebe Bikila, conhecido como BK Divulgação Resenha de álbum Título: O líder em movimento Artista: Abebe Bikila (BK) Gravadora: Pirâmide Perdida Records Cotação: * * * * * ♪ Rapper carioca de 31 anos, Abebe Bikila Costa Santos está desde 2015 na cena brasileira de hip hop. Ao longo desses cinco anos de militância, o MC – conhecido nas ruas, no meio musical e nas redes sociais como BK – já vinha ascendendo, dentro e fora dessa cena. Os álbuns Castelos & ruínas (2016) e Gigantes (2018) ajudaram BK a pavimentar trajetória que alcança patamar mais alto com o terceiro álbum do artista, O líder em movimento, lançado na terça-feira, 8 de setembro, com dez músicas engajadas na luta contra o racismo para afirmar o poder do povo negro. Trata-se de disco que expõe o mundo branco opressor sob a ótica do negro. “Eles temem quando preto pensa”, dispara BK em verso de O movimento, rap que abre o disco. Primeiro álbum que BK assina com o nome de batismo Abebe Bikila, posto nele em tributo ao homônimo atleta que se tornou o primeiro negro africano a ganhar Medalha de ouro em olimpíada, O líder em movimento alia o poder do discurso do rapper à força dos beats criados pelo diretor musical do disco, JXNV$, nome artístico do DJ e produtor musical Jonas Profeta, habitual colaborador de BK desde o primeiro disco do artista. A dupla Deekapz e Nansy Silvz também criaram beats para o álbum, tendo dado forma a Poder e a Universo, respectivamente, mas é JXNV$ quem deu à direção musical do disco ao orquestrar oito das dez faixas de O líder em movimento. E, como exemplificam raps como Bloco 7, os beats potencializam a força da ideologia de BK, alinhada com o crescente movimento Vidas negras importam. MC de funk convertido ao hip hop, Bikila discursa com propriedade para bradar orgulho negro com consciência social. “Dinheiro pra nós não é luxo / Dinheiro pra nós é proteção”, enfatiza no refrão de Porcentos 2. “Sei que falar sobre a violência nos consome / Mas nascemos com 'alvo' no sobrenome”, rima BK em Visão, com discurso reforçado por notícias cotidianas de negros presos injustamente por crimes que nunca cometeram. Esse discurso também abrange a esfera privada dos relacionamentos afetivos. “Agora é tão fácil me amar / Falar que sempre tava aqui”, reflete o rapper em Amor, letra sobre relações construídas com base no interesse de um pela ascensão social do outro. Na sequência do disco, faixas como Pessoas e Megazord reforçam o conceito musical e ideológico do álbum O líder em movimento, composto em 2019 e gravado sem participações, sem incursões pelo trap e sem outros modismos do mercado. Além de se nutrir de convicções e emoções reais, Bikila apresenta disco de rap old school sem soar datado porque há link com a cena e o mundo contemporâneo. Mais próximo de Cidades & ruínas do que de Gigantes, O líder em movimento é álbum calcado na denúncia de mundo racista e no combate desse racismo. Ao dar voz ao líder negro que conduz a narrativa do disco, Abebe Bikila se agiganta em cena e no turbulento Brasil de 2020, ganhando força na batalha para que, como declama a atriz Polly Mariano na introdução de O líder em movimento, “a luta pela liberdade só acabe quando ela for encontrada para que a nossa poesia não seja mais escrita com sangue”.