Para especialistas, é preciso ter atenção ao plano de saída para os auxílios para que população não fique desguarnecida nem se gere uma crise fiscal que impactaria o crescimento de 2021. PIB tem tombo recorde de 9,7% no 2º trimestre e Brasil entra de novo em recessão
A maior queda da série histórica do PIB para um trimestre, de 9,7% neste segundo período de 2020, foi tão forte quanto esperavam os economistas ouvidos pelo G1. Mas o tombo só não foi pior porque a rede de auxílios montada pela equipe econômica começou a mostrar efeitos antes do fechamento do trimestre.
A questão que se impõe, agora, é a rota de saída para os programas de incentivo, que inevitavelmente vão reduzir a renda média do brasileiro e dar fôlego aos números do desemprego. Veja o que dizem os especialistas.
Alessandra Ribeiro, diretora de macroeconomia da Tendências Consultoria
A Tendências Consultoria esperava uma queda de 9,2% no trimestre, contra 9,7% do número oficial. Houve retração mais forte que a esperada em gastos do governo e consumo das famílias. Por outro lado, a queda de investimentos veio melhor que o esperado.
Mas boa parte dos cálculos está sendo refeita por um viés positivo. Segundo a economista Alessandra Ribeiro, os níveis de queda do Brasil vieram melhores do que muitos países europeus que sofreram com a Covid-19 na comparação interanual.
"Tivemos uma queda próxima ao que caiu os Estados Unidos e Alemanha. Países como Reino Unido, Espanha e Italia sofreram muito mais. Por aqui, os estímulos foram muito bem sucedidos", diz Alessandra.
Por estímulos, a economista destaca efeitos do Auxílio Emergencial e de injeção de liquidez por parte do Banco Central, que ajustaram a política de juros para carteiras de crédito. Ela reconhece que, no segundo caso, houve atraso para formatar um sistema de sucesso, mas que programas como o Pronampe têm potencial de resgatar empresas e preservar empregos.
"As revisões mostram que não tínhamos clareza do efeito dos auxílios no início da crise", diz.
As projeções para o terceiro trimestre da Tendências é de crescimento de 4% na margem. Para o ano de 2020, a queda já passou para queda de 5,7%.
O caminho da recessão: como o Brasil chegou à queda histórica do PIB
Marcel Balassiano, economista do Ibre/FGV
Para o economista Marcel Balassiano, do Ibre/FGV, três palavras resumem o momento da economia: incerteza, velocidade e magnitude. Ele compara a queda de 11,9% de dois trimestres de 2020 com a recessão de 2015 a 2016, que registrou cerca de 8,1% em 11 trimestres.
Além disso, Balassiano ressalta o sincronismo das quedas do PIB no trimestre mais afetado pela crise do coronavírus. No Brasil, queda de 9,7% entre os trimestres. Nos EUA, 9,1%. Na China, onde tudo começou, o pior trimestre foi o primeiro, com queda de 10% na comparação com o quarto trimestre de 2019.
"A economia foi praticamente desligada e isso nunca aconteceu antes. Esse sincronismo é relevante. A recessão passada foi muito nossa", diz Balassiano.
Da mesma forma que o Brasil agora se preocupa com o futuro dos auxílios, o resto do mundo também têm a questão no radar, diz o economista. "Na Europa e Estados Unidos, os programas de retenção de emprego também suscitam dúvidas sobre como a economia vai se comportar quando forem diminuídos", afirma.
Maurício Oreng, economista do Santander
As projeções do Santander para o PIB de 2020 são de quedas maiores que o restante do mercado. O banco espera queda do PIB de 6,4% ao fim do ano e o resultado do segundo trimestre "deu alguma tranquilidade" para manter o cálculo, diz o economista do banco Maurício Oreng.
Para ele, os resultados de consumo das famílias e de governo mostraram-se piores que a expectativa, com motor mais fraco de recuperação. Mas reconhece uma assimetria com o consumo de bens, que não foi tão ruim quanto o restante.
"Dados de alta frequência mostram um PIB caindo menos do que imaginávamos antes desses dados. Tínhamos uma queda de 10,5% quando começamos o trimestre e com dados favoráveis de frequência mensal revisamos para cima. Mas o crescimento sequencial, apesar de importante, não compensa a queda", diz.
A comparação com outros países, diz Oreng, tem sentido no momento em virtude do estímulo fiscal massivo que o Brasil fez para fomentar a recuperação econômica e manter empresas vivas. Mas, como as políticas não devem se manter em tamanho para o futuro, a tendência é diminuir o ímpeto de consumo e o comparativo.
"Foi necessário [o esforço fiscal], mas se tivermos propagação do estímulo para 2021 isso pode ser contraproducente do ponto de vista de crescimento pela deterioração fiscal", afirma.
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