Primeira música foi uma das mais tocadas do 1º semestre no país e revelou Salvador da Rima, 19 anos. Ele fala ao G1 sobre sequência que sai nessa sexta-feira e os versos combativos no funk. Da esquerda: Hariel, Salvador da Rima e Ryan SP na gravação do clipe de 'Vergonhr pra mídia 2' Divulgação "Me revoltei / Não matei, não roubei / Mas mesmo assim o crime me deixou cicatriz". Versos duros como os de "Vergonha pra mídia 2", música lançada nesta sexta-feira (28), não eram comuns entre os funks mais populares dos últimos anos. Salvador da Rima e MC Ryan SP, agora junto com MC Hariel, buscam repetir o fenômeno da primeira faixa, lançada em abril de 2020. Ela chegou a ser uma das dez mais tocadas do Brasil no YouTube e já soma 60 milhões de cliques. "Vergonha para a mídia" 1 e 2 acompanham a ascensão atual do chamado "funk consciente" em São Paulo, mas com duas particularidades: o discurso é mais combativo, com uma descrição crua e cheia de raiva do cotidiano de violência e de injustiça social. E o som mistura o rap ao funk. Batalha acidental "Vergonha pra mídia " é resultado da trajetória de Gabriel Salvador. Ele tinha 15 anos e gostava de cantar funk com os amigos no Morro do Piolho, na Cidade Tiradentes, onde morava. Em 2016, se deparou com uma batalha rimas de rappers na Zona Leste de SP. Salvador da Rima, Ryan SP e Hariel na gravação do clipe 'Vergonha pra mídia 2' Divulgação "Desde pequeno sempre fui o melhor de rima da minha quebrada, mas no funk . Eu fazia uns 'corres' em Itaquera, vi a batalha lá e falei: 'Eu também sei fazer isso'". Ele virou o Salvador da Rima e começou a ficar conhecido na rua e na internet. Salvador conheceu pela internet o MC de funk consciente Lele JP. "A gente trocava mensagens e ele me chamou para o estúdio. O Ryan estava lá. Eu puxei o bonde do tema, do projeto, da linguagem para seguir". Hariel, Salvador da Rima e Ryan SP na gravação do clipe 'Vergonha pra mídia 2' Divulgação Assim surgiu "Vergonha pra mídia", faixa à qual se juntaram os MCs Nog e Kevin e os DJs Boy, Nine e Ramiro. É uma narrativa crua do universo do "menor cheio de ódio", do tráfico, da violência policial. "A gente vive um tipo de coisa que se sabe quem é daqui / Os menores crescem revoltados contra o estado / E depois na mídia passa como se a gente fosse errado", eles cantam. Em primeira pessoa "Onde a gente mora, a cada três minutos tem ocorrência policial. É importante expor isso porque é a realidade. O crime está presente na periferia, assim como a opressão policial. Não funciona fingir que não existe A gente tem que narrar, explicar. Saber a consequência daquilo", defende Salvador. "Quem vive tudo isso muitas vezes não tem espaço para contar a própria relidade. Quando aparece, é mostrada de forma errada por quem é de fora", ele reclama. Ele acredita que a força de "Vergonha pra mídia" está nesse testemunho. Com isso, sua voz se ampliou. Salvador já tem 1,5 milhão de seguidores no Instagram – a maior parte veio após o lançamento da primeira faixa. Salvador da Rima, Hariel e Ryan SP na gravação do clipe 'Vergonha pra mídia 2' Divulgação Rap + funk "O rap é um movimento social, além de musical. Ele teve uma grande voz na periferia nos anos 90 e 2000. Hoje a voz da periferia é o funk, que fala a linguagem da molecada. Mas a essência dos dois é a mesma. Dar voz a quem não tem. Eu vim com o protesto, para ligar as duas coisas", diz Salvador. Além das letras, ele vê um caminho sonoro nessa união: o trap, variação do rap que surgiu no sul dos EUA e é cada vez mais popular, inclusive no Brasil. "O trap e o funk têm o mesmo BPM (batidas por minuto). A mesma levada, só muda a forma. Todo mundo que faz funk faz trap. Isso ajuda." Depois do sucesso de "Vergonha pra mídia", Salvador assinou contrato com a produtora de funk GR6. O único baque recente foi a queda do seu canal do YouTube, há 20 dias. Ele diz que foi alvo de hackers, mas não sabe bem o que ocorreu. Logo depois os vídeos já estavam de volta ao ar Sorriso com ressalva Hariel, Salvador da Rima e Ryan SP na gravação do clipe 'Vergonha pra mídia 2' Divulgação "'Vergonha pra mídia' foi um divisor de águas para mim. Três meses atrás eu estava passando dificuldade, aperto. Eu já era famoso por causa das batalhas, mas eu vim de baixo, e aqui ninguém vive de fama, precisa e sobreviver mesmo. Agora está melhor", afirma. "O rap e o funk se unem e a favela sorri outra vez", ele comemora em "Vergonha pra mídia 2". Mas o verso seguinte traz uma ressalva: "Não é porque nós tamos sorrindo que já esquecemos de tudo o que 'cês fez'". Melancolia no Funk? Veja músicas com elementos tristes que bombam na pista