Capa do álbum 'A força que nunca seca' que apresentou a gravação original de 'Vila do adeus' na voz de Maria Bethânia Murilo Meirelles ♪ MÚSICAS PARA DESCOBRIR EM CASA – Vila do adeus (Roberto Mendes e Jorge Portugal, 1999) com Maria Bethânia ♪ Compositores baianos, ambos naturais de Santo Amaro da Purificação (BA), também cidade natal de Maria Bethânia, Roberto Mendes e Jorge Portugal (5 de agosto de 1956 – 3 de agosto de 2020) construíram sólida parceria de matiz afro-brasileiro. Recorrente na discografia da cantora conterrânea a partir do interiorizado álbum Ciclo (1983), marco do retorno da intérprete às origens santa-amarenses, a parceria de Mendes e Portugal se banhou nas águas do mar da Bahia, abarcando o culto de todos os santos e orixás com a vivacidade rítmica da região. Nessa obra iluminada pelas cores e crenças da Bahia que está viva ainda lá, Vila do adeus se diferenciou pelo tom melancólico. Apresentada por Maria Bethânia no álbum A força que nunca seca (1999), produzido por Guto Graça Mello com Moogie Canazio, Vila do adeus é canção de despedida. Uma música que versa sobre o corte de laços com a veia poética de Jorge Portugal, hábil letrista das melodias de Roberto Mendes. Vila do adeus encerrou o álbum A força que nunca seca com o canto sereno e resignado de Bethânia em gravação pautada pelo toque do piano de João Carlos Coutinho, arranjador da faixa. Além do piano, a gravação de Vila do adeus foi povoada somente com o toque da guitarra portuguesa de Manoel Martins, evocativa da melancolia do fado, como se a saudade também ecoasse sentimento de além-mar. No coração de Bethânia, essa saudade também vinha da própria Bahia, atiçada pela morte da ialorixá baiana Cleusa da Conceição Nazaré de Oliveira (1923 – 1997), a Mãe Cleusa do Gantois, guia espiritual da artista e ausência (física) sentida durante a concepção do disco A força que nunca seca. Música belíssima, Vila do adeus ganhou outro registro fonográfico de Bethânia naquele mesmo ano, pois integrou o repertório de Diamante verdadeiro (1999), álbum duplo ao vivo que trouxe o registro integral do show A força que nunca seca (1999), captado em agosto, em temporada do espetáculo na casa Canecão, na cidade do Rio de Janeiro (RJ). Ofuscada por outras músicas destes discos, Vila do adeus ficou conhecida somente pelos seguidores mais fiéis da cantora. Nem mesmo a regravação do autor Roberto Mendes na abertura do álbum ao vivo Tempos quase modernos (2005) – registro de show de voz e violão, gravado pelo cantor e compositor baiano em setembro de 2004 em Salvador (BA) – contribuiu para ampliar a popularidade de Vila do adeus. Contudo, essa canção de adeus permanece disponível para ser descoberta por quem conhece somente na superfície a obra magistral composta por Roberto Mendes com Jorge Portugal, mestre das letras, inspirado ao sentenciar que, “quando os lenços cortam os laços”, ficam “apenas o silêncio e o som de Deus”. ♪ Ficha técnica da Música para descobrir em casa 5 : Título: Vila do adeus Compositores: Roberto Mendes e Jorge Portugal Intérprete original: Maria Bethânia Álbum da gravação original: A força que nunca seca Ano da gravação original: 1999 Regravações que merecem menções: a da própria Maria Bethânia no álbum Diamante verdadeiro (1999) e do compositor Roberto Mendes no álbum Tempos quase modernos, de 2005. ♪ Eis a letra de Vila do adeus : “Estórias que não contam mais Quando o barco perde a praia Quando tudo diz adeus O céu desmaia, a luz do dia não raia Pois se apaga a luz do céu A dor se espraia feito pé de samambaia E antes que a noite caia Apaga a lua E a saudade então flutua Como bólido luzente Dentro dela a gente vai Estórias que não voltam mais Quando os lenços cortam os laços Num definitivo adeus Nenhum abraço, nenhum sol nos olhos baços Nem um traço, nem um véu Apenas o silêncio e o som de Deus Apenas o silêncio e o som de Deus”