Morte do compositor e produtor musical, aos 71 anos, evoca trajetória que inclui Tim Maia, Ronnie Von, Angélica e Perlla, além dos grupos Mutantes, Mamonas Assassinas e Placa Luminosa. Arnaldo Saccomani deixa obra eclética em carreira iniciada nos anos 1960 como guitarrista de banda que tocava Beatles Roberto Nemanis ♪ OBITUÁRIO – Em 1970, o produtor musical, compositor e instrumentista paulista Arnaldo Saccomani (24 de agosto de 1949 – 27 de agosto de 2020) estava envolvido na produção do primeiro álbum de Tim Maia (1942 – 1998). Saccomani foi – juntamente com Jairo Pires – coordenador da produção deste disco em que Tim traduziu a soul music e o funk norte-americanos para o idioma musical brasileiro. Naquele mesmo ano, o nome de Saccomani apareceu creditado como o produtor do terceiro álbum do grupo Os Mutantes, A divina comédia ou ando meio desligado (1970). Em 2000, trinta anos depois, Saccomani era o compositor – em parceria com a filha Thais Nascimento – de Tô te filmando (Sorria), um dos maiores sucessos do grupo de pagode Os Travessos. A comparação entre estes dois momentos de Saccomani ilustra a trajetória do artista que morreu na madrugada desta quinta-feira, 27 de agosto, aos recém-completados 71 anos, vítima de insuficiência renal e diabetes, no sítio em que estava confinado com a família, em Indaiatuba (SP), cidade do interior de São Paulo. Saccomani sai de cena e deixa obra eclética na indústria fonográfica que foi da vanguarda ao popular. Por ter trabalhado na fase áurea da gravadora Philips, onde ingressou no fim dos anos 1960 como assistente de Manoel Barenbein, Saccomani esteve nos créditos de discos de artistas então inovadores como Mutantes, Rita Lee e Tim Maia. Contudo, ao dar continuidade à carreira de produtor e compositor na década de 1980, Saccomani já passou a ficar associado a discos de grupos e cantores mais populares. O artista – para citar um exemplo dessa guinada mercadológica – foi o parceiro de Thomas Roth em Fica comigo (1989), música projetada na gravação do grupo Placa Luminosa. O Saccomani que ajudou Ronnie Von a fazer discos tropicalistas e psicodélicos no fim dos anos 1960 foi o mesmo produtor e compositor que – com parceiros como Frankie Arduini, Mauro Motta e a filha Thais Nascimento, entre outros nomes – forneceu repertório para álbuns de artistas como Angélica, Mara Maravilha, Maurício Mattar, Perlla, Rosemary e Tânia Mara. Em outra frente do mercado fonográfico, Saccomani sempre alegou ter sido mediador fundamental para a contratação em 1995 do grupo Mamonas Assassinas pela gravadora EMI Music, então sob a direção artística de João Augusto. Também foi Saccomani quem abriu as portas da gravadora Sony Music para o palhaço e cantor cearense Francisco Everardo Tiririca Oliveira Silva, conhecido como pelo nome artístico de Tiririca. O sucesso massivo de Tiririca, com o single Fiorentina, foi outra prova do aguçado tino comercial de Arnaldo Saccomani, produtor que iniciou a carreira nos anos 1960 como guitarrista de banda dedicada a tocar covers de músicas dos Beatles. Um artista que, ao longo de quase 60 anos de atuação, pavimentou trajetória singular na indústria do disco.