Museu reabriu em julho. Brasileira estava entre o primeiro grupo a visitar o local. Visitantes usando máscaras tiram fotos em frente à Mona Lisa, obra-prima de Leonardo da Vinci, no Museu do Louvre em Paris. Francois Guillot / AFP A primeira visita que Lisa Gherardini, a famosa pintura “Monalisa” teve, depois de quase quatro meses trancada em quarentena no Museu do Louvre, fechado por causa da pandemia, foi a de uma jovem brasileira. Juliana Coelho, 27, bolsista na área de Música, em Nice, no sul da França, preparou esta visita com antecedência, mas não sabia que seria a primeira pessoa a ficar cara-a-cara, e sozinha, com a musa de Leonardo da Vinci. Uma verdadeira proeza celebrada com a família e amigos no Brasil. Em entrevista à RFI, já no Brasil, para onde regressou ao fim de sua bolsa de estudos, Juliana Coelho conta que foi pega de surpresa pela pandemia ao chegar em Nice, na famosa região da Côte d'Azur. "Passei um semestre lá e logo veio o confinamento. Não consegui viajar para lugar nenhum, fiquei só em Nice. Com a flexibilização, tive vontade de ir a Paris, que não conhecia, era a minha primeira vez na Europa”, explica. A estudante conta que notou que os museus estavam sendo reabertos, assim como a Biblioteca Nacional da França, onde desejava fazer uma pesquisa. “Eu poderia ter ido conhecer Paris em junho, mas decidi adiar por causa da insegurança, ninguém sabia direito ainda o que ia acontecer. Decidi então marcar para o começo de julho, para pegar a reabertura do Louvre, no dia 6. Quando a bilheteria do museu reabriu, entrei correndo no site e comprei meu ingresso para o dia da reabertura, no primeiro horário”, lembra. Museu do Louvre reabre após quase quatro meses "Cheguei uns 20 minutos antes, o museu estava cheio de repórteres, com umas 30 pessoas na minha frente, na fila. Na hora de entrar, peguei uma escada para tentar achar o andar em que estava a Monalisa [Pavilhão Denon, dentro do Louvre] e pensei que deveria ir lá primeiro, para pegar mais vazio, antes de fazer o resto do museu”, descreve a musicista. Normalmente, ver a Monalisa no Museu do Louvre é quase uma missão impossível dada a multidão de turistas enfurecidos de todas as nacionalidades que se aglomeram em frente ao quadro, com câmeras e celulares de todos os tipos, todos os dias da semana, a qualquer hora do dia. Juliana Coelho conta que deu de cara na porta da sala onde está exposta a famosa musa de Da Vinci. “Não tinha ninguém ainda, só os seguranças. Era o setor das pinturas italianas. Fui a primeira a ver a Monalisa, fiquei um tempo sozinha com ela na sala. Uma agente de segurança me interpelou na saída e disse ‘Parabéns, você foi a primeira pessoa a reencontrá-la’”, lembra. "Por alguns segundos a Monalisa foi só minha. Quem imaginaria que eu veria a Monalisa sem ninguém na frente?", comemora. “Até me lembrei que, há dez anos, dei uma entrevista para [o canal francês] TV5, para o programa ‘Sept jours sur la planète (Sete dias no planeta, em português)’, e nessa entrevista disse para eles que meu sonho era conhecer o Louvre”, disse. "O quadro fica muito longe da gente. A gente acaba aproveitando mais as outras obras da sala, que podemos ver de perto. Mas é sem dúvida uma emoção, é um símbolo", enfatiza a estudante, que decidiu tirar uma selfie na hora, antes que o resto dos visitantes descobrissem a sala. “Minha mãe ficou super emocionada e as amigas que já tinham ido ao Louvre me disseram que eu tive um privilégio sem tamanho”, disse. A volta para o Brasil foi “difícil” por “vários motivos”. “Primeiro por causa dessa coisa da pandemia, porque na França já estávamos num estágio muito melhor, com mais segurança em relação ao vírus, mais liberdade. Mas também tem as questões do país, o Brasil está muito retrógrado, e isso também dificulta a vida”, avalia Coelho. "Gostaria de destacar a importância desses programas de intercâmbio como o que participei, em nível de pós-graduação ou graduação. Indo para outro país é que temos noção das diferenças culturais e das belezas de nosso próprio país, na hora de levar o nosso para outros países, valorizando o Brasil no mundo. Também para ver onde o Brasil se encontra nestas diferenças, e para poder colaborar com um país mais livre”, analisa Juliana. "Tive contato na França com gente do mundo inteiro, da Ásia, da África, da Europa inteira. Quando a gente vem para o Brasil, é bem diferente do que a imagem que o brasileiro constrói de si”, diz.