Capa do single 'Baby', de Gal Costa e Rubel Maria Magdalena Arrellaga com arte de Ana Bolshaw Resenha de single Título: Baby Artistas: Gal Costa e Rubel Composição: Caetano Veloso Gravadora: Biscoito Fino Cotação: * * * ♪ Embora definitivamente associada à voz cristalina de Gal Costa, a canção Baby foi composta por Caetano Veloso em 1968 sob encomenda de Maria Bethânia. Como detalhou o compositor na página 273 do livro de memórias Verdade tropical (1997), Bethânia pediu inclusive que a letra da canção contivesse o verso “Leia na minha camisa” associado à expressão “Baby, I love you” em alusão explícita a frase estampada em camisetas da época. Caetano atendeu o pedido da irmã e, em sintonia com a efervescência tropicalista do momento, quis apresentar a música no álbum-manifesto do movimento, Tropicália ou Panis et circensis, lançado naquele ano de 1968. Como Bethânia preferiu se dissociar do movimento, a canção Baby foi parar na voz de Gal Costa em gravação feita com a participação do próprio Caetano e com arranjo do maestro Rogério Duprat (1932 – 2006). A associação simbiótica da composição com a voz de Gal foi percebida pelo público e Baby ficou na história – o que motivou a cantora a regravar a canção mais cinco vezes ao longo desses 52 anos de existência da vida da música, geralmente em discos ao vivo com registros de shows. Além dos registros ao vivo, houve controvertida gravação de estúdio feita por Gal com arranjo e as vozes do grupo grupo Roupa Nova para o álbum Baby Gal (1983). Nenhuma gravação superou o registro original de 1968, também incluído no primeiro álbum solo da cantora, Gal Costa, gravado em 1968, mas lançado no início de 1969 com o mesmo fonograma do coletivo LP tropicalista. O single Baby lançado pela gravadora Biscoito Fino nesta sexta-feira, 31 de julho de 2020, é o sexto registro oficial da canção na discografia de Gal Costa. Para seguidores da cantora, a única possível novidade nessa sexta gravação é a presença de Rubel, cantor e compositor fluminense que vem sendo requisitado para conexões com artistas de outras gerações. Contudo, não há neste Baby de 2020 o frescor da associação feita por Rubel com Adriana Calcanhotto no single Você me pergunta, gravado em estúdio (com produção de Kassin) e lançado em fevereiro com música inédita composta por Rubel com a aparente intenção de emular as canções românticas e radiofônicas de Calcanhotto. O dueto de Gal com Rubel foi gravado no mesmo mês de fevereiro, cinco dias antes da edição do single do cantor com Calcanhotto. Trata-se de gravação ao vivo captada na madrugada de 2 de fevereiro durante participação de Rubel em show apresentado por Gal na Fundição Progresso, casa da cidade do Rio de Janeiro (RJ). Após ter feito o próprio show (o evento oferecia dois espetáculos distintos na mesma noite), Rubel fez intervenção na apresentação da cantora. Com Gal, o artista fez bater Coração vagabundo (Caetano Veloso, 1967) e Baby. Da captação desse dueto, surge hoje o single Baby, lançado em época em que a indústria do disco precisa desencavar gravações para se manter em funcionamento enquanto permanecer a necessidade de isolamento social. Com o toque desencanado do violão de Rubel, Gal recicla Baby com o canto maturado dos tempos atuais. Como cantor, Rubel imprime o estilo habitualmente cool na canção que, no dueto, ressurge com alguns versos quase falados, como se os cantores esboçassem diálogo com direito a um verso improvisado (“Comigo também”) por Gal nessa parte. Preservado na gravação, o coro do público confere ao single o único traço de emoção real deste registro de Baby a rigor trivial e meramente simpático para seguidores de Gal. Para Rubel, o single parece simbolizar status por acrescentar à discografia um dueto com uma das maiores cantoras do Brasil de todos os tempos. “Se me contassem há dez anos que isso aconteceria, diria que é mentira. Cantar com a Gal Costa é um sonho maior do que os que tive coragem de sonhar”, exulta o cantor em depoimento na nota sobre a edição do single, alardeado pela gravadora Biscoito Fino nas redes socais ao longo da semana. O entusiasmo do cantor faz sentido porque, no fim das contas, o single Baby parece servir somente ao currículo de Rubel. “Baby, baby, eu sei que é assim”…