Holanda, Áustria, Dinamarca e Suécia bloqueiam acordo necessário à subsistência do bloco pós-pandemia. Primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, a chanceler alemã, Angela Merkel, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o presidente francês, Emmanuel Macron, conversam em encontro à margem de uma cúpula da UE que acontece em Bruxelas (Bélgica), no sábado (18) Francisco Seco/AP Os líderes da União Europeia protagonizam em Bruxelas a mais longa cúpula de dirigentes do bloco dos últimos 20 anos. Desde sexta-feira (18), os 27 buscam um acordo em torno do plano de recuperação econômica de € 750 bilhões para superar os danos causados pela pandemia do coronavírus. Mas a oposição de quatro países do norte – Holanda, Áustria, Dinamarca e Suécia -, ricos porém avarentos, bloqueia um acordo necessário à subsistência do bloco. O principal opositor é o liberal Mark Rutte, primeiro-ministro liberal da Holanda, descrito pela imprensa como um homem "sério e simples", popular em seu país, mas que não passa de um sovina aos olhos dos defensores de uma Europa solidária e federal. Rutte é contra o principal aspecto do plano proposto por França e Alemanha: a concessão de € 500 bilhões (valor inicial) em subvenções para os países mais afetados pela pandemia. UE pode não chegar a acordo sobre recuperação econômica, diz Merkel O montante seria captado nos mercados, compondo uma dívida comum contraída por todos os países. No fim de semana, a quantia já baixou para € 390 bilhões, mas o premiê holandês continua se opondo à proposta, exigindo a oferta do dinheiro a título de empréstimos. Defensor da ortodoxia orçamentária, Rutte e seus aliados não querem pagar a conta dos déficits e dívidas acumuladas pelos países do sul, considerados indisciplinados com as contas domésticas. Líderes da União Europeia participam de cúpula em Bruxelas, na Bélgica, no sábado (18) John Thys/AP A imprensa busca entender a personalidade de Mark Rutte. O jornal francês "Libération" descreve o premiê holandês como um homem que sempre foi apaixonado pela política. Graduado em história, ele teve uma carreira brilhante no setor privado antes de se candidatar a deputado. Foi diretor de recursos humanos da Unilever e até hoje dá aulas de história, às sextas-feiras, em colégios holandeses. Segundo o "Libération", Rutte é um solteiro convicto, nunca se casou, não tem filhos, vai de bicicleta para o trabalho e limpa seu gabinete após as reuniões. Rutte é um pão-duro que vai contra tudo e contra todos, destaca o Libération. Essa intransigência levou o presidente francês, Emmanuel Macron, a ameaçar abandonar as negociações. Macron disse que o premiê holandês e seus amigos "frugais", como são educadamente chamados os líderes da Áustria, Dinamarca e Finlândia – para não dizer avarentos -, se comportam como o Reino Unido. Querem tirar o máximo proveito de tudo, sem pagar nada em troca. Desconto de € 110 bilhões pode solucionar o impasse Menos pessimista, o diário econômico "Les Echos" anuncia que os 27 estão próximos de um acordo. "O jantar de trabalho do domingo foi marcado por acusações ásperas e os europeus estiveram perto de uma ruptura", escreve o diário. Mark Rutte admitiu que as negociações foram duras, mas assinalou que seu grupo está disposto a aceitar um acordo em torno de € 390 bilhões de subvenções e o restante deverá ser direcionado sob a forma de empréstimos. O holandês e seus aliados conseguiram reduzir o pacote de subvenções de 110 bilhões de euros, resume "Les Echos". "Le Figaro" descreve os momentos de tensão da cúpula, como, por exemplo, o bate-boca em que o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, acusou o holandês Mark Rutte de detestá-lo. A dupla Angela Merkel e Emmanuel Macron chegou perfeitamente afinada para as discussões, mas abandonou uma reunião na noite de sábado diante da intransigência mesquinha do grupo de pão-duros. O primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, não fez por menos e usou o Facebook para criticar duramente os países do norte. Os líderes europeus protagonizaram um triste espetáculo neste fim de semana, conclui o "Le Figaro". À esquerda, presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, participa neste domingo (19) de reunião à margem do encontro de cúpula da União europeia com a chanceler Angela Merkel (Alemanha), o presidente Emmanuel Macro (França) e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen Francois Walschaerts/AP