Capa do álbum 'Ritmo perfeito', de Anitta Reprodução ♪ DISCOS PARA DESCOBRIR EM CASA – Ritmo perfeito, Anitta, 2014 ♪ Em junho de 2014, quando Anitta lançou o segundo álbum de estúdio, Ritmo perfeito, nada fez supor a projeção massiva que a cantora e compositora carioca obteria na segunda metade dos anos 2010, em escalada vertiginosa que fez o nome da artista extrapolar as fronteiras do Brasil e ser conhecido em todo o universo pop, com incursões frequentes pelo mercado latino dos países de língua hispânica. Com o padrão da produção musical de Umberto Tavares e Carlos Lago da Costa (o Mãozinha), dois nomes fundamentais nessa fase inicial em que Anitta migrou paulatinamente do mundo do funk para o mercado de música pop, o álbum Ritmo perfeito soou como confirmação dos vícios e virtudes do primeiro álbum da artista, Anitta, lançado em 2013 pela mesma gravadora, Warner Music, que pôs Ritmo perfeito nas lojas simultaneamente com o primeiro registro audiovisual de show da carreira da cantora, Meu lugar. Gravado ao vivo em 15 de fevereiro em apresentação da cantora em arena do Rio de Janeiro (RJ), cidade natal de Anitta, o DVD Meu lugar foi lançado no mesmo mês de junho de 2014 em que o álbum Ritmo perfeito chegou ao mercado fonográfico brasileiro com 10 faixas. Meu lugar saiu oficialmente somente no formato de DVD, mas houve também tiragem limitada de edição dupla que trazia DVD e CD em embalagem de DVD (essa edição foi comercializada com exclusividade por rede de varejo). Evidentemente, houve interseções entre os repertórios do álbum Ritmo perfeito e do DVD Meu lugar. Com exceção da balada Vai e volta (Anitta), única música assinada pela artista sem parceiros neste segundo álbum de estúdio, as outras sete músicas inéditas também figuravam no roteiro do show perpetuado em DVD. Alocada quase ao fim do CD, antes do remix do funk Blá blá blá (Anitta, Jefferson Junior e Umberto Tavares), a balada Vai e volta mostrou Anitta no universo romântico da sofrência pop. Em Ritmo perfeito, Anitta começou a flertar mais frequentemente com o pop – em virada que a artista consolidaria a partir do impactante terceiro álbum de estúdio, Bang (2015) – sem nunca se dissociar do funk, embora o funk de Anitta já viesse enquadrado pelos produtores Mãozinha e Umberto Tavares na moldura plastificada que embalou o gênero para a classe média urbana das capitais do Brasil. Funks como No meu talento (Anitta, Jefferson Junior e Umberto Tavares) e o já mencionado Blá blá blá acenavam para o grande público que conheceu a cantora através do estouro de Show das poderosas (Anitta, 2012), hit blockbuster do primeiro álbum da artista, embora a música tenha surgido primeiramente em EP lançado por Anitta em agosto de 2012, um ano antes de a cantora ser contratada pela Warner Music. Esse grande público ouve funk e curte o batidão sem pertencer ao mundo dos bailes que animam comunidades e bairros das periferias do Rio de Janeiro. Foi nesse universo periférico (de importância subestimada na cultura fluminense) que, em 2010, Larissa Machado – menina pobre criada no bairro de Honório Gurgel, no subúrbio carioca – se transformou em Anitta, nome escolhido com inspiração na minissérie Presença de Anitta (TV Globo, 2001). A troca de nome foi sugestão do DJ Batutinha, funkeiro designado pela equipe da Furacão 2000 para burilar a cantora ainda imatura recém-contratada pela empresa, na época ainda uma forte donatária do milionário território do funk fluminense. Como estrela ascendente dos bailes funks promovidos pela Furacão 2000, Anitta aprendeu lições de música e marketing – não necessariamente nessa ordem – e as pôs em prática quando, em março de 2012, jogou na rede a primeira música autoral, Menina má, da lavra solitária da compositora. Menina má foi o primeiro hit de Anitta, a música que abriu caminho para a cantora fora dos bailes da Furacão 2000. Na sequência, Meiga e abusada (Anitta, Jefferson Junior e Cláudia Regina), música lançada em julho de 2012, ampliou a visibilidade da cantora em trajetória que despertou o interesse da gravadora Warner Music. E o resto foi uma história que ainda se desenrola e que tem um segundo álbum internacional previsto para ser lançado no fim de 2020, um ano e meio após o álbum trilíngue Kisses (2019). Só que, como dito, o álbum Ritmo perfeito jamais sugeriu em 2014 um futuro tão promissor para Anitta. Música lançada como primeiro single do álbum, em maio daquele ano de 2014, Cobertor – parceria de Projota com três integrantes da atualmente já extinta banda paulistana Cine (Danilo Valbusa, Pedro Caropreso e Diego Silveira) – foi a primeira das duas gravações feitas no disco por Anitta com Projota, rapper paulistano hábil no equilíbrio entre o apelo pop e a ideologia do hip hop. Com Projota, Anitta também cantou Mulher (2013), então já conhecida parceria do rapper com Mayk. Entre o romantismo de baladas como Música de amor (Anitta, Jefferson Junior e Umberto Tavares) e a levada R&B da composição-título Ritmo perfeito (Anitta, Jefferson Junior e Umberto Tavares) e do segundo single Na batida (Anitta, Jefferson Junior e Umberto Tavares), Anitta seguiu à procura da perfeita batida pop para se consolidar em cena. Nesse sentido, o álbum Ritmo perfeito cumpriu a missão e fez sucesso sem jamais ter irrompido com a força de furacão do disco antecessor de 2013. Contudo, seria Bang – a excelente música-título do terceiro álbum de estúdio da artista – que detonaria a explosão definitiva de Anitta rumo a um estrelato improvável na vida da desbravadora Larissa Machado, menina boa de marketing e artista consciente de que, no universo pop dos anos 2010, a música importa tanto quanto a imagem de quem a canta.