Ao G1, vocalista conta que grupo já ficou um tempo sem gravar músicas e sem ter redes sociais, mas nunca deixou de fazer shows. Média de 10 por mês aumenta durante festas juninas. A banda rastapé com o sanfoneiro Seu Jorge e o cantor Jorge Filho Divulgação Há 20 anos, o Rastapé vem cantando que não quer um colo de mamãe, prefere um "colo de menina". O hit sobre deitar no colinho da pessoa amada foi um dos maiores do forro universitário, onda que também revelou o Falamansa, no final dos anos 90 e começo dos 2000. Em 2020, o Rastapé segue fazendo shows (no formato drive-in, a novidade nos tempos da pandemia da Covid-19). A banda com pai e irmãos na formação já ficou um tempo sem lançar músicas e sem ter redes sociais, mas nunca deixou de se apresentar pelo Brasil. Em entrevista ao G1, o vocalista Jorge Filho falou da quarentena em família, dos shows para carros e do primeiro junho sem turnê na história da banda. Uma pena: as festas juninas são o auge da agenda, com até duas apresentações por noite. G1 – Como foi a sensação e a diferença entre um show no esquema drive-in e esquema normal? Jorge Filho – Pra gente, foi um turbilhão de emoções. Nós ficamos de quarentena, a família ficou de quarentena. Meu pai, que também é da banda, que toca acordeom, ele é idoso, tem mais de 70 anos. A gente estava com todo esse cuidado do mundo, ficamos de quarentena durante mais de 90 dias. O primeiro palco que nós pisamos após a quarentena foi lá no Arena Sessions, no Allianz. Você começa a ver os músicos que trabalhavam com a gente ali do seu lado, todo mundo bem, graças a Deus. Ao longo desses vinte anos de carreira, fizemos muitos shows bacanas, emocionantes, são vinte anos de carreira, né? Só que ali no Palestra Itália foi fora do comum. Ali eu percebi que a gente não estava só. A gente fica de quarentena, isolado, falando só através de rede social. E não tem contato físico. Foi uma energia bacana. O pessoal cantando, buzinando, a novidade: gostou, buzina. Pisca alerta. Não… Pisca alerta não pode. Pisca os faróis. Foi uma interação totalmente diferente. G1 – Eu imagino que junho e julho para vocês, pelo estilo, devem ser meses que bombam de shows, com festa junina, São João… Jorge Filho – Nós praticamente perdemos as festas juninas, porque essa iniciativa de começar a fazer os shows estilo drive-in, foi uma decisão tomada em grupo, né? Nós somos um grupo de família, meu pai toca acordeom, meu irmão toca guitarra, outro toca percussão, minha irmã trabalha no escritório… então, a gente estava com receio ainda de sair. Aí tomamos a decisão de sair pra ativa, mas se fosse uma época normal, a gente estaria trabalhando demais, correndo o Brasil fazendo as melhores festas juninas que a gente costuma fazer. G1 – Como é a agenda em junho e julho, normalmente? Jorge Filho – A gente trabalha sem parar. Todo dia tem show, é uma loucura, muita festa junina. E, de repente, eu me via em uma situação que a gente não acreditava que estava acontecendo aquilo, sabe? A gente ficar junho e julho sem tocar. Isso ao longo dos 20 anos foi a primeira vez que isso aconteceu e com certeza o impacto foi muito grande financeiro e emocionalmente. Tudo isso vem junto. G1 – O cachê [no drive-in] foi o mesmo? Vocês estão cobrando o mesmo que cobravam ou estão aceitando, por questão do formato, cobrar um pouco menos? Jorge Filho – A gente começou pedindo o cachê que a gente vinha pedindo, mas como as pessoas estão também se reinventando e o número de carros pra fazer drive-in é diferente, né? Um pouco mais baixo. Então, a gente tem que adaptar o cachê em relação à quantidade de pessoas que vão poder assistir. A gente começa a negociar, porque nossa intenção é trabalhar, fazer as melhores festas. A gente começa a ser bem flexível nas negociações pra que a gente consiga fazer as festas. G1 – Então, eu entendi que vocês cobraram um pouquinho menos do que cobram geralmente. Jorge Filho – Exatamente, exatamente. G1 – Como está seu pai? Eu entendi que ele está bem de saúde, mas por uma questão de quarentena, por ter mais de 70 anos, ele não participou do show… É isso? Jorge Filho – Ele está sempre junto com a gente. Quando ele não pode [fazer show] por um motivo ou outro, ele põe o sobrinho dele. Mas em relação à questão da pandemia, nós decidimos, ele decidiu ficar em casa se cuidando, porque tem 71 anos. A gente apoia essa decisão para ficar mais tranquilo em relação a isso, minha mãe também. A gente está cuidando dos nossos pais, né? G1 – Vocês até hoje fecham o show com 'Colo de menina' e é uma música que tocou muito, né? Você ganhou muito dinheiro de direitos autorais com ela? "Diria que eu não ganhei muito dinheiro, não. Eu não sei se eu sou ambicioso ao falar isso, mas é porque a música estourou em 1999, 2000. E eu acho que a arrecadação não foi tão expressiva como seria hoje. Hoje em dia, o mundo está muito mais dinâmico." Mas eu não tenho do que reclamar, claro que eu não fiquei rico, claro que eu não adquiri fortunas, mas o que eu acho mais importante da música ser tocada e conhecida é porque todo mundo nos conhece. Esse sempre foi o objetivo da banda: que todo mundo conheça o nosso trabalho, que é feito com muito carinho pras pessoas ouvirem, né? Não tem dinheiro que pague isso. Rastapé faz show drive-in no Estádio do Palmeiras Divulgação G1 – Então, vocês conseguiram mais dinheiro com show do que com direito autoral? Jorge Filho – Sim, onde a gente tem o nosso cachêzinho garantido é através dos shows, muito mais. G1 – E quantos shows vocês faziam em média antes da pandemia? Jorge Filho – Em média, a gente faz 10 shows por mês. Mas junho e julho a gente trabalha direto, 20, 30 dias, faz dois shows em uma noite, é uma loucura mesmo. G1 – Como foi pra banda ter o estouro no final dos anos 90, com outras banda de forró universitário, como o Falamansa, mas depois vocês foram se mantendo, mesmo depois daquele auge… Jorge Filho – No início, foi aquela explosão toda. A gente trabalhando pra caramba e as pessoas falavam "espero que dure e tal". Porque geralmente uma música estoura e de repente passa a fase da música, a banda é esquecida. Mas no nosso caso não, porque a gente toca um gênero muito amado pelo brasileiro, que é o forró. Graças a Deus nunca faltou show pra gente. Claro que a gente acaba saindo um pouco de rádio, de TV, afastando um pouco. Inclusive, ficamos um tempo sem gravar, mas nunca ficamos sem fazer shows. Pra gente até foi confortável, o que a gente ama mesmo é fazer show. G1 – E quando que vocês passaram a se preocupar mais com redes sociais? Jorge Filho – A gente começou a fazer um trabalho mais voltado pras redes sociais que a gente não estava muito apegado ainda, e começamos a voltar a fazer esse movimento, em 2018. Começamos a gravar, lançar músicas. Fizemos uma parceria com o Tato do Falamansa, um EP com quatro músicas. Foi bacana demais, uma experiência maravilhosa. Quando começou a pandemia, a gente já tinha terminado de gravar esse álbum, chamado "Origens", com 11 músicas inéditas. Nós não paramos, estamos trabalhando bastante. Banda Rastapé Divulgação Buzinas em vez de aplausos: como funcionam os shows drive-in durante pandemia