Game exclusivo do PlayStation 4 sofre com problemas de acabamento em detalhes, mas conquista público com sistema de luta simples e inventivo. Jogo é lançado na sexta-feira (17). Nem sempre é necessário revolucionar a indústria para fazer um grande jogo. "Ghost of Tsushima", novo game de samurais em mundo aberto exclusivo do PlayStation 4, é prova disso. Ao fazer muito bem o básico, é um dos melhores do ano. Lançado na próxima sexta-feira (17), o jogo conquista principalmente através de um sistema de combate simples mas dinâmico – em uma combinação de liberdade com toques de RPG e lutas variadas o suficiente para lembrar um "Marvel's Spider-Man". Com isso, o game tem tudo para atrair os fãs do outro exclusivo do PS4, de 2018, mas dificilmente vai rivalizar a atenção dada a "Sekiro: Shadows die twice", jogo de ninja coroado no Game Awards como o melhor de 2019. Bonito de longe, e até cinematográfico em diversos momentos, "Ghost of Tsushima" sofre com alguns problemas de acabamento, que ainda podem ser resolvidos até o lançamento. Mas, através de atividades das mais variadas e respeito à cultura e à história japonesa, vale as muitas horas investidas. Veja o trailer dublado de 'Ghost of Tsushima' Cada um se vira como pode O jogador controla Sakai Jin, um guerreiro da pequena ilha de Tsushima que sobrevive a uma invasão mongol no final do século 13. Sozinho contra um exército gigantesco e vitorioso, ele deve recrutar aliados para tentar expulsar o império e salvar o resto do país. Com essa difícil missão, ele se vê dividido entre o dever de manter o código de honra dos samurais e táticas de guerrilha e de terror, como furtividade e sabotagem, no grande dilema da história (que não conta com modo multiplayer). A recriação de Tsushima no game pode não ser em tamanho real, mas proporciona dimensão suficiente para ambientes diversos e muitas horas de cavalgadas. A ilha é recriada em 'Ghost of Tsushima' Divulgação Apesar de oferecer poucas opções no desenvolver da narrativa, uma das maiores forças de "Ghost of Tsushima" está no mundo aberto, que dá aos jogadores a liberdade de acessar a maior parte dos territórios. Mesmo que dividido em três partes distintas, sua liberação acontece de forma orgânica dentro da trama. Além de encontros ocasionais com patrulhas mongóis ou bandidos saqueadores, a ilha também esconde pontos de interesse relacionados à cultura samurai e japonesa que oferecem momentos de descontração e de filosofia, como a composição de haikus (os poemas japoneses de três versos) ou fontes termais em que Jin pensa na vida. Batalhas são um dos pontos fortes de 'Ghost of Tsushima' Divulgação O caminho da espada Mas é nos confrontos em que o Fantasma realmente brilha – como seria de se esperar em um jogo de samurais. O sistema de combate no geral é bem mais fácil de dominar que os de "Sekiro" ou "Nioh 2", outro game de samurai lançado em março, mas não menos complexo. O domínio de esquivas e defesas é essencial, mas são as quatro posturas diferentes, cada uma recomendada para um tipo específico de inimigo, que fazem com que cada encontro seja único. O jogador pode escolher entre enfrentar os inimigos diretamente ou de forma furtiva em 'Ghost of Tsushima' Divulgação Afinal, as tropas rivais são sempre constituídas de soldados variados, que forçam o jogador a ficar esperto e impedem combos mecânicos e repetitivos. Com a evolução do perfil dos capangas, as lutas se mantêm dinâmicas até o final do jogo. O jogador pode escolher entre um combate direto no estilo samurai e um estilo furtivo mais parecido ao de um ninja, mas "Ghost of Tsushima" oferece outras opções. Além dos duelos emocionantes contra chefões e sub-chefes, ao se aproximar de um grupo de inimigos Jin tem a capacidade de desafiá-los a um confronto individual que na maior parte das vezes acaba com apenas um golpe bem dado – ao melhor estilo dos filmes do mestre japonês Kurosawa Akira (1910-1998). Duelos ficam ainda mais cinematográficos no modo Kurosawa em 'Ghost of Tsushima' Divulgação Falando em Kurosawa… A equipe da desenvolvedora Sucker Punch não esconde as influências do diretor no jogo. Elas ultrapassam tanto questões como fotografia, combates e trilha sonora que ganham um modo próprio. O modo Kurosawa, que pode ser ligado a qualquer momento durante a campanha, faz mais do que deixar o jogo em preto e branco, como os clássicos "Os sete samurais" (1954) ou "Yojimbo – O guarda-costa" (1961). Com ele ligado, a natureza parece mais viva, um reflexo do estilo do cineasta, e até o som fica abafado. Apesar de belíssimo, no entanto, principalmente para quem é fã da carreira do diretor, o modo pode ser bem cansativo e dificulta a identificação de alguns dicas visuais durante a batalha. Em 'Ghost of Tsushima', algumas batalhas são resolvidas com um único golpe de espada Divulgação Olhar atento O modo Kurosawa escancara as ambições cinematográficas do game, que também estão presentes nos jogos de câmeras espertos. Durante as visitas a templos escondidos em belos paraísos escondidos pela ilha, o ponto de vista se afasta do herói para que o jogador passa admirar a paisagem construída. Infelizmente, a beleza não resiste a um olhar mais atento. "Ghost of Tsushima" sofre com detalhes mal-acabados, como uma capa que constantemente se mistura à roupa do protagonista, ou rochas que mais parecem papéis de parede sem qualquer solidez. Apesar dos problemas, 'Ghost of Tsushima' é um jogo bonito – muito bonito Divulgação O legado do Fantasma Os paralelos com filmes de samurai também podem ser encontrados na história do samurai dividido entre sua honra e a necessidade de retomar sua ilha a qualquer custo. Com o desejo de contar uma trama de vingança e do dever de um guerreiro, o estúdio sacrifica o impacto de decisões tomadas pelo jogador – pior que isso, telegrafa o desfecho já na metade da campanha. Nada disso impede que "Ghost of Tsushima" seja um grande jogo, ainda mais para quem há anos se frustrava com o desejo de controlar de verdade um samurai. "Sekiro" e "Nioh 2" foram ótimos, mas não chegaram perto da liberdade oferecida pela Sucker Punch. No fim, fica um gosto de que a ilha de Tsushima podia abrigar algo realmente revolucionário. Suas paisagens merecem novas visitas, mesmo após o fim, mas o verdadeiro legado do Fantasma é seu potencial – e algumas grandes batalhas de espada. O equilíbrio entre o samurai e o Fantasma é central em 'Ghost of Tsushima' Divulgação