Bar do Bigode contou com socorro financeiro após mobilização de clientes. Reaberto com apenas 10% do faturamento, estabelecimento depende de linha de crédito do governo para manter funcionamento. Após quase 4 meses, bar reabre em Botafogo com auxílio de vaquinha feita por clientes Após cerca de 100 dias de portas fechadas, o Bar do Bigode, localizado em Botafogo, um dos principais endereços comerciais da Zona Sul do Rio de Janeiro, pôde voltar a funcionar. A reabertura foi garantida após a mobilização de clientes, que doaram R$ 12 mil ao dono do estabelecimento. A manutenção do estabelecimento, no entanto, depende de socorro financeiro do governo. “Eu fiquei sem palavras para agradecer [a doação]. Eu não sabia que era tão querido entre os meus clientes. Eu chorei, eu e a minha esposa”, contou, emocionado, o empresário Irenildo Queiroz, de 65 anos, mais conhecido como Bigode. O G1 está acompanhando as histórias de empreendedores que estão tentando sobreviver à crise provocada pela pandemia do coronavírus e pelo fechamento dos negócios necessário para conter a disseminação da doença. Veja aqui o que os mesmos empresários contaram em abril; o que disseram em maio, e os novos depoimentos este mês: Sem confiança em retomada e sem crédito, empresários relutam em reabrir negócios em meio à pandemia 'Sem expectativa de abertura para o próximo mês', diz dono de bar em São Paulo 'Medida de reabertura foi um baita alívio', diz sócio de bar e escritório prejudicado pelo coronavírus 'Quem está no clima para fazer festa?', diz dono de buffet sobre retomada ‘Está andando meio de lado, mas temos boas perspectivas’, diz empresário afetado pela crise 'Deu uma melhorada, mas não o suficiente', diz dona de rede de lavanderias no Rio Segundo Bigode, foram alunos e funcionários da Fundação Getúlio Vargas, cuja sede é vizinha ao bar, que se mobilizaram para socorrer financeiramente o tradicional estabelecimento após reportagem do G1 apontar que o empresário não tinha perspectiva de manter o local aberto. “Eles me deram R$ 12 mil. É o que está conseguindo me segurar. Porque, senão, como é que eu ia fazer, sem vender nada, sem fazer nada?”, enfatizou Bigode. Parte do montante foi levantada por uma ferramenta virtual, enquanto outra foi depositada diretamente na conta do estabelecimento. O dinheiro foi usado para quitar as parcelas atrasadas dos alugueis de abril e maio. “Falta ainda a terceira parcela do aluguel de maio, além dos de junho e julho, que já venceram”, destacou. Após reportagem do G1, clientes do Bar do Bigode se mobilizaram para socorrer financeiramente o empresário Reprodução Bares e restaurantes foram autorizados a reabrir na capital fluminense no dia 3 de julho, com restrição à lotação de clientes e cumprimento de regras sanitárias mais rígidas. Sem experiência com delivery, o Bar do Bigode estava sem qualquer faturamento desde o dia 20 de março. Desde o início da pandemia, Bigode dizia que sua maior preocupação era manter os dez funcionários empregados. Num primeiro momento, ele concedeu férias coletivas a todos. Em seguida, suspendeu os dez contratos por meio do Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda, instituído pelo governo federal. A reabertura do bar, no entanto, não garantiu a volta dos funcionários. “Eu estou vendendo 10% do que eu vendia antes. Como é que eu vou manter os salários de dez funcionários?”, questionou o empresário. A alternativa de Bigode foi convidar um parente para reforçar o trabalho na cozinha, que está sendo comandada pela mulher do empresário, Solange, parceira de vida e dos negócios. Sobrevivência depende de apoio do governo A suspensão dos contratos dos dez funcionários do Bar do Bigode é válida até o final de julho. Conforme a MP que autorizou a suspensão de contratos durante a pandemia, eles têm estabilidade do empregado garantida pelo mesmo período em que ficaram afastados do trabalho, ou seja, por três meses. “Só o meu aluguel custa R$ 16 mil. Eu não estou faturando nem R$ 5 mil na semana. Como é que vou manter esses salários?”, disse o empresário. Demanda do Bar do Bigode, em Botafogo, depende da atividade econômica no entorno; seus clientes são, majoritariamente, funcionários de empresas vizinhas Daniel Silveira/G1 A expectativa é que o governo prorrogue por mais tempo o programa que permite a suspensão dos contratos. Mas, alívio mesmo, Bigode diz que só terá se conseguir o empréstimo que vem pleiteando junto ao banco, de cerca de R$ 500 mil. “Se eu não conseguir esse empréstimo… Toda a minha reserva financeira já foi embora. Com esse dinheiro eu vou conseguir pagar os empréstimos que já fiz e ter capital de giro para seguir tocando os negócios”, ressaltou. Bigode tenta acesso à linha de crédito especial do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), criada para conceder capital de giro às micro, pequenas e médias empresas (PMEs). “Eu não consigo entender [por que o empréstimo não é aprovado]. Meu nome está limpo, eu atendo aos critérios [para acesso à linha de crédito], mas o empréstimo não sai. Se eu não tiver esse apoio, eu não sei mesmo o que fazer”, enfatizou. Na última semana de junho, o presidente do BNDES, Gustavo Montezano, disse que os R$ 5 bilhões anunciados no início da pandemia para socorro à PMEs já estavam se esgotando, mas garantiu que a linha de crédito seria ampliada em mais R$ 5 bilhões. Cenário pouco favorável Após 14 anos funcionando desde o começo da manhã até o começo da madrugada, o Bar do Bigode reabriu em julho, após ficar fechado por causa da pandemia, restringindo o funcionamento ao período diurno. Não há clientela que justifique mantê-lo aberto à noite. Os clientes do bar, tanto no almoço quanto no happy hour, eram majoritariamente funcionários das empresas e alunos das faculdades existentes no entorno. Bar do Bigode, que ficava lotado durante o almoço antes da pandemia, agora amarga sumiço dos clientes Daniel Silveira/G1 “As faculdades seguem sem aulas e as empresas, a grande maioria delas, ainda mantêm os funcionários em home office. Sem contar que muitas empresas fecharam os escritórios definitivamente”, lamentou Bigode. Para tentar aumentar as vendas, ele aderiu a dois aplicativos de delivery, mas ainda não vê sucesso na experiência. “Pelo aplicativo, a gente tem vendido uma, duas refeições por dia”, contou. Além disso, reduziu o preço dos pratos em até 20%. O almoço, que antes da pandemia garantia a venda de cerca de 150 refeições por dia, hoje não chega a 15, segundo o empresário. Ele teme que este cenário perdure por mais tempo. “Eu tenho fé. Mas, acontece que as contas estão aí para pagar. Já passei por poucas e boas [com o bar], mas crise como essa eu nunca imaginei”, disse.