Laboratório de pesquisa diz que elas foram criadas por funcionários de gabinetes da Presidência, dos filhos de Bolsonaro e de outros políticos do PSL. Segundo a rede social, responsáveis tentavam esconder identidade. O Facebook removeu na última quarta-feira (8) uma rede de contas e perfis falsos que, segundo a empresa, estava organizada para gerar desinformação e enganar usuários na plataforma e que eram ligadas a funcionários de gabinete do presidente Jair Bolsonaro, dos filhos dele, Flavio e Eduardo Bolsonaro, e de políticos do Partido Social Liberal (PSL), pelo qual o presidente foi eleito. Foram derrubados 87 perfis e páginas do Facebook e/ou do Instagram, além de um grupo do Facebook. A rede social, no entanto, não divulgou os nomes das páginas e contas removidas. Mas elas foram apontadas em uma investigação feita pelo Laboratório de Pesquisa Forense Digital (DFRLab, na sigla em inglês). É um instituto associado à organização Atlantic Council, dos Estados Unidos, que, em 2018, iniciou uma parceria com o Facebook para avaliar grupos responsáveis por disseminar desinformação em eleições democráticas. Eles tiveram acesso a um total de 80 páginas e perfis antes que fossem removidas pelo Facebook. "Entre esses ativos estavam duplicatas e contas falsas que promoviam Bolsonaro e seus aliados em diversos grupos do Facebook, bem como páginas com centenas de milhares de seguidores, que publicavam memes pró-Bolsonaro e outros conteúdos depreciando seus críticos", afirmou o DFRLab em nota. Veja a lista das páginas removidas que constam do relatório do DFRLab e o que a investigação apontou sobre elas: 20 Oprimir – página foi relacionada com outra também removida, chamada Nordestinos com Bolsonaro AlanaOpressora – página de apoio à deputada estadual Alana Passos (PSL-RJ) alanaopressora (Instagram) – conta de suporte à deputada Alana Passos Anticomunismo Brasil (Facebook) – mesmo logo que a conta no Instagram anticomunismo_brasil (Instagram) – bio direciona para página no Facebook Arquivodoolavo – bio direciona para a página TV Anticomunismo Brasil Artilhariadobem – fazia menções aos deputados Anderson Moraes (PSL-RJ) e Alana Passos Avozdopovonews – fazia comentários na página Artilharia do Bem, também excluída Bolsogordos – conta do Instagram que seguia Paulo Eduardo Lopes, conhecido como Paulo Chuchu, assessor do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) Bolsonaro 2026 – Algoritmo do Facebook sugeriu “Vanessa Navarro”, assessora do deputado Anderson Moraes, como página relacionada Bolsonaro News – página no Facebook da conta do Instagram criada por Tercio Arnaud, assessor da Presidência Bolsonarobravo – conta do Instagram que seguia as contas BolsonaroNews e Vanessa Navarro, assessora do deputado Anderson Moraes, como página relacionada Bolsonaronewsss – página do Instagram registrada por Tercio Arnaud, assessor da Presidência Bolsonaroni – conta que promovia o deputado estadual Anderson Moraes e a página Ideologia Brasil bolsonaropr2022 (Instagram) – páginas no Facebook linkavam para esta conta no Instagram bolsonaroprnoplanalto – DFRLab não deu mais informações Bolsonarorepost – link na bio da página AliancapeloBrasilZN ia para esta conta Bolsoneas (Facebook) – página de Leonardo Rodrigues de Barros Neto, ex-assessor da deputada Alana Passos Bolsoneas (Instagram) – página de Leonardo Rodrigues de Barros Neto, ex-assessor da deputada Alana Passos Casalbolsonaro – links na bio direcionavam para a página Bolsonéas no Facebook Comomeudinheironao – conta do Instagram que seguia Vanessa Navarro, assessora do deputado Anderson Moraes, como página relacionada Cúpula Conservadora – página relacionada a evento que aconteceu em dezembro de 2018, em que Eduardo Bolsonaro foi um dos organizadores Cupulaconservadora – conta no Instagram relacionada a evento que aconteceu em dezembro de 2018, em que Eduardo Bolsonaro foi um dos organizadores Didireita2018 – seguia a conta Bolsonaronewsss direitazonanorterj – era linkada pelas páginas AliançapeloBrasilZN e Arquivo do Olavo Extrema vergonha na cara – página era curtida por Tercio Arnaud, assessor da Presidência Fechadocombolsonar – sem informações dadas pelo DFRLab Gato Fingido – seguia Paulo Chuchu, assessor de Eduardo Bolsonaro Ideologiabrasil – conta de movimento que Leonardo Rodrigues de Barros Neto, ex-assessor da deputada Alana Passos, e o deputado Anderson Moraes afirmam fazer parte Jogo Político – página criada por Leonardo Rodrigues de Barros Neto jogopoliticobr – página criada por Leonardo Rodrigues de Barros Neto Nordestinos com Bolsonaro 2018 – Algoritmo do Facebook sugeriu “20 Oprimir” como página relacionada Notícias de São Bernardo do Campo – Grupo foi excluído Passarinhovoou – DFRLab não deu informações porqueobolsonaro – Conta do Instagram que segue Bolsonaronewsss e Bolsonéas The Brazilian Post – Página de site criada por Paulo Chuchu, assessor de Eduardo Bolsonaro, e Andre Benetti The Brazilian Post ABC – Página de site criada por Paulo Chuchu, assessor de Eduardo Bolsonaro, e Andre Benetti thebrazilianpost – Conta do Instagram de site criado por Paulo Chuchu e Andre Benetti Trumptrust9876 – DFRLab não deu informações tudoehbolsonaro – conta do Instagram que seguia Bolsonaronewsss tvanticomunismobrasil – conta do Instagram que tinha tags para Vanessa Navarro, assessora do deputado Anderson Moraes, e a página Bolsonéas Vim do Futuro pra Dizer que o Bolsonaro Virou Presidente – Página estava offline segundo o DFRLab Perfis apagados Além das 42 páginas e do grupo citados acima, o DFRLab também identificou perfis falsos e contas homônimas que eram ligados a essa rede. O Facebook já havia afirmado que os responsáveis pelas páginas derrubadas tentaram esconder suas identidades. O DFRLab teve acesso a 80 páginas e perfis, incluindo um grupo, de um total de 88 removidos pelo Facebook. Os pesquisadores não recebem a lista completa do Facebook, mas trabalham em parceria com a rede social, analisando a relação entre as diferentes contas e perfis. A conexão entre os perfis foi feita pelo laboratório observando os proprietários dos perfis, seus seguidores e padrão de curtidas entre essas páginas. Entre as contas e páginas divulgadas pelo DRFLab, há ainda menção a outros nomes e perfis, que não foram removidos pelo Facebook, e também a páginas antigas, já removidas. Rede que o DFRLab criou ao analisar as contas e páginas que foram removidas pelo Facebook. Reprodução/DFRLab De acordo com a investigação do DFRLab, algumas dessas contas eram criadas e mantidas por assessores de gabinetes da família Bolsonaro e dos deputados estaduais Alana Passos (PSL-RJ) e Anderson Moraes (PSL-RJ). Esses nomes foram citados pelo Facebook no anúncio de exclusão das páginas. O DFRLab identificou diversos perfis com nomes parecidos com os de assessores desses políticos, com abreviações ou mudanças de sobrenome. Foi o caso de Vanessa Navarro, funcionária do gabinete de Anderson Moraes, e de Leonardo Barros Neto, ex-assessor de Alana Passos. De acordo com o DFRLab, os dois tinham "uma estratégia similar de contas falsas, e aparentam estar conectados a 13 contas que usavam variantes de seus nomes. Essas contas eram usadas para postar conteúdo pró-Bolsonaro em diferentes grupos de páginas". Tercio Arnaud Tomaz, outro nome citado como administrador de contas falsas, é assessor da Presidência da República e faria parte do chamado "gabinete do ódio". Ele também administrou as redes sociais de Jair Bolsonaro na eleição de 2018. Antes, trabalhou no gabinete do vereador Carlos Bolsonaro, no Rio de Janeiro, no cargo de auxiliar de gabinete. Sua página no Facebook foi excluída. O DFRLab aponta que Tomaz era o responsável por "Bolsonaro Opressor 2.0", uma página já removida que publicava conteúdos a favor do presidente, fazia ataques a adversários políticos, como o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), e até ex-ministros do governo, como Luiz Henrique Mandetta (Saúde) e Sergio Moro (Justiça), além de divulgar notícias falsas. A página tinha mais de 1 milhão de seguidores no Facebook. Ainda, Tomaz era responsável pela página "@bolsonaronewsss" no Instagram, também derrubada pelo Facebook. Embora o dono da página fosse anônimo, a informação de registro em seu código-fonte mostra que ela pertence a ele, segundo a investigação. Ela tinha 492 mil seguidores e um total de 11 mil publicações. Outro nome que apareceu na apuração do DFRLab foi o de Eduardo Guimarães, assessor de Eduardo Bolsonaro. Ele já foi apontado pela CPMI das fake news como criador e administrador de páginas que faziam ataques contra adversários do presidente. Perfis pessoais dele foram apagados na última quarta. Paulo Eduardo Lopes, conhecido como Paulo Chuchu, é o outro assessor de Eduardo Bolsonaro apontado na investigação como um dos principais operadores dessa rede que Facebook derrubou. “Ele registrou, por exemplo, um site que era um site teoricamente de notícias independentes, mas que na verdade era pró-Bolsonaro. Ele é um dos coordenadores da Aliança, o partido que o Bolsonaro está tentando formar", afirmou Luiza Bandeira, chefe para a América Latina do DFRLab, ao Jornal Nacional na última quarta. "Ele é um dos coordenadores da Aliança em São Bernardo do Campo. Então, eles tinham um grupo no Facebook também, que faziam se passar por notícias independentes, por jornalismo independente, quando, na verdade, é um esforço de propaganda ligado, nesse caso, a um assessor do Eduardo Bolsonaro.” Ainda segundo o relatório do DFRLab, Jonathan William Benetti, assessor do deputado Coronel Nishikawa (PSL-SP) também fazia parte da rede. Aviso de página removida no Facebook que aparece em páginas listadas pelo DRFLab. Reprodução Como agiam A rede social já tinha informado que decidiu derrubar as contas não com base no conteúdo que as elas compartilhavam, mas pelo comportamento e atividade conjunta, que, segundo a investigação, visava enganar outros usuários sobre quem são e o que estão fazendo. Mensagens dessa rede de apoio com perfis falsos ligada ao presidente Jair Bolsonaro começaram a ser divulgadas antes da eleição presidencial de 2018. Contudo, se intensificaram muito do fim de 2019, quando foram feitos sistemáticos ataques a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e outras autoridades classificadas como adversários políticos do presidente. Essa rede se manteve ativa mesmo depois da instalação da CPI das fake news e da abertura dos inquéritos pelo STF. CPI mista das fake news quer pedir ao Facebook acesso aos dados de contas suspensas “É uma rede antiga, tem páginas que são bem antigas, bem antes da eleição, mas a atividade principal que a gente vê delas foi no final de 2019, início de 2020. Então, tem muitas coisas relacionadas à Covid-19. Tem muitas coisas como eu falei sobre o Congresso, sobre o STF, o que está acontecendo no Brasil agora, então essa rede estava atuando com muita força agora até ela ser retirada do ar pelo Facebook”, destacou Luiza. "A gente vê, todo brasileiro sabe disso, a gente vê no WhatsApp, tem muitos ataques às pessoas, a gente vê no Twitter, então não é só isso, a informação está sempre conectada. Então, o que se estava tentando fazer ali era criar uma narrativa e uma ideia de que aquelas pessoas eram pessoas que deveriam ser desqualificadas por vários motivos distintos." O que é o DFRLab? O Laboratório de Pesquisa Forênsica Digital é um grupo de pesquisa independente que anunciou uma parceria com o Facebook em 2018 para investigar o papel das mídias sociais em eleições e tentativas de disseminação de desinformação política. O grupo é parte menor de uma entidade chamada Atlantic Council, um instituto político norte-americano bipartidário baseado na capital dos EUA, Washington. Esse instituto faz pesquisa em política internacional e assuntos econômicos, com foco na região do Atlântico. Desde o anúncio da parceria, o DFRLab trabalha com informações do Facebook sobre remoção de grupos coordenados, responsáveis por promover o que a rede social chama de “conteúdo inautêntico” — quando um grupo de páginas e pessoas atuam em conjunto para enganar outros usuários sobre quem são e o que estão fazendo. O DFRLab afirma estar à frente de pesquisa em código aberto, com foco em governança, tecnologia, segurança e a interseção dessas áreas. “O DFRLab se mantém comprometido com identificar, expor e explicar a desinformação, onde e quando ela existir”, afirmou o Atlantic Council em comunicado que anunciou a parceria. Outro lado O G1 procurou as assessorias dos parlamentares citados pelo Facebook, os assessores Tercio Arnaud Tomaz, Eduardo Guimarães e Paulo Eduardo Lopes e a Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom), órgão da Presidência da República. Veja abaixo as respostas recebidas até a última atualização desta reportagem. Nota do PSL "A respeito da informação que trata da suspensão de contas do Facebook de alguns políticos no Brasil, não é verdadeira a informação de que sejam contas relacionadas a assessores do PSL, e sim de assessores parlamentares dos respectivos gabinetes, sob responsabilidade direta de cada parlamentar, não havendo qualquer relação com o partido. Ainda, o partido esclarece que os políticos citados, na prática, já se afastaram do PSL há alguns meses com a intenção de criar um outro partido, inclusive, tendo muitos deles sido suspensos por infidelidade partidária. Ainda, tem sido o próprio PSL um dos principais alvos de fake news proferidos por este grupo." Nota da assessoria do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos -RJ) "O governo Bolsonaro foi eleito com forte apoio popular nas ruas e nas redes sociais e, por isso, é possível encontrar milhares de perfis de apoio. Até onde se sabe, todos eles são livres e independentes. Pelo relatório do Facebook, é impossível avaliar que tipo de perfil foi banido e se a plataforma ultrapassou ou não os limites da censura. Julgamentos que não permitem o contraditório e a ampla defesa não condizem com a nossa democracia, são armas que podem destruir reputações e vidas." Eduardo Bolsonaro, deputado federal (PSL-SP) Em uma rede social, o deputado Eduardo Bolsobaro escreveu que, mesmo sem definição do que seja crime de ódio, a rede de Mark Zuckerberg excluiu diversos perfis conservadores no Facebook e no Instagram. Nota da assessoria da deputada estadual Alana Passos (PSL-RJ) "Em nenhum momento fui notificada pelo Facebook sobre qualquer irregularidade ou violação de regras das minhas contas, que são verificadas e uso para divulgar minha atuação como parlamentar e posições políticas. Quanto a perfis de pessoas que trabalharam no meu gabinete, não posso responder pelo conteúdo publicado. Nenhum funcionário teve a rede bloqueada por qualquer suposta irregularidade. Estou à disposição para prestar qualquer esclarecimento, pois nunca orientei sobre criação de perfil falso e nunca incentivei a disseminação de discursos de ódio". Nota da assessoria do deputado estadual Anderson Moraes (PSL-RJ) "Tenho um perfil verificado, que não sofreu bloqueio ou qualquer aviso de ter violado qualquer regra da rede. Mas excluíram a conta de uma pessoa que trabalha no gabinete, uma pessoa com perfil real, não é falsa. A remoção da conta foi absurda e arbitrária, porque postava de acordo com ideologia e aquilo que acreditava. O Facebook em nenhum momento apontou o que estava em desacordo com as regras. Qual motivo excluíram? Falam em disseminação de ódio, mas será que também vão deletar perfis de quem desejou a morte do presidente? O governo Bolsonaro foi eleito com forte apoio nas redes sociais, perfis livres. Querem tolher a principal ferramenta da direita de fazer política. Estão atentando contra a liberdade de expressão e isso contraria princípios democráticos." Nota da assessoria do deputado Coronel Nishikawa (PSL-SP) "Segundo noticiado pela imprensa o funcionário do gabinete Jonathan William Benetti teria contas canceladas ou suspensas pelo Facebook por postagens nas redes sociais com violações e discursos de ódio. Cumpre esclarecer que Jonathan William Benetti é funcionário do meu gabinete desde 18/03/2019 e que quando perguntado do ocorrido informou que sua conta pessoal na rede social foi bloqueada sem saber o motivo. Pauto meu mandato com lisura e honestidade, jamais compactuaria com tais práticas de disseminação de ódio ou Fake News, por isso, apesar de não ter controle sobre as redes sociais particulares dos funcionários, decidi retirar deste funcionário a administração de minhas redes sociais institucionais até que os fatos sejam apurados. Fico à disposição para qualquer esclarecimento adicional e continuo servindo a população do meu Estado de São Paulo referente ao mandato de Deputado Estadual que me foi confiado."