Movimento em um shopping em Fortaleza, no primeiro dia de reabertura do comércio na cidade, no 8 de junho (Daniel Galber/Uai Foto/Estadão Conteúdo)
Grande parte dos shoppings passou de dois a três meses com as portas fechadas. Agora, na reabertura, as vendas estão longe de recuperar o volume de antes da pandemia. A crise econômica, que reduziu os gastos das famílias, as restrições de fluxo e o receio dos consumidores de irem ao shopping reduziram as vendas nessas lojas. Vendedores, que já estavam pressionados pela queda nas vendas, agora sofrem para pagar o aluguel, congelado durante a quarentena.
O faturamento caiu 90% para cerca de um terço (32%) dos comerciantes do estado de São Paulo, em virtude do contexto da pandemia do coronavírus, segundo um levantamento feito pela Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop), entre os dias 24 e 26 de junho. O valor obtido pelas vendas foi diminuído em até 80% para 41% dos lojistas e em até 70% para 24% deles. A entidade representa empresários que respondem por 4.000 pontos comerciais, espalhados por todo o país.
São 105.000 lojas em 577 shoppings no Brasil, com 1,5 milhão de empregos diretos. Segundo Nabil Sahyoun, presidente da Alshop, o setor já viu 120.000 demissões e o fechamento de 12 a 13.000 lojas desde o início da quarentena.
Os shoppings na capital paulista foram autorizados a reabrir no dia 11 de junho, mas com uma série de restrições. Para as lojas de rua, ficou determinado que devem funcionar entre 11h e 15h, enquanto as de shoppings podem optar por abrir as portas no período de 6h às 10h ou de 16h às 20h. Praças de alimentação, cinemas, salões de estética e outros serviços não estão funcionando. Para Sahyoun, isso atrapalha o funcionamento dos shoppings, e os tornam menos atraentes para consumidores. “O shopping está debilitado, com horário restrito e outros serviços que não funcionam. Se continuar com prejuízo, muito lojista vai pular fora”, afirma.
Para o presidente da associação, os shoppings são seguros, pela quantidade de protocolos de segurança – mais do que centros de compras mais abarrotados, como a tradicional rua de comércio 25 de Março, no centro da cidade. “Existe estacionamento, álcool em gel na entrada, sinalização no piso, separação nos caixas, etc”, diz.
De acordo com a Alshop, as lojas de shopping em São Paulo abertas por um período de oito horas estão vendendo de 35% a 40% do que vendiam no ano passado. Já entre as lojas abertas por um período mais restrito de quatro horas, caso de 53 empreendimentos em São Paulo, o faturamento dos lojistas é de apenas 15 a 20% do valor do ano passado.
Dificuldades na reabertura
É o caso da Multicoisas, loja de materiais para casa e escritório que tem 55% de suas lojas em shoppings. Logo no início da pandemia, a empresa acelerou seu projeto de vendas digitais. Integrou 157 de suas 205 lojas em canais digitais como Rappi, plataformas de delivery dos shoppings e comércio eletrônico próprio. Além disso, também vende pelo Whatsapp, com envio de link para pagamento. Segundo o diretor de operações, Jair Tavares, as vendas digitais chegam a 10.000 reais por dia.
A rede diz que não sofreu tanto com a pandemia justamente pelo tipo de produto vendido. Como as pessoas passam mais tempo em casa, percebem mais melhorias que podem ser feitas – e a loja vende justamente itens para pequenas reformas, reparos e para tornar a vida em casa mais fácil.
“As vendas, hoje, estão em 85% do mesmo período do ano passado. Mas há uma grande diferença na performance das lojas de rua em relação às de shopping”, diz Tavares – nos centros de compra, as vendas estão cerca de 55% menores do que no mesmo período do ano passado.
A reabertura do comércio está sendo um desafio, diz o diretor. “Há cidades em que as lojas só podem ficar abertas em um período restrito, em outras as lojas abrem dia sim e dia não, e há praças que, depois da abertura, vão voltar a abrir”, afirma. “Não conseguiríamos fazer isso sem o franqueado na ponta”, afirma, contando que os franqueados são os responsáveis por atualizar a rede com os protocolos e determinações das prefeituras locais.
Para ele, não está claro como a empresa irá lidar com o shopping daqui para a frente. “Quando você se instala em um shopping, contrata também uma previsão de certo fluxo de consumidores. Mas esse fluxo não está acontecendo”, diz o Tavares. A restrição na circulação é um dos fatores que prejudica a entrada de consumidores. Quando há fila para entrar na loja, os vendedores também precisam organizar quanto tempo o consumidor passa do lado de dentro.