Juro médio das operações, do cheque especial e do cartão de crédito caíram no mês passado. Inadimplência também recuou em maio. O volume total do crédito ofertado pelos bancos registrou crescimento de 0,3% em maio, para R$ 3,595 trilhões. Porém, as concessões de novos empréstimos recuaram 3,3% no período, para R$ 289 bilhões. Os números foram divulgados nesta sexta-feira (26) pelo Banco Central.
A redução das concessões do crédito bancário no mês passado ocorreu após ajuste sazonal (uma espécie de "compensação" para comparar períodos diferentes).
Segundo o BC, a quantidade de empréstimos a empresas caiu 6,1%. No caso do volume emprestado a pessoas físicas a queda foi de 1%.
Na parcial dos cinco primeiros meses deste ano, entretanto, os indicadores de crédito bancário cresceram de uma forma geral.
O volume total (estoque) avançou 17,7% no período, ao mesmo tempo em que as concessões totais avançaram 7,6%. Os números refletem a alta dos empréstimos a pessoas jurídicas (+17,7%) e a queda nos volumes para as pessoas físicas (-0,9%).
O chefe do Departamento de Estatísticas do BC, Fernando Rocha, observou que apesar do recuo das concessões de crédito para pessoas jurídicas no mês passado, o nível de desembolso na linha de capital de giro para as empresas permaneceu alto.
Em maio, a concessão na linha de capital de giro somou R$ 33,18 bilhões, com queda frente a abril (R$ 44,76 bilhões), mas permaneceu acima da média mensal de todo ano passado (R$ 18,96 bilhões).
“O crescimento de capital de giro atende às necessidades das empresas, porque o aumento das concessões, mês a mês, mostra que elas estão acessando [essa linha de crédito]. Mas muito provavelmente não atende a toda demanda das empresas”, declarou ele.
Por porte de empresas, Rocha afirmou que está tendo aumento crédito para pequenas e médias empresas, mas acrescentou que também está havendo um “movimento de concentração nas maiores” companhias do país.
A falta de crédito para pequenas e médias empresas é uma das principais reclamações dos empresários durante a crise do novo coronavírus.
A explicação do BC é que, apesar de o crédito para as empresas do país estar "fluindo", a demanda por empréstimos durante a pandemia tem sido superior à oferta, e que, por isso, os bancos não estão conseguindo satisfazer o "surto" de demanda por crédito.
Nesta semana, o BC anunciou novas medidas para direcionar o crédito para este segmento, entre elas uma nova liberação de compulsório.
De acordo com dados do BC, em maio, a evolução do crédito bancário veio acompanhada da redução das taxas de juros – que atingiram a mínima histórica no caso da taxa média geral, e também para as empresas.
A série histórica do BC começa em março de 2011. No caso da taxa média para pessoas físicas, o valor de maio é o menor desde dezembro de 2013.
Crédito emergencial
Ao mesmo tempo em que o BC estimula o crédito bancário, o Ministério da Economia anunciou neste ano três linhas de crédito emergenciais, com a utilização de fundos públicos para garantir parte de eventuais perdas pelos bancos. Porém, as linhas tiveram pouco impacto nas empresas.
As regras do crédito emergencial têm sido criticadas pela demora na regulamentação, por não assumirem todas as possíveis perdas das instituições financeiras, e por exigirem muitas garantias dos empresários neste momento de dificuldades.
uma das linhas de crédito disponibiliza um total de R$ 40 bilhões, com juros de 3,75% ao ano, mas só pode ser acessada caso as empresas não demitam os trabalhadores. Os recursos são depositados direto nas contas dos funcionários. Como a adesão foi baixa até o momento, com R$ 4,05 bilhões em crédito contratados, ela será reformulada.
outra é o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe). A linha de crédito foi sancionada pelo presidente da República em 19 de maio, para capital de giro (despesas como água, luz, aluguel, reposição de estoque, entre outras), com possibilidade de emprestar até R$ 18 bilhões. Os juros são de 1,25% ao ano, mais a taxa Selic (atualmente em 3% ao ano). Os primeiros bancos, como a Caixa, começaram a operar a linha de crédito somente na semana passada.
a terceira é a linha de crédito para pequenas e médias empresas, fruto da MP 975, que ainda não não pode ser encontrada nos bancos pois ainda precisa ser regulamentada. A ideia é atender empresas que empregam 3,3 milhões de trabalhadores. O governo busca começar a disponibilizar os valores no fim deste mês.
Por conta das medidas do BC de estímulo ao crédito bancário e das linhas emergenciais, nesta semana instituição elevou a previsão de aumento do crédito bancário. A projeção passou de 4,8% para 7,6% neste ano. Assim, a instituição passa a estimar uma aceleração em 2020, com uma alta maior do que a registrada no ano passado – que foi de 6,5%.
Juros bancários, 'spread' e inadimplência
De acordo com o BC, de abril para maio, houve queda nos juros médios das instituições com recursos livres (sem contar BNDES, crédito rural e imobiliário):
a taxa média total (pessoa física e jurídica) passou de 31,3% ao ano, em abril, para 29,5% ao ano em maio;
os juros nas operações com pessoas físicas passaram de 44,6% ao ano, em abril, para 42,7% ao ano, em maio;
a taxa média cobrada das empresas caiu de 15,7% ao ano, em abril, para 14,2% ao ano, no mês passado.
A queda dos juros bancários médios e das operações com pessoas físicas acontece em um momento de estabilidade da taxa básica de juros da economia. Em maio, a Selic foi baixada pelo BC para 3% ao ano e, em junho, recuou novamente – para 2,25% ao ano (mínima histórica).
De acordo com o BC, o chamado "spread" bancário (diferença entre quanto bancos pagam pelos recursos e quanto cobram dos clientes) médio passou de 26,2 pontos percentuais, em abril, para 24,6 pontos percentuais em maio.
Nas operações com pessoas físicas, houve redução de 38,8 pontos em abril para 37,2 pontos em maio deste ano. Com isso, mesmo com a redução no mês passado, o "spread" bancário ainda segue em patamar elevado para padrões internacionais.
O "spread" é composto pelo lucro dos bancos, pela taxa de inadimplência, por custos administrativos, pelos depósitos compulsórios (que são mantidos no Banco Central) e pelos tributos cobrados pelo governo federal, entre outros.
A taxa de inadimplência média dos bancos em todas operações de crédito, por sua vez, recuou 0,1% em maio, para 3,2%, contra 3,3% em abril. No caso das operações com pessoas físicas, a inadimplência passou de 4% em abril para 3,9% em maio, e nas empresas, ficou estável em 2,3%.
Cartão de crédito rotativo
Os números do BC mostram que também houve queda nos juros bancários nas operações com cheque especial das pessoas físicas em maio, e também no cartão de crédito rotativo. Ainda assim, essas linhas seguem com taxas elevadas, e, no caso do cartão rotativo, proibitivas.
Segundo a instituição, a taxa média do cartão de crédito rotativo, para as pessoas físicas, passou de 313,7% ao ano, em abril, para 303,4% ao ano, em maio.
O crédito rotativo do cartão de crédito pode ser acionado por quem não pode pagar o valor total da sua fatura na data do vencimento, mas não quer ficar inadimplente.
Para usar o crédito rotativo, o consumidor paga qualquer valor entre o mínimo e total da fatura. O restante é automaticamente financiado e lançado no mês seguinte, com juros.
Essa é uma das linhas de crédito mais caras do mercado e, segundo analistas, deve ser evitada. A recomendação é que os clientes bancários paguem todo o valor da fatura mensalmente.
Cheque especial
Os juros bancários cobrados de pessoas físicas no cheque especial também registraram queda em maio e, assim, continuaram abaixo do teto estabelecido pelo Banco Central para essa modalidade de crédito.
De acordo com a instituição, a taxa média dos bancos nas operações com cheque especial somou 117,1% ao ano (6,7% ao mês) em maio, o quinto mês de vigência da regra que impôs limites para os juros. Em abril, estava em 119,6% ao ano (6,8% ao mês).
Desde janeiro, o limite para a taxa de juros do cheque especial pessoa física fixado pelo Banco Central é de 8% ao mês, o equivalente a cerca de 150% ao ano.
Pelas regras definidas pelo Banco Central, os bancos já podem cobrar tarifa para disponibilizar crédito por meio do cheque especial para pessoas físicas no valor acima de R$ 500, mas as maiores instituições financeiras do país informaram que não levarão adiante essa cobrança.
Apesar da queda, o cheque especial ainda é uma linha cara, quando comparada com os juros médios para pessoas físicas. Ela é classificada como "emergencial" e, segundo analistas, deve ser utilizada, somente se for realmente necessário, por um período curto de tempo.