Região não apresenta achatamento da curva de contágio e, assim, medidas de isolamento social devem durar mais tempo. Ponte Octavio Frias de Oliveira vazia por causa da quarentena em SP REUTERS/Leonardo Benassatto As falhas no combate à pandemia do novo coronavírus na América Latina vão afetar os indicadores econômicos da região também no terceiro trimestre de 2020. O prenúncio é do Fundo Monetário Internacional (FMI), registrado no relatório "Previsões para América Latina e Caribe: Uma pandemia que se intensifica", divulgado nesta sexta-feira (26). Com impacto do coronavírus, FMI prevê queda de 9,1% para o PIB do Brasil neste ano A análise toma por base o fato de que a América Latina concentra cerca de 25% dos casos mundiais do novo coronavírus e não apresenta ainda o achatamento das curvas de contágio. Com isso, a aposta é que medidas de distanciamento social precisem permanecer em vigor por mais tempo, gerando depressão e econômica e dificuldades de recuperação. "Muitos países da região têm altos níveis de informalidade e pouco preparo para lidar com novos surtos, pela alta ocupação de leitos de UTI e pequena capacidade de testagem e monitoramento de doentes", diz Alejandro Werner, diretor do Departamento do Hemisfério Ocidental do FMI. "Diante deste cenário, os países devem adotar bastante cautela ao considerar a abertura da economia e permitir que a ciência e os dados guiarem o processo", afirma. FMI: países da América Latina não apresentaram achatamento da curva e devem ter isolamento social por mais tempo Divulgação/FMI Na última quarta-feira (24), o FMI revisou a previsão de queda das economias mundiais no relatório World Economic Outlook. O documento mostra uma piora generalizada para a atividade econômica em todo o globo, confirmando que os estragos econômicos da pandemia são mais intensos do que o previsto inicialmente. A revisão para baixo aconteceu para todo o continente, mas o cenário para o Brasil é mais pessimista que a média. O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro deve recuar 9,1% segundo a nova projeção, versus queda de 5,3% previstas pelo fundo em abril. "As autoridades responderam fortemente à pandemia, com cortes expressivos da taxa de juros, pacotes fiscais e de liquidez, incluindo depósitos diretos em dinheiro aos grupos vulneráveis", diz Alejandro Werner. "A retirada dos estímulos, contudo, vai impactar o crescimento de 2021, já que a economia enfrentava problemas desde 2015/2016." "Nesse contexto, políticas de acomodação monetária serão necessárias para apoiar a retomada, além de uma agenda fiscal para recuperar a confiança de investidores", resume. Juliana Rosa: ‘FMI prevê queda de 9,1% do PIB brasileiro’ Segundo o relatório de Alejandro Werner, a piora dos números teve como plano de fundo os resultados de produção mais negativos do primeiro trimestre e mostras de que o segundo trimestre também pode vir abaixo da projeção. Para o economista, os riscos de saúde pública são altos, mas é preciso observar o cenário financeiro de países desenvolvidos e monitorar as trocas possíveis para comércio exterior e financiamento de dívida como possível caminho de melhora. "Surpresas positivas também podem acontecer. Os indicadores de economias desenvolvidas vieram melhores do que o esperado. O crescimento global também pode seguir o caminho, apoiando mais exportações, preços de commodities e o turismo", diz Werner. Preocupação fiscal O FMI ressalta que os países da região devem manter programas de estímulo à manutenção de empregos e de transferência de renda. No Brasil, é o caso do Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda e do Auxílio Emergencial. Em especial em países de alta informalidade, o FMI fala que governantes devem achar "soluções criativas" para oferecer suporte às populações vulneráveis. Com o cenário geral de inflação baixa, a política monetária também deve continuar criando estímulos, segundo o relatório. O fundo alerta, contudo, que os países não devem perder de vista a preocupação fiscal e com dívida pública. "O compromisso com planos de segurança fiscal de médio prazo e de reformas para crescimento sustentável serão chave para mitigar preocupações com a dívida", diz o texto.