Um circo social que oferece programas de educação e cultura, no Centro do Rio, colocou um grupo de pesquisadores na rua. Bateram de porta em porta para saber quantas pessoas vivem em cada casa, como e em quais condições. Iniciativas da sociedade civil preenchem vazio do governo no socorro aos mais vulneráveis
Iniciativas da sociedade civil estão preenchendo o buraco deixado pelo governo federal no socorro aos mais vulneráveis.
Repórter: O senhor se inscreveu no programa emergencial do governo que paga R$ 600?
Edson Tomé da Silva, carpinteiro: Inscrevi.
Repórter: O senhor foi atendido?
Edson: Não. Até hoje. Sempre estava em análise, análise, análise. Eu desisti.
Repórter: Esse dinheiro faz falta para o senhor?
Edson: Claro que faz. Eu não tenho renda nenhuma.
A vida também está dura para a autônoma Regina Maria de Matos. Na casa dela, está faltando o básico. “Passou a faltar mistura, o pão, que as crianças gostam bastante. Passou a faltar um pouco mais de dignidade, porque a mesa realmente reduziu bastante”, conta.
Milhões de brasileiros não são atendidos pelos programas federais de complemento de renda, como o auxílio emergencial que paga R$ 600, por exemplo, e estão passando por dificuldades nessa pandemia. Essa população invisível para o governo é bem visível para as organizações sociais que trabalham nas regiões pobres das grandes cidades.
Um circo social que oferece programas de educação e cultura, no centro do Rio, colocou um grupo de pesquisadores na rua. Bateram de porta em porta para saber quantas pessoas vivem em cada casa, como e em quais condições.
Repórter: Que tipos de famílias diferentes vocês encontraram?
Luiz Pesca, pesquisador: Famílias que não têm renda nenhuma, renda nenhuma mesmo, zero de renda.
Foram mapeadas 2.269 famílias, 6.743 pessoas que passaram a contar com uma ajuda de R$ 120 pagos por empresas em forma de cartão alimentação.
Repórter: Esse benefício ajuda de que forma?
Moradora: Ele está ajudando mais na hora de ir ao mercado.
Os pesquisadores do circo, que também são moradores da região, mapearam 593 idosos que agora recebem, dia sim, dia não, a visita dos vizinhos jovens. Eles acompanham a saúde dos mais velhos.
“Perguntam da minha saúde, se eu vivo bem, se eu peguei algum resfriado. Se eu preciso de alguma coisa”, conta uma senhora.
As informações abastecem um aplicativo pelo telefone celular. Cada idoso tem a saúde monitorada em tempo real.
“Nesse momento, temos gente na rua fazendo entrevista e, conforme vai sendo feita a entrevista, ele vai sendo atualizado automaticamente”, explica Rodrigo Costa, geógrafo.
Um grupo de infectologistas se juntou à iniciativa. Eles monitoram cada perfil para acompanhar a evolução local da pandemia.
“Quando nós conseguimos entender o impacto disso dentro dessa sociedade e como epidemia, como um estudo local, a gente consegue dar um melhor instrumento de saúde, melhor acesso de saúde a essa população”, avalia Alexandre Brandão, médico especialista em saúde pública.
“A gente teria, com certeza, assistido muito mais gente se o governo olhasse para essa tecnologia social, que é a experiência de organizações sociais que atuam em territórios empobrecidos de todas as periferias urbanas do Brasil ou mesmo do interior do país”, destaca Junior Perim, criador do Circo Crescer e Viver.
O Ministério da Cidadania afirmou que o Edson teve o auxílio recusado porque duas pessoas da família dele já receberam.