Em meio à pandemia do coronavírus, previsão para o déficit em transações correntes passou de US$ 41 bilhões para US$ 13,9 bilhões com desaquecimento da economia mundial. O Banco Central (BC) baixou de US$ 41 bilhões para US$ 13,9 bilhões a estimativa de déficit nas contas externas em 2020. A mudança foi divulgada nesta quinta-feira (25) no relatório de inflação do segundo trimestre.
Se confirmado, esse será o melhor resultado desde 2007, quando foi registrado um superávit de US$ 408 milhões nas chamadas "transações correntes". Ou seja, será o melhor saldo em 13 anos. As contas externas apresentaram saldo positivo nos últimos três meses.
A conta de transações correntes é formada pela balança comercial (comércio de produtos entre o Brasil e outros países), pelos serviços (adquiridos por brasileiros no exterior) e pelas rendas (remessas de juros, lucros e dividendos do Brasil para o exterior). Trata-se de um dos principais indicadores do setor externo brasileiro.
"Foram determinantes para essa revisão os efeitos econômicos da Covid-19, que contribuíram para a desaceleração do comércio global, bem como para redução na projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) doméstico para 2020 e para deterioração do ambiente de investimento internacional", informou o BC, no relatório de inflação.
A lógica é que, com a desaceleração da economia mundial, os resultados positivos das empresas diminuem e, como parte delas é estrangeira, as remessas de lucros e dividendos ao exterior também caem. Ao mesmo tempo, com as fronteiras fechadas e com o dólar alto, os gastos de brasileiros no exterior também recuam neste ano.
Menos investimentos estrangeiros
De acordo com o Banco Central, porém, o ingresso de investimentos estrangeiros diretos na economia brasileira também será afetado.
A nova estimativa é de que a entrada desses recursos some US$ 55 bilhões em 2020, o que, se confirmado, será o menor valor desde 2009 (US$ 31,48 bilhões), ou seja, em 11 anos.
No relatório de inflação anterior, divulgado em março, o BC estimou que a entrada de investimentos estrangeiros somaria US$ 60 bilhões em 2020.
No início deste ano, a previsão da instituição era de um ingresso bem maior: de US$ 80 bilhões em investimentos estrangeiros.
Balança comercial
O BC também revisou, para cima, sua previsão para o saldo positivo (exportações menos importações) da balança comercial em 2020.
No relatório de inflação anterior, divulgado em março, a instituição projetava um saldo comercial positivo de US$ 33,5 bilhões em 2020. No documento divulgado nesta semana o valor foi elevado para um superávit de US$ 39 bilhões.
De acordo com o BC, a previsão para as exportações, em 2020, passou de US$ 191 bilhões para US$ 187,5 bilhões. Porém, a estimativa das compras no exterior recuou ainda mais, passando de US$ 157,5 bilhões para US$ 148,5 bilhões.
"Para as exportações, a queda reflete, principalmente, diminuição generalizada dos preços internacionais e do quantum de produtos manufaturados. Espera-se, em contrapartida, aumento do quantum exportado de básicos, cuja demanda tem se mostrado resiliente até o momento", informou o Banco Central.
Do lado das importações, acrescentou a instituição, a redução tem como "fator determinante" a desaceleração da atividade doméstica em meio à pandemia da Covid-19, com "impacto mais acentuado em bens duráveis e combustíveis".
"A desvalorização do real frente ao dólar americano e a redução dos preços internacionais de bens importados também contribuem para a queda [das compras no exterior]", concluiu o BC.