Professora que estuda k-pop nos EUA analisa conexão entre os fãs e a ligação com as comunidades negra e LGBT, que potencializa as ações antirracistas e contra Trump no Twitter e no Tik Tok. Semana Pop: Fãs de k-pop contribuem com movimento antirracista com doações e vídeos Legiões de fãs do K-pop e usuários da rede social TikTok atribuem a si próprios a sabotagem a um ato de campanha do presidente americano, Donald Trump, no último fim de semana, ao terem reservado entradas em massa sem a intenção de comparecer ao evento, marcado por um público reduzido. Embora determinar o verdadeiro impacto da campanha virtual entre o público do comício seja quase impossível, a ação destacou a tradição dos fãs do K-pop de serem politicamente engajados. No último mês, os amantes deste gênero pop de alcance mundial nascido há cerca de 25 anos na Coreia do Sul adotaram a hashtag "#WhiteLivesMatter", com imagens relacionadas ao K-pop, para abafar a enxurrada de tuítes racistas na rede. "O K-pop tem uma cultura de ser responsável", explica CedarBough Saeji, da Universidade de Indiana, acadêmica especialista no gênero. "Os fãs deste estilo musical costumam ser pessoas com consciência social". A pesquisadora ainda acrescentou à agência AFP que o gênero conta com um amplo apoio entre a comunidade negra e os LGBTQ. Fãs de K-pop 'invadem' campanhas contrárias à luta antirrascista nas redes sociais para esconder publicações Reprodução/Instagram Caso do comício de Trump Antes da realização do evento, em Tulsa, Oklahoma, o chefe da equipe eleitoral de Trump anunciou no Twitter que haviam sido solicitados mais de 1 milhão de ingressos. Mas segundo o Departamento de Bombeiros local, apenas 6,2 mil pessoas compareceram. Publicações que viralizaram nas redes sociais TikTok e Twitter revelaram que o plano de reservar entradas em massa circulou durante dias, acumulando centenas de milhares de visualizações. Um vídeo pediu a participação de fãs da BTS, "boyband" sul-coreana que se tornou uma das mais populares do K-Pop, com mais de 21 milhões de seguidores apenas no Twitter. Comício de Trump teve muitos lugares vazios em Tulsa neste sábado (20) AP Photo/Evan Vucci Brad Parscale, gerente de campanha de Trump, culpou "manifestantes radicais" por "interferirem" no ato político. Mas Alexandria Ocasio-Cortez, congressista do Partido Democrata, respondeu: "Você foi apenas SACUDIDO por adolescentes no TikTok." "Aliados do K-Pop, também vemos e apreciamos a sua contribuição na luta por justiça", acrescentou a deputada, 30, representante de Nova York. Alexandria Ocasio-Cortez é mais conhecida como AOC Reuters/Erin Scott Black lives matter Depois que a BTS colocou 1 milhão de dólares atrás do movimento Black Lives Matter, a organização beneficente coletiva de fãs conhecida como One in An ARMY arrecadou outro milhão, para igualar o montante doado às causas contra o racismo e a violência policial. "As músicas da BTS nos motivaram a ter confiança em nós mesmos, sermos gentis com os outros e nos colocarmos à disposição para ajudar", diz Dawnica Nadora, voluntária de 27 anos do braço americano da organização. CedarBough Saeiji destaca a "mensagem de positividade" por trás do ativismo dos fãs: "O K-pop atrai as pessoas que gostam deste tipo de música, mas que também querem fazer do mundo um lugar melhor." Lil Nas X e BTS cantam no Grammy 2020 Matt Sayles/Invision/AP Força poderosa A consciência social e a compreensão da Internet como ferramenta fazem com que a base de fãs do K-pop seja uma força poderosa. "Eles estão o tempo todo conectados. Os organizadores do K-pop estão, principalmente, no Twitter", conta Saeji, assinalando que sua compreensão dos algoritmos da Internet os converte em um grupo poderoso em matéria de organização na rede. Segundo a rede social, a hashtag #KpopTwitter somou um recorde de 6,1 bilhões de tuítes em 2019. "Temos muita sorte de os ARMYs (exércitos de fãs) se apoiarem mutuamente, apesar de, frequentemente, estarem a milhares de quilômetros de distância uns dos outros", diz Nadora, voluntária e fã da BTS. Embora alguns analistas políticos achem que o esforço virtual para aguar o comício de Trump tenha sido apenas uma brincadeira, vários comentaristas, entre eles CedarBough Saeiji, afirmam que ele representa muito mais do que isso: "Corromperam todos esses dados que a campanha de Trump tentava coletar. Basicamente, mostraram à campanha que ela não poderá confiar em nenhum de seus números no futuro."