Cantora paraibana faz live junina neste sábado (13): 'Evidente que não é a mesma coisa.' Ao G1, ela descreve dia do nascimento do filho, após uma festa; ouça podcast. Com quase 40 anos de carreira, Elba Ramalho já viajou muito pelas cidades do Brasil durante junho, já fez show de São João grávida de oito meses, já fez uma turnê inteira com chikungunya e agora se prepara para celebrar essa festa tão importante para a cultura do Nordeste através de lives. A cantora paraibana costuma fazer cerca de 20 shows no período, mas viu o número cair para três lives neste ano. A primeira acontece neste sábado (13) e vai ser transmitida de casa em São Conrado, no Rio. "É um ano atípico, então vai ser algo inusitado que a gente está tentando improvisar e realizar da melhor forma possível para que a gente mantenha viva a chama do São João", diz Elba ao G1. "Evidente que não é a mesma coisa. Todo mundo está louco para sair na rua, louco para se vestir bonito, para encontrar, paquerar, beber, namorar, mas a gente está vivendo um momento adverso àquilo que a gente está acostumado." Na entrevista, Elba lembra do dia do nascimento do filho no dia de São João e da relação com Luiz Gonzaga e Dominguinhos. Pé no chão e sincera, a paraibana diz que é "estradeira" e sente falta da produção para os shows, das viagens, mas não reclama do tempo em casa durante quarentena. G1 – Elba, você tem quase 40 anos de carreira e muitas passagens pelas grandes festas de São João. Como vai ser esse mês de junho sem as festas pra você? Elba Ramalho – É um ano atípico, vai ser algo inusitado que a gente está tentando improvisar e realizar da melhor forma possível para que a gente mantenha viva a chama do São João, da tradição que é tão importante para o Brasil, principalmente para a grande nação nordestina. Evidente que não é a mesma coisa, todo mundo está louco para sair na rua, louco para se vestir bonito, para encontrar paquerar, beber, namorar, mas a gente está vivendo, como eu digo, um momento adverso aquilo que a gente está acostumado. São João na pandemia: nordestinos reinventam tradicional festa popular Eu vou estar presente porque a minha parte é animar, fazer com que as pessoas dancem. As comidas, as famílias junto, a fogueira é tudo muito significativo para mim desde criança, mas eu sou uma pessoa extremamente adaptável e conformada. Pode? Pode. Não pode? Vamos adaptar, vamos fazer as lives solicitadas e tentar levar pedir para as pessoas arrastaram o sofá de casa e a gente começar o nosso forró daqui e eles dançarem de lá. Vai ser isso. G1 – Imagino que seja um mês muito movimentado de shows. Você sabe o número de shows marcados que você tinha para este São João? Elba Ramalho – 17, 18, 20 por aí. Se deixar a gente faz uma agenda até o dobro disso, mas eu não trabalho assim. Eu primo muito pela qualidade do show, trabalho com uma super produção com bailarinos, com orquestra. Prefiro fazer uns 20, porque aí eu tenho 10 dias entremeados para descansar e para me deslocar. G1 – Você tem algum tipo de preparação especial para essa maratona de shows? Elba Ramalho – É uma coisa padrão já. Eu não paro de me exercitar. Mesmo nessa quarentena, eu mantenho essa tradição de correr e fazer uma boa alimentação, dormir bastante. Exercitar a voz também, porque a gente acaba esfriando. Não é como você estar movimento, até porque aquele cansaço, aquelas noites viradas, aquilo faz parte também do gás. O gás é girado como se diz no limite, no extremo. "Só para você entender no ano passado eu peguei chikungunya no mês de junho e fiz a turnê inteira sabe Deus como. Eu não esmoreci porque a voz estava ótima. Botei um grupo de bailarinos, eu cantava e dançava na medida do possível. Foi difícil, então esse ano com essa pandemia aí, a gente dentro de casa vai ser facílimo, vai ser moleza até." G1 – Realmente, pensando nessa experiência de 2019… Elba Ramalho – Dentro de casa, fazer show de live é fácil. Claro que falta a mola propulsora que é o incentivo que todo artista tem que é o público respondendo: "Levanta o braço, diga aí" e todo mundo canta um pedacinho por você. Essa parte a gente perde, é muito ruim. A gente se sente muito solitário, mas é o jeito. Como diria minha mãe, a gente tem que se adaptar as circunstâncias. Elba Ramalho gravou um DVD no São João de Campina de Grande em 2019, mas o material ainda não foi lançado por conta da pandemia Junot Lacet Filho / Divulgação G1 – Você também é daquelas pessoas que esperam ansiosamente pelas festas juninas e por todas as celebrações de junho? Elba Ramalho – Tudo é expectativa. As turnês aqui, as turnês fora do Brasil, as turnês de fim de ano, de carnaval. O São João é aquilo vários figurinos, repertório, a banda vem pra cá para o meu estúdio, a gente ensaia bastante, passa o repertório para os bailarinos. Existe toda uma grande produção que envolve tudo isso e esse ano não está acontecendo. Eu já não sei se hoje é segunda, terça, quarta, quinta ou sexta, mas eu sei que está sendo diferente. No fundo, eu estou confortável, te juro, não estou reclamando da quarentena, não estou reclamando de estar em casa. "Mas eu sinto falta do movimento, eu sou uma pessoa que gosta de trabalhar, sou estradeira. Eu gosto do palco, gosto de estar bonita ali enfeitada, bem vestida, banda afiada." Eu me divirto muito e é terapêutico também. Então sinto falta sim, de tudo isso e, principalmente, dos shows em si também que são meu ganha pão. Eu pago minhas contas com isso. G1 – O São João de Campina Grande foi adiado para outubro e não cancelado. Você acha que tem chance da festa acontecer? Elba Ramalho – Eu acho que sim, tem toda chance. É muito importante para a cidade turisticamente, culturalmente, economicamente falando. Deus queira que aconteça e eu vou estar lá de novo. G1 – Isso que eu ia comentar o impacto econômico de não ter São João é grande… Elba Ramalho – O Brasil precisa pensar de que forma vai voltar a economia funcionar, porque o impacto já é muito grande. A gente já está três meses em isolamento, isso é ruim para o país. Se o Brasil tivesse tido mais respeito pelo vírus e mais obediência não estaria passando por isso. O próprio povo foi desobediente, foi negligente. Setores amargam adiamento do São João 2020 de Campina Grande: 'tudo para mim', diz comerciante Mas eu acho que a gente é forte. Eu tive várias pessoas passando próximas que tiveram e passaram pelo vírus sem grandes danos. Nem todo mundo vai morrer, nem todo mundo vai ser entubado em um hospital. G1 – Imagino de depois de tantos anos você tenha vivido muitas histórias diferentes e emocionantes no São João. Você tem alguma que te marcou mais? Foto de Elba Ramalho grávida de Luã foi projetada no show no São João de Campina Grande em 2019 Divulgação Elba Ramalho – Acho que foi o nascimento do meu filho. Eu saí do Rio com oito meses de gravidez, fui fazer um show em Campina Grande na festa de São João no dia 24. Acordei no dia 25, fui tomar café com Luiz Gonzaga, depois fomos para a casa da minha irmã almoçar, comer aquele feijão verde, aquela macaxeira, aquela comida típica toda na mesa. "De repente eu pari. A bolsa estourou era seis e pouca da tarde, não tinha médico, não tinha anestesista, ninguém encontrava ninguém. Campina Grande tem muita força e tradição na festa, as pessoas se entregam nesse período ao São João." Às 21h30 eu estava parindo meu filho Luã de forma inusitada com 8 meses. Me surpreendeu, surpreendeu a todos, mas foi um São João que eu não vou esquecer jamais de 1987. G1 – Nossa, imagino o desespero… E com Luiz Gonzaga, Dominguinhos alguma história marcante? Como era a convivência com eles? Elba Ramalho – Eu sou fruto de Dominguinhos, Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Marinês. Eu convivi com todos eles e de forma intensa. Eu me tornei a outra cachacinha de Gonzaga, a primeira era Gonzaguinha. Era muito amigo, um paizão. A gente se conheceu em uma festa de São João em Recife muitos anos atrás, logo no começo da minha carreira. Ele veio pra mim tão carinhoso, tão amoroso, me abraçou, colocou na minha mão as responsabilidades de levar adiante essa cultura. Ele tinha certeza que eu ia conseguir fazer, ele profetizou isso acho que se cumpriu. [risos] Dominguinhos nem se fala. Foram 40 músicas gravadas ao longo de 40 anos de carreira. É um amigo que eu perdi, mas me mantenho próxima através da música, porque o poeta vai, mas a sua obra se eterniza. É um dos que eu mais sofro de saudade, porque eu era muito amiga, muito irmão. É uma escola de sanfona, de acordeon, de canto também, uma escola de gentileza e delicadeza, que é o que falta hoje no mundo. G1 – Enquanto a gente espera as festas voltarem a acontecer, as lives surgiram como alternativa também no São João. Conta um pouco o que você está preparando para essa de sábado. Elba Ramalho – As músicas não podem faltar são as músicas de São João: "Olha pro céu", "Xote das Meninas". A gente vai passear por todos os ritmos, cantar os baiões de Gonzaga. Vai ter muito alegria, vai ser um repertório para dançar. Possivelmente eu pego o violão e faço Chão de Giz para a galera que curte uma música mais romântica. G1 – Quais eram os seus planos para 2020? O que você tinha programado para depois do carnaval? Elba Ramalho – Era para ter lançado o DVD que eu gravei em Campina Grande com Rogério Flausino, com Sideral, Zélia Duncan, Agnes Nunes, Toni Garrido. Todos esses convidados participaram da festa de Campina Grande do dia 23. Eu não pude andar mais por conta desse blecaute que teve. Estou aproveitando o descanso e o silêncio para abrir o estúdio e a gente trabalhar juntos e gravar meu novo disco. Estou sendo avó, porque minha neta nasceu e eu estou cuidando dela. Estou muito feliz, cheia de luz e de alegria. Também estou me preparando para quando retomar cumprir toda a agenda que foi adiada e não cancelada. Só a turnê na Europa que foi cancelada, até segunda ordem não sabemos para quando. Amiga, é vida que segue. Elba Ramalho aproveita a quarentena para curtir a primeira neta Reprodução/Instagram/Elba Ramalho