Ao todo, 85,7% dos brasileiros se dedicaram aos afazeres domésticos em 2019. Mulheres dedicam quase o dobro de tempo a mais que os homens na rotina do lar. Uma pesquisa divulgada nesta quinta-feira (4) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que, em quatro anos, aumentou em 11,7 milhões o número de brasileiros que se dedicam a algum tipo trabalho não remunerado no país. O que mais cresceu foram os afazeres domésticos. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), referentes a 2019, ano em que o país registrou recorde da informalidade no mercado de trabalho brasileiro. Neste levantamento, o IBGE investigou quatro formas de trabalho que, se fossem remuneradas, poderiam agregar valor ao Produto Interno Bruto do país. São elas: Afazeres domésticos Cuidados de pessoas Produção para o próprio consumo Trabalho voluntário Trabalho não remunerado Economia G1 Ao todo, segundo o IBGE, 150.260 milhões de brasileiros realizaram algum destes trabalhos não remunerados. Em 2016, quando teve início a série histórica da pesquisa, esse contingente era de 138.584 milhões – uma alta de 8,4% em quatro anos. O instituto enfatizou que uma pessoa pode realizar mais de uma destas formas de trabalho, além de ainda desenvolver alguma atividade remunerada no mercado de trabalho, seja ela formal ou informal. O que mais cresceu nestes quatro anos foi o contingente de pessoas que realizam afazeres domésticos – aumentou em 11,8 milhões – seguido pelo grupo dos que se dedicam aos cuidados de pessoas, que teve alta de 9,5 milhões de pessoas. Já o número de brasileiros que produzem algo para consumo próprio aumentou em 2,3 milhões, enquanto o contingente dos que realizam trabalho voluntário cresceu em 439 mil pessoas. Na passagem de 2018, porém, houve queda no número de pessoas que realizam produção para o próprio consumo (-254 mil pessoas) e que se dedicam a trabalhos voluntários (-281 mil) – foi a segunda queda seguida para este tipo de atividade. As outras duas formas de trabalho mantêm crescimento anual ao longo da série histórica da pesquisa. Trabalho não remunerado Economia G1 Mais homens nas atividades do lar Na passagem de 2018 para 2019, aumentou em 1,6 milhão o número de brasileiros que se dedicam a algum tipo de afazer doméstico. As mulheres continuam liderando os cuidados com o lar, mas foi entre os homens em que este tipo de trabalho cresceu – ao menos na taxa de realização. De acordo com o levantamento, 146,5 milhões de pessoas fizeram algum tipo de afazer doméstico em 2019. Um ano antes, esse número era de 144,9 milhões – cresceu em 840 mil o número de mulheres que se dedicavam a essas atividades, enquanto o contingente de homens aumentou em 791 mil. Apesar do aumento em números absolutos ter sido maior entre as mulheres, foi entre os homens que se observou crescimento da taxa de realização de afazeres domésticos. A deles cresceu em 0,4 pontos percentuais (p.p.), enquanto a delas recuou em 0,1 p.p., mesmo movimento observado entre o total da população. Em 2019, a taxa de realização de afazeres domésticos no país foi de 85,7%, enquanto a dos homens foi de 78,6% e a das mulheres, de 92,1%. O IBGE destacou que a taxa de realização de afazeres domésticos dos homens só é equivalente à das mulheres quando moram sozinhos. De acordo com a analista do IBGE, Adriana Beringuy, o crescimento da taxa apenas entre os homens pode ser explicada pelo justamente pelo crescimento do número de pessoas morando sozinhas em 2019. “Embora não tenhamos a desagregação por sexo, a Pnad já mostrou a única categoria de domicílio que cresceu em 2019 foi a de apenas um morador. Todas as outras ou ficaram estáveis, ou diminuíram”, apontou. Segundo a pesquisadora, de 2018 para 2019 aumentou em cerca de 700 mil o número de domicílios com apenas um morador no país. Dentre as atividades consideradas como afazeres domésticos, os homens só superam as mulheres quando se trata de fazer pequenos reparos ou manutenção no domicílio – seja na estrutura da casa, no automóvel ou de eletrodomésticos, por exemplo. Tipos de afazeres domésticos e a diferença na proporção de dedicação a essas atividades entre homens e mulheres Aparecido Gonçalves/G1 A maior dedicação das mulheres aos afazeres domésticos em relação aos homens é evidenciada ainda mais quando se compara o tempo médio semanal gasto com essas atividades – elas dedicam praticamente o dobro a mais de horas que eles quando ambos são desempregados. Quando ambos são ocupados no mercado de trabalho, elas dedicam 8,1 horas a mais que eles. Outros dados da pesquisa mostram que: Por grupos etários, a taxa de realização de afazeres domésticos é maior entre adultos de 25 a 49 anos (89,2%) que entre jovens de 14 a 24 anos (76,9%). A menor taxa ocorreu entre homens de 14 a 24 anos (67,8%) e a maior entre mulheres de 25 a 49 anos (95,5%). Por grupos de cor ou raça, a taxa é maior entre os pretos (87,6%) que entre os brancos (86,4%) e pardos (84,7%). A maior taxa foi entre as mulheres pretas (94,1%) e a menor, entre os homens pardos (76,5%). A realização de afazeres domésticos aumenta conforme cresce o nível de instrução, sobretudo entre os homens. A taxa era de 81,9% entre aqueles sem instrução ou com fundamental incompleto e de 90,3% entre aqueles com ensino superior completo. Menos dedicação aos cuidados de crianças Assim como observado em relação aos afazeres domésticos, a cada ano aumenta o número de pessoas que dedicam tempo ao cuidado de pessoas, sejam parentes ou não. Em 2019, 54,1 milhões de brasileiros se dedicavam a essas atividades. Na comparação com 2016, esse contingente aumentou em 9,5 milhões de pessoas. Já em relação a 2018, esse grupo cresceu em 192 mil pessoas. O IBGE considera como cuidados de pessoas atividades como: Auxiliar nos cuidados pessoais como alimentar, vestir, pentear, dar remédio, dar banho, colocar para dormir Auxiliar nas atividades educacionais Ler, jogar ou brincar Transportar ou acompanhar para escola, médico, exames, etc Monitorar ou fazer companhia dentro do domicílio Ao observar as pessoas que receberam os cuidados de alguém, o IBGE apontou que diminuiu a proporção de crianças menores de 5 anos nesta condição na passagem de 2018 para 2019. O recuo foi de 1,5 ponto percentual (p.p.), enquanto aumentou em 0,9 p.p. o grupo de 6 a 14 anos que demandou cuidados, em 1.4 p.p. o grupo de 15 a 59 anos, e em 0,8 p.p. do grupo com 60 anos ou mais de idade. Segundo a analista do IBGE Alessandra Brito, esse resultado pode estar relacionado ao envelhecimento da população brasileira, que aumenta a cada ano. Cai a produção de bens para consumo próprio A produção de bens para consumo próprio caiu no país na passagem de 2018 para 2019. Segundo o IBGE, 12,8 milhões de brasileiros produziam algo para consumo no lar, 254 mil pessoas a menos que em 2018 no período, quando o país registrou recorde desse contingente (13 milhões de pessoas). Na comparação com 2016, porém, esse grupo cresceu em 2,3 milhões de pessoas. Dentre os bens para consumo próprio investigados pelo IBGE estão: Cultivo, pesca, caça e criação de animais; Produção de carvão, corte ou coleta de lenha, coleta de água, extração de sementes, de ervas, de areia, argila ou outro material; Fabricação de roupas, tricô, crochê, bordado, cerâmicas, rede de pesca, alimentos ou bebidas alcoólicas, produtos medicinais ou outros produtos; Construção de casa, cômodo, muro, telhado, forno ou churrasqueira, cerca, estrada, abrigo para animais ou outras obras. Para os quatro tipos de bens produzidos para o próprio consumo houve queda no contingente de pessoas a eles dedicadas. A maior queda foi para o grupo relacionado à produção de carvão, corte ou coleta de lenha (-10,85%), seguido pela fabricação de produtos artesanais, como roupas e alimentos (-8,06%). A construção de casas teve redução de 6,55% do número de pessoas dedicadas, e o cultivo, pesca, caça e criação de animais teve queda de 0,36%. O IBGE destacou, ainda, que a queda na produção para o próprio consumo ocorreu em todas as grandes regiões do país. As Regiões Nordeste e Norte foram as que apresentaram as maiores taxas (10,7% e 9,8%, respectivamente), seguidas pela Região Sul (9,4%). Já no Centro-Oeste essa taxa foi de 6,6%, enquanto o Sudeste registrou a menor taxa, de 4,5%. Na média nacional, essa taxa foi de 7,5%. Voluntariado tem segunda queda seguida O levantamento do IBGE mostrou que, pelo segundo ano seguido, houve queda no número de brasileiros que se dedicam a algum tipo de trabalho voluntário. O IBGE define o trabalho voluntário como sendo “aquele não compulsório, realizado por pelo menos uma hora na semana de referência, sem receber nenhuma remuneração em dinheiro ou benefícios, com o objetivo de produzir bens ou serviços para terceiros, isto é, pessoas não moradoras do domicílio e não parentes”. Em 2019, 6,9 milhões de pessoas de 14 anos ou mais de idade realizaram algum tipo de trabalho voluntário. Na comparação com 2018, houve queda de 281 mil pessoas nesse contingente. Na passagem de 2017 para 2018 já havia sido observada uma redução em 118 mil no número de pessoas que se dedicavam ao voluntariado. A taxa de realização do trabalho voluntário no país foi de 4% em 2019, menor em 0,3 p.p. que a estimada para 2018. Segundo o IBGE, essa taxa caiu em todas as grandes regiões do país. A Região com menor taxa de realização de trabalho voluntário foi a Nordeste (2,9%). O Centro-Oeste também registrou taxa menor que a média nacional (3,9%). Já o Sul (4,6%), Sudeste (4,5%) e Norte (4,4%) tiveram taxas maiores que a do país. Apesar da queda disseminada da taxa de realização de trabalho voluntário, o IBGE destacou que aumentou a média de horas dedicadas a essas atividades por quem as realizou. E média nacional foi de 6,6 horas semanais, ante 6,5 horas semanais registradas no ano anterior. Entre as regiões, somente o Sudeste registrou redução dessa média de horas – caiu de 6,7 horas semanais para 6,4 horas. No Centro-Oeste, essa média subiu de 6,6 horas para 7,3; no Norte de 6,8 para 7,3; no Nordeste de 6,4 para 6,9; e no Sul de 6 para 6,3. O levantamento do IBGE mostrou que, pelo segundo ano seguido, houve queda no número de brasileiros que se dedicam a algum tipo de trabalho voluntário. O IBGE define o trabalho voluntário como sendo “aquele não compulsório, realizado por pelo menos uma hora na semana de referência, sem receber nenhuma remuneração em dinheiro ou benefícios, com o objetivo de produzir bens ou serviços para terceiros, isto é, pessoas não moradoras do domicílio e não parentes”. Em 2019, 6,9 milhões de pessoas de 14 anos ou mais de idade realizaram algum tipo de trabalho voluntário. Na comparação com 2018, houve queda de 281 mil pessoas nesse contingente. Na passagem de 2017 para 2018 já havia sido observada uma redução em 118 mil no número de pessoas que se dedicavam ao voluntariado. A taxa de realização do trabalho voluntário no país foi de 4% em 2019, menor em 0,3 p.p. que a estimada para 2018. Segundo o IBGE, essa taxa caiu em todas as grandes regiões do país. A Região com menor taxa de realização de trabalho voluntário foi a Nordeste (2,9%). O Centro-Oeste também registrou taxa menor que a média nacional (3,9%). Já o Sul (4,6%), Sudeste (4,5%) e Norte (4,4%) tiveram taxas maiores que a do país. Apesar da queda disseminada da taxa de realização de trabalho voluntário, o IBGE destacou que aumentou a média de horas dedicadas a essas atividades por quem as realizou. E média nacional foi de 6,6 horas semanais, ante 6,5 horas semanais registradas no ano anterior. Entre as regiões, somente o Sudeste registrou redução dessa média de horas – caiu de 6,7 horas semanais para 6,4 horas. No Centro-Oeste, essa média subiu de 6,6 horas para 7,3; no Norte de 6,8 para 7,3; no Nordeste de 6,4 para 6,9; e no Sul de 6 para 6,3. Mulheres são maioria em trabalho doméstico sem remuneração, aponta relatório da Oxfam