Declaração de Fabio Kanczuk, diretor de Política Monetária, contraria indicação do BC de que um novo corte nos juros não reduziria Selic para um patamar abaixo de 2,25% ao ano. O diretor de Política Monetária do Banco Central, Fabio Kanczuk, afirmou nesta quarta-feira (3) que não vê o plano divulgado pelo Comitê de Política Monetária (Copom) em sua última reunião, como algo "escrito na pedra, algo fixo, que não podemos cruzar".
Em seu último encontro, o Copom baixou a taxa Selic para 3% ao ano, novo piso histórico, e informou que em sua próxima reunião, marcada para meados de junho, considerava um último corte "não maior do que o atual [0,75 ponto percentual], para complementar o grau de estímulo necessário como reação às consequências econômicas da pandemia da Covid-19".
Esse novo corte, se confirmado, levaria a Selic para 2,25% ao ano.
"Eu não vi esse plano de voo como algo escrito na pedra, algo fixo, que não podemos cruzar. Vimos diferentes membros do comitê fazendo cálculos diferentes. Alguns estão usando o cupom cambial. Alguns estão indo em direção a diferentes ativos, outros olhando a parte baixa da curva, e tirando o prêmio. Outros olhando para o cenário de evolução da dívida/PIB. As pessoas não tem um número claro, discordam, é um número dinâmico [para o piso]", declarou ele.
Selic cai de 3,75% para 3% ao ano e dólar chega a R$ 5,70
O diretor deu as declarações durante videoconferência promovida pela Câmara Americana de Comércio. Segundo ele, ao indicar um piso de 2,25% ao ano para a taxa Selic, o BC estava expressando preocupação com o possível impacto na taxa de câmbio, ou seja, com uma disparada ainda maior do dólar – eventual resultado de juros mais baixos no país.
"Então, a questão aqui que o BC está preocupado tem mais a ver não com a inflação, mas sim com a estabilidade financeira e como depreciações do real podem prejudicar o crescimento, em especial em companhias que não tenham um 'hedge' [proteção contra perdas] perfeito. Então, é uma questão mais de um efeito no balanço patrimonial das empresas e como a depreciação pode prejudicar essas firmas", explicou ele.
Deste modo, segundo o diretor do BC, a principal preocupação da autoridade monetária divulgada em março, para não baixar a taxa Selic além dos 2,25% ao ano, era com o aumento do endividamento das empresas brasileiras, com passivos em dólar, por conta da disparada do câmbio, e não com o atingimento das metas de inflação propriamente dito.
Melhora nos mercados e reservas internacionais
Fabio Kanczuk observou que os mercados ficaram mais calmos nos últimos dias, o que gerou uma queda do dólar no Brasil e alta da Bolsa de Valores. Porém, ele também afirmou que não está óbvio que essa melhora dos mercados foi maior do que o Banco Central projetava anteriormente.
"Houve uma grande mudança nos preços dos ativos desde a última reunião do Copom. Os mercados estão vendo que as coisas não são tão ruins, mas ainda temos que ver os efeitos mais amplos. Houve uma queda forte de demanda e aumento no risco fiscal [alta de gastos para combater a pandemia, com consequente piora do rombo das contas públicas]. Você tem o mesmo arcabouço [de decisão] e tem que ver o impacto na taxa Selic", acrescentou.
Questionado sobre o atual patamar das reservas internacionais brasileiras, de US$ 345 bilhões, o diretor do Banco Central afirmou que considera esse patamar "ok".
"Não precisa vender, porque estão agindo como 'portfolio' [investimento]. Estão se valorizando [com a alta do dólar] e reduzindo a dívida. Não há meta de diminuir ou aumentar as reservas. Se o mercado estiver estressado, vendemos um pouco. No futuro, se estiver otimista, compramos um pouco de reservas", declarou Kanczuk.