‘Pessoas estão descobrindo que não precisam viajar a trabalho’, comenta Ana Flor
O impacto da pandemia no setor de aviação no Brasil está sendo tão intenso que o mercado deve recuperar o índice de passageiros pré-coronavírus apenas em três anos, avalia o presidente da Latam Brasil, Jerome Cadier.
“O nível de passageiros pré-covid deve ser recuperado apenas em 2023”, disse ele ao blog.
A maior empresa de aviação da América Latina entrou com pedido de recuperação judicial nos Estados Unidos como consequência dos impactos da pandemia do coronavírus. Além dos EUA, a reorganização financeira é reconhecida no Chile, Peru e Colômbia, mas não é no Brasil, Argentina e Paraguai.
No Brasil, onde é a maior empresa em número de passageiros, a Latam estima ainda ter uma queda de 20% a 40% no número de voos até o final de 2020. Isto significa que, mesmo após o fim do período de isolamento social, as pessoas seguirão viajando menos a trabalho e turismo.
Em abril e maio, empresas aéreas chegaram a reduzir em 95% a oferta de voos, por causa da pandemia.
Em junho, a Latam pretende retornar a oferecer 10% dos voos de antes da pandemia e, em julho, 20%. Os dois meses são em geral importantes para o mercado de aviação, por causa do período de férias.
E os voos corporativos, que chegam a representar 50% do faturamento de empresas aéreas, podem recuar de forma permanente, por causa da adaptação das empresas às reuniões virtuais.
Enquanto analistas do mercado aéreo questionam se o Brasil pós-pandemia comporta três empresas aéreas, Cadier afirma que o país tem uma demanda que pode crescer muito, com meia viagem ao ano por habitante – nos EUA, este índice chega a duas e meia viagens por habitante/ano.
“Mas as empresas terão que ser ainda mais enxutas e eficientes”, diz.
As empresas aéreas discutem dois temas neste momento. Um é a ajuda do BNDES para o setor, um pacote que inclui recursos de bancos privados e fundos de investimento. A ajuda teria um total de R$ 6 bilhões, em que o BNDES entraria com dois terços do valor a ser pago ao longo de cinco anos e que pode, ao final do prazo, ser transformado em participação acionária nas empresas. O pacote deve sair até o mês de julho.
Outro tema que deve se estender pelas próximas semanas é a discussão com sindicatos para manutenção de empregos e o enxugamento do quadro de funcionários. Desde março, com a pandemia, as empresas aéreas já negociaram licenças, antecipação de férias e redução de salários. Agora, a ideia é ajustar o quadro para os próximos meses.
As empresas discutem com órgãos reguladores mudanças temporárias ou permanentes de regras. Também pretendem levar ao Congresso propostas para melhorar regras do setor, que aproximem do que é praticado em outros países.
Um exemplo dado por Cadier é a rota São Paulo-Tel Aviv, que precisava ser feita por tripulação chilena porque há um limite de horas de voo de 14 horas para tripulantes brasileiros – a rota tem 15,5 horas.
“Maior flexibilidade ao setor irá ajudar as empresas a se recuperarem mais rápido”, diz ele.