Artistas dizem que milhares de audições rendem alguns centavos. Grupos como Hot Chip, populares na Europa, relatam situação difícil. Empresas de streaming dizem ajudar como podem. Hot Chip se apresenta no Popload Festival 2019 Fábio Tito/G1 As proibições de apresentações ao vivo deixaram muitos músicos britânicos no limiar da pobreza, o que incentivou uma campanha para que eles obtivessem uma parcela maior dos lucros do streaming de suas músicas online. "Estou sendo contatado por muitos artistas jovens que têm milhões de transmissões de 200 mil ouvintes mensais e não ganham um salário mínimo", disse à Reuters o músico Tom Gray, da banda indie inglesa Gomez. Gray lançou a campanha Broken Record para pressionar a indústria a fazer mais pelos músicos. Mesmo com a banda Gomez acumulando milhões de reproduções no Spotify, isso representa "alguns centavos" de receita para Gray. Isso ocorre porque o dinheiro pago pelos consumidores pelas principais plataformas de streaming de música entra em um pote central que é distribuído aos artistas de acordo com a participação de mercado. Então, se alguém pagar mensalmente a assinatura do Spotify e ouvir apenas músicas da banda Gomez, seu dinheiro ainda chegará aos principais artistas do mundo e suas gravadoras. As empresas de streaming dizem que estão fazendo o possível para ajudar os artistas durante a pandemia. O Spotify comprometeu-se a equiparar doações para instituições de caridade até um total de 10 milhões de dólares e a Apple Music lançou um fundo de 50 milhões de dólares para gravadoras e distribuidores independentes. Mas muitos músicos passam por dificuldades, fora de programas de apoio estatal durante o isolamento porque sua renda é irregular. Uma pesquisa do sindicato de músicos no início deste mês indicou que 38% deles não está apto a receber ajuda do governo. "Eu sei como isso já está difícil para muitas pessoas, e posso ver como vai ficar terrivelmente pior", diz Grey, cuja campanha é apoiada por Boy George, John Grant e The Shins. Hot Chip, grupo popular de indie electro, planejava uma turnê global em 2020. Agora, os músicos e seus nove membros da equipe perderam a maior parte da renda, mesmo que milhões de pessoas ouçam suas músicas online todo mês – uma base de fãs que colocaria o Hot Chip deitado em um "berço de ouro" décadas atrás. "A gente não sabe quando o próximo dinheiro vai aparecer, de verdade", diz Al Doyle, do Hot Chip. Apesar de uma provável queda de 25% na receita mundial de música neste ano por causa da pandemia, o setor deve dobrar de valor até 2030, mostrou uma pesquisa do Goldman Sachs publicada este mês. Mas muitos artistas têm dúvidas sobre seu futuro. "Se o coronavírus continuar assim durante todo o verão, realmente parecerá que minha vida na música foi dizimada", disse Theo Bard, compositor que esperava promover um álbum que seria lançado no verão do hemisfério norte.