Sem poder abrir as portas do estabelecimento, empresário se viu sem alternativa para manter o trabalho com delivery. Depois de dar férias coletivas aos dez funcionários, acabou suspendendo o contrato de trabalho de todos. Com bar fechado há dois meses, empresário do Rio teme precisar demitir funcionários Após mais de dois meses de isolamento social devido à pandemia do novo coronavírus, o empresário Irenildo Queiroz, de 65 anos, diz não saber mais o que fazer. Sem poder abrir o bar que mantém há mais de 14 anos em Botafogo, na Zona Sul do Rio, se viu obrigado a suspender o contrato dos dez funcionários e teme os rumos do negócio se não puder retomar às atividades em junho. “Se o retorno [das atividades do comércio] não vier a partir de 1º de junho, não sei o que fazer. Não sei como proceder, porque estou sem perspectiva nenhuma até aqui”, disse Bigode, como é conhecido o empresário. O G1 está acompanhando as histórias de empreendedores que estão tentando sobreviver à crise provocada pela pandemia do coronavírus e pelo fechamento dos negócios necessário para conter a disseminação da doença. Veja aqui o que os mesmos empresários contaram em abril; e os novos depoimentos este mês: 'Palavra de ordem agora é sobreviver', diz dona de rede de lavanderias no Rio Para gerar receita, buffet implementa delivery de refeições, mas ainda usa reserva financeira Mesmo com delivery e 'barricada', bar faz empréstimo pela 1ª vez para conseguir sobreviver à crise 'Tivemos de reinventar nossos negócios', diz sócio de bar e escritório prejudicado pelo coronavírus 'Vamos sobreviver com muita dificuldade e muito esforço', diz empresário afetado pela crise Irenildo Queiroz, o Bigode, mantém um bar e restaurante em Botafogo, na Zona Sul do Rio, há 14 anos. Nunca ficou tanto tempo sem poder trabalhar Daniel Silveira/G1 Fechamento Quando foi determinado o fechamento do comércio carioca como medida para conter a disseminação do novo coronavírus, a maior preocupação de Bigode era manter o emprego dos dez funcionários. Deu férias coletivas a todos até o dia 22 de abril, quando as medidas de isolamento na cidade já estavam ainda mais rígidas. A solução, então, foi suspender os dez contratos de trabalho. “Eu não tive alternativa a não ser suspender os contratos por 60 dias, aproveitando a ajuda do governo”, disse o empresário. A ajuda ao qual Bigode se refere veio do Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda, instituído pelo governo federal por meio de Medida Provisória, que viabilizou a suspensão dos contratos de trabalho durante a pandemia. Por meio do programa, o governo paga uma compensação ao trabalhador de até 100% do seguro-desemprego. Caso não possa reabrir o bar em junho, Bigode já começa a considerar a possibilidade de demitir parte do pessoal. "Sinceramente, se a gente não retornar a partir de agora de junho, a minha situação vai ficar muito difícil. Eu não queria, mas eu acho que vou ter que demitir alguns funcionários", disse. Sem delivery, sem caixa O decreto que proibiu o funcionamento de bares e restaurantes na cidade do Rio de Janeiro durante a pandemia permite a manutenção nos serviços de delivery, take away (retirada no local) e drive-thru. Mas as três opções não eram viáveis para o Bar do Bigode. Demanda do Bar do Bigode, em Botafogo, depende da atividade econômica no entorno; seus clientes são, majoritariamente, funcionários de empresas vizinhas Daniel Silveira/G1 Além da falta de experiência nestas modalidades de venda de comida, o empresário enfatizou que demanda do seu bar depende da atividade econômica no entorno do estabelecimento. "A maioria das empresas em volta colocou os funcionários em trabalho remoto. Então, eu acho que não teria demanda de delivery para compensar manter mesmo que fosse somente a entrega de refeições durante o almoço. Seria trocar seis por meia dúzia", ponderou. Com o bar fechado, o faturamento foi a zero. Bigode conseguiu manter as contas em dia graças à reserva de caixa. Mas, diz não conseguir se manter por mais tempo. "A minha reserva, nesses 70 dias que eu estou fechado, foi embora", afirmou. Para honrar os compromissos financeiros nestes dois meses sem receita, o empresário já recorreu a dois empréstimos bancários. Sem ter outra fonte de renda, considera a possibilidade de recorrer a mais crédito. "Eu estou aberto a qualquer tipo de ajuda. O que eu quero é poder manter os meus funcionários e reabrir o meu bar", enfatizou. Questionado sobre o que fazer caso o comércio não seja reaberto no Rio em junho, o empresário teme fechar as portas indefinidamente. "[Se não reabrir], eu vou ter que fechar as portas. Infelizmente, eu vou ter que jogar a toalha. Eu não vejo outra saída. Antes da pandemia, Irenildo mantinha longa rotina diária no bar. Chegava ao local no começo da manhã e só voltava para casa na madrugada. Com o isolamento, passa os dias trancado dentro de casa com a mulher, Solange, parceira de vida e de negócios. "Agora, nem na calçada de casa eu fico mais. Já não vejo a hora disso tudo acabar", desabafou.