Trata-se do pior resultado desde o 2º trimestre de 2015 (-2,1%). Resultado deixa o país à beira de uma nova recessão. PIB encolhe 1,5% com pandemia e economia regride ao patamar de 2012 O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro caiu 1,5% no 1º trimestre, na comparação com os 3 últimos meses de 2019, segundo divulgou nesta sexta-feira (29) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado reflete apenas os primeiros impactos da pandemia de coronavírus e coloca o país à beira de uma nova recessão, uma vez que a expectativa é de um tombo ainda maior no 2º trimestre. "A queda do PIB do primeiro trimestre deste ano interrompe a sequência de quatro trimestres de crescimentos seguidos e marca o menor resultado para o período desde o segundo trimestre de 2015 (-2,1%). Com isso, o PIB está em patamar semelhante ao que se encontrava no segundo trimestre de 2012", informou o IBGE, em comunicado. A retração nos 3 primeiros meses de 2020 veio dentro do esperado pelo mercado e interrompe uma trajetória de 3 anos de lenta recuperação da economia brasileira, que já mostrava perda de ritmo na virada do ano, e ainda se encontrava distante do patamar anterior ao do início da recessão de 2014-2016. A queda no 1º trimestre foi o primeiro resultado negativo para o PIB desde o final de 2018, uma vez que o IBGE revisou os dados do 4º trimestre de 2018 para um recuo de 0,1%, ante leitura anterior de estabilidade. Veja gráfico abaixo: Variação do PIB trimestre a trimestre desde 2015 Rodrigo Sanches/G1 Na comparação com o 1º trimestre de 2019, a queda foi de 0,3%. No acumulado em 12 meses, registrou aumento de 0,9%, comparado aos trimestres imediatamente anteriores. Em valores correntes, o PIB totalizou R$ 1,803 trilhão no período entre janeiro e março. O PIB é a soma de todos os bens e serviços produzidos no país e serve para medir a evolução da economia. Após despencar 3,5% em 2015 e 3,3% em 2016, a economia brasileira registrou taxa de crescimento de 1,3% em 2017 e em 2018, desacelerando para um ritmo de 1,1% em 2019. Agora, com o choque provocado pela pandemia, a retomada deverá demorar mais para ser alcançada. Segundo o IBGE, com o tombo de 1,5% no 1º trimestre, o tamanho do PIB brasileiro regrediu para um nível 4,2% abaixo da máxima histórica, que foi registrada no primeiro trimestre de 2014 [inicialmente, o IBGE informou que o pico do PIB havia sido registrado no final de 2014. A informação foi corrigida pelo Instituto por volta das 15h, e esta reportagem atualizada]. No final de 2019, a distância do pico da atividade era de 2,7%. "A gente já estava entre o 3º e o 4º trimestre de 2012, e agora voltou um pouco, para o 2º trimestre”, destacou a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis. O IBGE revisou os dados do PIB de 2019. No primeiro trimestre, cresceu 0,2%, ao invés do resultado nulo divulgado anteriormente. No 2º trimestre, a alta foi mantida em 0,5%. Já nos dois últimos trimestres a revisão foi para baixo: no 3º trimestre, a alta foi de 0,5%, e não 0,6%, e a do 4º trimestre foi de 0,4%, ante 0,5% da divulgação anterior. Guedes pede 'solidariedade' para retomada rápida da economia Variação do PIB por setores da economia Rodrigo Sanches/G1 O que mais pesou na queda do PIB De acordo o IBGE, a retração da economia neste começo de 2020 foi causada, principalmente, pelo recuo de 1,6% nos serviços, setor que representa 74% do PIB. Foi a maior retração do setor desde o 4º trimestre de 2008 (-2,3%). A indústria também caiu (-1,4%), enquanto a agropecuária cresceu (0,6%), impulsionada pela safra da soja que tem, inclusive, perspectiva de recorde para esse ano. “Aconteceu no Brasil o mesmo que ocorreu em outros países afetados pela pandemia, que foi o recuo nos serviços direcionados às famílias devido ao fechamento dos estabelecimentos. Bens duráveis, veículos, vestuário, salões de beleza, academia, alojamento, alimentação sofreram bastante com o isolamento social”, destacou a pesquisadora do IBGE. Pandemia derrubou PIB; veja atividades mais afetadas em cada setor Quedas recordes e desemprego: como março afundou o PIB Veja os principais destaques do PIB no 1º trimestre: Serviços: -1,6% (1ª queda desde o 4º trimestre de 2016 e maior retração desde 2008) Agropecuária: 0,6% Indústria: -1,4% (1ª queda desde o 4º trimestre de 2018), quando foi -0,4% Indústria extrativa: -3,2% Construção civil: -2,4% Comércio: -0,8% Consumo das famílias: -2% (1ª queda desde o 4º trimestre de 2016) Consumo do governo: 0,2% Investimentos: 3,1% (reverteu queda de 2,7% no trimestre anterior) Exportação: -0,9% Importação: 2,8% PIB em setores sob a ótica da demanda Rodrigo Sanches/G1 Consumo das famílias tem maior queda desde 2001 Pela ótica da demanda, o consumo das famílias desabou 2%, interrompendo uma sequência de 12 trimestres seguidos de alta. “Foi o maior recuo desde a crise de energia elétrica em 2001”, destacou a pesquisadora do IBGE, acrescentando que o consumo das famílias pesa 65% do PIB. O poder de compra das famílias foi afetado neste começo de ano pela combinação de crescimento do desemprego, queda da renda, aumento do endividamento e incerteza provocada por novas ondas de contaminação da doença. De motor a vilão: consumo das famílias puxa PIB para baixo Investimentos revertem queda do trimestre anterior Por outro lado, os investimentos tiveram alta de 3,1% no 1º trimestre, revertendo assim a queda registrada no trimestre anterior (-2,7%), puxados pela importação líquida de máquinas e equipamentos pelo setor de petróleo e gás. Já o consumo do governo teve variação de 0,2%, o que segundo o IBGE mostra um cenário de estabilidade. A taxa de investimento foi de 15,8% do PIB, acima do observado no mesmo período de 2019 (15%), mas ainda bem abaixo do patamar acima de 21% registrado em 2013. Já a taxa de poupança foi de 14,1% no primeiro trimestre de 2020, ante 12,2% no mesmo período de 2019. Já patinando antes da pandemia, indústria e investimento terão mais dificuldades de recuperação RETRATOS DA CRISE: negócios tentam sobreviver enquanto crise do coronavírus se arrasta; veja depoimentos Dono de bar se mostra confiante para saída da crise No setor exterior, as exportações de bens e serviços tiveram contração de 0,9%, enquanto as importações cresceram 2,8% em relação ao quarto trimestre de 2019. "As exportações foram bastante prejudicadas pela demanda internacional. Um dos países muito importantes para a gente que tem afetado nossas exportações é a Argentina. E a China também, que no primeiro trimestre foi o primeiro país a fechar as fronteiras. Então as nossas exportações foram bastante afetadas”, avaliou Rebeca, acrescentando que a cadeia de produção brasileira começou a ser afetada já em fevereiro. Já a importação teve como principais destaques a aquisição de máquinas e equipamentos, sobretudo para o setor de petróleo e gás, e de metalurgia. PIB do Brasil na comparação com outros países Arte-G1 Com a redução do saldo externo de bens e serviços, a necessidade de financiamento da economia brasileira cresceu para R$ 58,3 bilhões ante R$ 57,5 bilhões no mesmo período do ano anterior. “Essa conjuntura que a gente está vivendo agora não é um caso específico do Brasil. Todos os países que já divulgaram o PIB do primeiro trimestre tiveram queda. É um fenômeno mundial, que está afetando a economia mundial, e é claro que tem efeitos no Brasil pela demanda interna”, afirmou a pesquisadora do IBGE. Projeções apontam queda livre no PIB para 2º trimestre, analisa Miriam Leitão Perspectivas sombrias para 2020 Como o resultado do PIB do 1º trimestre refletiu apenas as primeiras semanas de isolamento social e das medidas de restrições para conter o avanço da Covid-19, que começaram em meados de março, a expectativa é de uma retração ainda mais profunda da economia entre os meses de abril e junho, uma vez que indicadores já divulgados mostraram abalos ainda mais profundos, tanto na produção e no consumo como no mercado de trabalho e na renda. Questionada sobre as perspectivas para retomada do crescimento, Rebeca disse que é preciso aguardar para saber como as atividades vão se comportar nos próximos meses. Ressaltou, porém, a importância da retomada do mercado de trabalho para aquecer a economia como um todo, sugerindo que não há sinais de retomada do setor. “O mercado de trabalho, em geral, não costuma se recuperar tão rápido”, observou. Brasil fecha 860 mil empregos formais no pior mês de abril em 29 anos População ocupada tem queda recorde, e taxa de desemprego sobe para 12,6% O que o PIB tem a ver com o nosso dia a dia? O mercado passou a projetar um tombo de 5,89% para o PIB neste ano, segundo o relatório "Focus" do Banco Central, e a maior parte dos analistas dá como certa a entrada no país em uma nova recessão, definida tecnicamente por 2 trimestres seguidos de retração da atividade. Caso a expectativa se confirme, será o pior desempenho anual desde 1901, pelo menos. Para o Banco Fator, por exemplo, há risco inclusive da recessão se estender até 2021. "O risco de o cenário da pandemia ser pior do que se espera é elevado. Desde logo, é difícil que o afastamento seja completamente eliminado no terceiro trimestre. Assim como não se pode esperar que não haja idas e vindas no afastamento, ainda que sem uma segunda onda", avaliou o economista José Francisco de Lima Gonçalves Nesta semana, o Brasil se tornou o novo epicentro mundial da Covid. Já são mais de 26 mil mortos e quase 442 mil casos confirmados. O Brasil é o segundo país no mundo com o maior número de casos confirmados da doença, atrás dos Estados Unidos. Entenda os impactos do avanço do coronavírus nas economias global e brasileira Initial plugin text