Crédito direcionado (rural, BNDES e imobiliário) cresceu no mês passado, enquanto o livre, ou seja, linhas negociadas em balcão, recuou. Juros bancários médios caíram em abril, assim como do cheque especial e do cartão de crédito rotativo para pessoas físicas. Após registrar forte crescimento em março, o crédito ofertado pelos bancos ficou estável em abril – em um cenário de elevação dos empréstimos direcionados (BNDES, rural e imobiliário) e queda das operações "livres", ou seja, as linhas ofertadas pelos bancos para seus clientes.
Ao mesmo tempo, também segundo informações divulgadas nesta quinta-feira (28) pelo Banco Central, os juros bancários recuaram no mês passado – incluindo as operações do cheque especial e cartão de crédito rotativo.
A estabilidade do crédito bancário total em abril, acontece em um momento de forte demanda por parte das empresas e pessoas físicas por mais recursos – por conta da pandemia do novo coronavírus.
Nos últimos meses, o Banco Central liberou com a liberação de R$ 1,2 trilhão para as instituições financeiras emprestarem, mas as empresas, principalmente as pequenas e médias, têm relatado dificuldades para obter os recursos nos bancos.
Comportamento do crédito em abril
De acordo com dados do BC, após subir 2,85% em março (a maior alta mensal desde setembro de 2008), o volume total do crédito bancário ficou estável, ou seja, com crescimento zero, em abril – no mesmo patamar de R$ 3,587 trilhões.
Segundo a instituição, o crédito direcionado, do BNDES, rural e habitacional, subiu 0,8% no mês passado, para R$ 1,486 trilhão, ao mesmo tempo em que o estoque do crédito livre (negociado no balcão pelas instituições financeiras) recuou 0,5%, para R$ 2,1 trilhões.
Ao decompor o comportamento do crédito livre, os números do BC mostram que houve uma alta no estoque de empréstimos para as empresas – que subiu 1,4% em abril, para R$ 993 bilhões, e uma queda de 2,2% nas operações para pessoas físicas (para R$ 1,1 trilhão).
O BC informa que as modalidades de maior destaque, para as empresas em abril, foram capital de giro, financiamentos a exportações e adiantamentos sobre contratos de câmbio. Adicionalmente, cresceram os saldos influenciados pela variação cambial (notadamente repasses externos).
Entretanto, as novas concessões de crédito, para empresas, mostraram forte queda de 33,7% em abril, quando somaram R$ 143,3 bilhões, na comparação com março (R$ 216,1 bilhões).
Juros bancários médios e 'spread'
De acordo com o BC, houve queda nos juros médios das instituições com recursos livres (sem contar BNDES, crédito rural e imobiliário) março para abril.
a taxa média total (pessoa física e jurídica) passou de 33,1% ao ano, em março, para 31,3% ao ano em abril.
os juros nas operações com pessoas físicas passaram de 46,2% ao ano, em março, para 44,5% ao ano, em abril deste ano.
a taxa média cobrada das empresas caiu de 16,6% ao ano, em março, para 15,8% ao ano, no mês passado.
A queda dos juros bancários médios, e das operações com pessoas físicas, acontece em um momento de estabilidade da taxa básica de juros da economia. Em março, a Selic foi baixada pelo BC para 3,75% ao ano, ficou estável em abril, e voltou a cair em maio, para 3% ao ano – o menor patamar da história.
De acordo com o BC, o chamado "spread" bancário (diferença entre quanto bancos pagam pelos recursos e quanto cobram dos clientes) médio passou de 27,6 pontos percentuais, em março, para 26,2 pontos percentuais em abril.
Nas operações com pessoas físicas, houve redução de 40,2 pontos em março para 38,7 pontos em abril deste ano. Com isso, mesmo com a redução no mês passado, o "spread" bancário ainda segue em patamar elevado para padrões internacionais.
O "spread" é composto pelo lucro dos bancos, pela taxa de inadimplência, por custos administrativos, pelos depósitos compulsórios (que são mantidos no Banco Central) e pelos tributos cobrados pelo governo federal, entre outros.
Cartão de crédito rotativo
Os números do BC mostram que também houve queda nos juros bancários nas operações com cheque especial das pessoas físicas em abril, e também no cartão de crédito rotativo – embora essas linhas permaneçam com taxas elevadas, e, no caso do cartão rotativo, proibitivas.
Segundo a instituição, a taxa média do cartão de crédito rotativo, para as pessoas físicas, passou de 327,1% ao ano, em março, para 313,4% ao ano, em abril.
O crédito rotativo do cartão de crédito pode ser acionado por quem não pode pagar o valor total da sua fatura na data do vencimento, mas não quer ficar inadimplente.
Para usar o crédito rotativo, o consumidor paga qualquer valor entre o mínimo e total da fatura. O restante é automaticamente financiado e lançado no mês seguinte, com juros.
Essa é uma das linhas de crédito mais caras do mercado e, segundo analistas, deve ser evitada. A recomendação é que os clientes bancários paguem todo o valor da fatura mensalmente.
Cheque especial
Já os juros bancários cobrados de pessoas físicas no cheque especial registraram estabilidade em abril e, assim, continuaram abaixo do teto estabelecido pelo Banco Central para essa modalidade de crédito.
De acordo com a instituição, a taxa média dos bancos nas operações com cheque especial somou 119,3% ao ano (6,8% ao mês) em abril, o quarto mês de vigência da regra que impôs limites para os juros. Em março, estava em 130,5% ao ano (7,2% ao mês).
Desde janeiro, o limite para a taxa de juros do cheque especial pessoa física fixado pelo Banco Central é de 8% ao mês, o equivalente a cerca de 150% ao ano.
Pelas regras definidas pelo Banco Central, os bancos já podem cobrar tarifa para disponibilizar crédito por meio do cheque especial para pessoas físicas no valor acima de R$ 500, mas as maiores instituições financeiras do país informaram que não levarão adiante essa cobrança.
Apesar da queda, o cheque especial ainda é uma linha cara, quando comparada com os juros médios para pessoas físicas. Ela é classificada como "emergencial" e, segundo analistas, deve ser utilizada, somente se for realmente necessário, por um período curto de tempo.
Juros bancários elevados
Apesar da redução em abril, os juros bancários ainda seguem elevados para padrões internacionais. Isso contribui para inibir o consumo e também os investimentos na economia brasileira. Esse é um dos problemas, segundo economistas, a serem enfrentados pela gestão do presidente Jair Bolsonaro.
Dados do BC mostram que os cinco maiores conglomerados bancários do país tinham, no fim de 2018, 84,8% do mercado de crédito. Esse cálculo inclui os bancos comerciais, os múltiplos com carteira comercial e as caixas econômicas.
No ano passado, a rentabilidade dos bancos brasileiros ficou no maior nível em sete anos e o lucro líquido dos bancos somou R$ 98,5 bilhões, recorde da série histórica que começa em 1994.