Veto em 1973 da música 'O grande xerife', atribuída ao compositor em gravação da cantora, vem à tona e faz supor a insuspeita conexão. Documento disponível no Arquivo Nacional com o veto da música 'O grande xerife' Sistema de Informações do Arquivo Nacional (SIAN) ♪ Oficialmente, a cantora Elis Regina (1945 – 1982) nunca gravou uma música do compositor Sérgio Sampaio (1947 – 1994) ao longo de 20 anos de carreira fonográfica iniciada em 1961 e encerrada precocemente em 1981. Contudo, existe no Sistema de Informações do Arquivo Nacional (SIAN) a letra de uma música intitulada O grande xerife e creditada a Sampaio e ao ano de 1973. O nome de Elis, apontada nesse documento como intérprete da alegada gravação, faz supor que a composição O grande xerife teria sido ou ao menos seria futuramente gravada pela cantora – suposição reforçada pela letra ter sido escrita por Sampaio sob ótica feminina. Censurada, a música permaneceu inédita na discografia de Sampaio e tampouco apareceu nos álbuns posteriores de Elis. Pela data do veto, 25 de abril de 1973, supõe-se que a música pode ter sido cogitada para o repertório do denso álbum Elis, lançado pela cantora naquele ano de 1973 com quatro músicas da então novata dupla de compositores João Bosco e Aldir Blanc (1946 – 2020). Embora já estivesse há anos disponível para consulta no SIAN, mediante cadastro no site do Arquivo Nacional, o documento com o veto da letra de O grande xerife veio à tona no início da noite de terça-feira, 26 de maio, ao ser postado em rede social pelo pesquisador musical Manoel Filho e causou alvoroço pela associação até então insuspeita de Elis com Sérgio Sampaio. Se as informações contidas no documento forem verídicas, a censura impediu que Elis desse voz a um dos compositores mais marginalizados da MPB dos anos 1970. A conexão é plausível. Projetado nacionalmente como cantor e compositor em 1972 ao apresentar marcha de autoria própria, Eu quero é botar meu bloco na rua, na sétima edição do Festival Internacional da Canção (FIC), exibido pela TV Globo naquele ano de 1972, Sérgio Sampaio foi contratado pela gravadora Philips no embalo da fama. E a Philips, cabe lembrar, era a gravadora de Elis desde 1965 (e seria até 1978). Como Elis foi cantora atenta aos sinais, sobretudo aos emergentes compositores que surgiram na MPB dos anos 1960 e 1970, há grande possibilidade de a associação de Elis Regina com Sérgio Sampaio ter sido real, como sugere o documento, tendo sido abortada pela nociva censura federal da época quando a conexão era embrionária ou talvez ainda estivesse somente no plano das (grandes) ideias de algum produtor musical ou diretor artístico de gravadora.