Previsão de chuva pode adiar o voo da nave Crew Dragon, que levará dois astronautas da Nasa na primeira viagem espacial tripulada a partir dos EUA em nove anos. Foguete Falcon 9 com a nave Crew Dragon, da SpaceX, durante preparação nesta terça-feira (26) Steve Nesius/Reuters A SpaceX, do magnata Elon Musk, marcou para esta quarta-feira (27) o primeiro voo tripulado partindo de solo dos Estados Unidos em nove anos, com dois astronautas da Nasa. A partida está prevista para as 17h33 (de Brasília), do Centro Espacial Kennedy, na Flórida — se o tempo permitir. Se as condições meteorológicas estiverem desfavoráveis, o lançamento deverá ser adiado para o sábado (30). E a previsão indica chuva no Cabo Canaveral na tarde desta quarta. A cápsula Crew Dragon transportará os astronautas Doug Hurley e Bob Behnken rumo à Estação Espacial Internacional (ISS) a partir do foguete Falcon 9. O presidente Donald Trump estará entre os espectadores para assistir ao lançamento, que recebeu autorização apesar dos meses de confinamento devido à pandemia de coronavírus. A SpaceX Falcon 9, com a nave Crew Dragon no topo do foguete, é vista na Plataforma de Lançamento 39-A no Kennedy Space Center, na Flórida, EUA, nesta segunda-feira (25). Dois astronautas voarão na missão SpaceX Demo-2 para o Estação Espacial Internacional agendada para lançamento nesta quarta-feira (27) David J. Phillip/AP Em razão das restrições impostas pela pandemia de Covid-19, o público em geral foi convidado a acompanhar o lançamento da Crew Dragon pela transmissão ao vivo. Destinado a desenvolver naves espaciais privadas para transportar astronautas americanos ao espaço, o programa de tripulação comercial da Nasa começou sob o governo de Barack Obama. Trump o vê como símbolo de sua estratégia para reafirmar o domínio americano do espaço, tanto militar, com a criação da Força Espacial, quanto civil. Foto de arquivo de janeiro de 2020 mostra o fundador e engenheiro-chefe da SpaceX, Elon Musk, durante entrevista coletiva pós-lançamento para discutir o teste de abortamento em voo da cápsula de astronauta Crew Dragon no Centro Espacial Kennedy em Cabo Canaveral, na Flórida, EUA Joe Skipper/Reuters/Arquivo O atual presidente ordenou que a Nasa retorne à Lua em 2024, um cronograma difícil de cumprir, mas que deu novo impulso à famosa agência espacial americana. Nos 22 anos desde o lançamento dos primeiros componentes da ISS, apenas naves espaciais desenvolvidas pela Nasa e pela agência espacial russa levaram equipes para essa estação. A agência americana apostou no seu famoso programa de ônibus espaciais: naves espaciais enormes e extremamente complexas que levaram dezenas de astronautas ao espaço por três décadas. Seu custo impressionante – US$ 200 bilhões para 135 voos – e dois acidentes fatais acabaram por encerrar o programa. O último ônibus espacial, Atlantis, viajou em 21 de julho de 2011. Depois, os astronautas da Nasa tiveram de aprender russo e viajar para a ISS no foguete russo Soyuz, que decola do Cazaquistão, em uma parceria que sobreviveu às tensões políticas entre Washington e Moscou. Os Estados Unidos pretendiam, no entanto, que este fosse um acordo temporário. A Nasa confiou a duas empresas privadas, a gigante da aviação Boeing e a SpaceX, a tarefa de projetar e construir cápsulas que substituiriam os ônibus espaciais. Nove anos depois, a SpaceX, fundada por Musk, o empresário sul-africano que também criou o PayPal e a Tesla, está pronta para o lançamento. O foguete SpaceX Falcon 9 com a espaçonave Crew Dragon é colocado na posição vertical na plataforma de lançamento no Centro Espacial Kennedy no Cabo Canaveral, na Florida (EUA), durante os preparativos para a missão Demo-2 na Estação Espacial Internacional na quinta-feira (21) Bill Ingalls/NASA via Reuters 'Uma história de sucesso' A Nasa concedeu à SpaceX mais de US$ 3 bilhões em contratos desde 2011 para construir a espaçonave. A cápsula será tripulada por Robert Behnken, de 49 anos, e Douglas Hurley, de 53, ambos com uma longa história de viagens espaciais: Hurley pilotou o Atlantis em sua última viagem. Os astronautas da NASA Douglas Hurley e Robert Behnken posam para foto durante ensaio para o lançamento no Kennedy Space Center no Cabo Canaveral, na Flórida, EUA, neste sábado (23) Kim Shiflett/NASA/Divulgação via Reuters Cerca de 19 horas depois, vão atracar na ISS, onde dois russos e um americano esperam por eles. A operação levou cinco anos a mais do que o planejado, mas, mesmo com os atrasos, a SpaceX derrotou a Boeing. O voo de teste da Boeing de seu Starliner fracassou, devido a sérios problemas de software, e terá de ser refeito. "Tem sido uma história de sucesso", disse à AFP Scott Hubbard, ex-diretor do Centro Ames da Nasa no Vale do Silício, que agora leciona em Stanford. "Houve um grande ceticismo", lembrou Hubbard, que conheceu Musk antes da criação da SpaceX e também preside um painel consultivo de segurança da SpaceX. "Os líderes da Lockheed, da Boeing, me disseram em uma conferência que os caras da SpaceX não sabiam o que estavam fazendo", contou à AFP. Ilustração divulgada pela SpaceX mostra a cápsula Crew Dragon e o foguete Falcon 9 após lançamento SpaceX/Divulgação via AP A SpaceX finalmente chegou ao topo com seu foguete Falcon 9. Desde 2012, a empresa reabastece a ISS para a Nasa, graças à versão de carga da cápsula Dragon. A missão tripulada, chamada Demo-2, é de fundamental importância para Washington por duas razões. A primeira é quebrar a dependência da NASA em relação à Rússia. E a segunda é catalisar um mercado privado de "órbita terrestre baixa", aberta a turistas e empresas. "Prevemos um dia, no futuro, que teremos uma dúzia de estações espaciais na órbita terrestre baixa. Todas operadas pela indústria comercial", disse o diretor da NASA, Jim Bridenstine. Musk mira mais alto: está construindo um enorme foguete, o Starship, para circunavegar a Lua, ou até viajar para Marte e, finalmente, tornar a humanidade uma "espécie que habite vários planetas".