Desde o início da quarentena, milhares de artistas em todo o mundo têm feito lives em suas redes sociais para manter o contato com o público e facilitar a rotina de quem pode se manter em casa durante o período de isolamento social da pandemia. Mas a classe musical, que tira quase a totalidade de sua renda de shows, enfrenta uma grave crise com o fechamento indeterminado das casas de espetáculos. De um dia para o outro, os orçamentos dos músicos foram quase reduzidos a zero. Para aliviar a crise dessa e de outras classes artísticas, o Congresso vota hoje, 26, auxílio emergencial para trabalhadores da Cultura, que viram renda desaparecer.
É muito complicado. Estou vivendo do auxílio emergencial da Caixa (de R$ 600), que eu tive a sorte de pegar na primeira remessa – diz o cantor Nego Álvaro, integrante do Samba do Trabalhador.
De música, não tem nada entrando, a não ser de direito autoral, que é muito pouco. Quem não tem um trabalho de sucesso não vai receber dinheiro nenhum.
Com a suspensão da roda, o sambista viu sua principal fonte financeira desaparecer.
Meu orçamento caiu todo, não sobrou nada. O artista vive de show, venda de disco não dá mais dinheiro. A maioria das pessoas que conheço está passando pelo mesmo problema. Moro com minha mulher, e a bolsa de doutorado dela tem nos mantido. Mas tem gente em situação mais delicada. Chegamos a juntar cestas básicas para ajudar amigos. A classe artística está drasticamente prejudicada – desabafa.
Também expoente da nova geração do samba, João Martins tem apoiado sua mulher, Mariana, que é cozinheira, entregando refeições pelas adjacências do Catete, bairro onde mora.
Músico não tem poupança, renda fixa, não dá para fazer pé de meia. Peguei o auxílio de R$ 200 das arrecadadoras de direitos autorais, mais os R$ 600 da Caixa, mas essas ajudas já foram embora, já pingam secando. Estamos segurando as pontas. Temos duas filhas, com mensalidades de escola integrais, os gastos são enormes. Vamos na esperança de que vá melhorar – torce Martins.
Em ação conjunta, a União Brasileira de Compositores (UBC) e o Spotify lançaram o “Juntos pela música”, um fundo de socorro aos artistas da classe. A empresa de streaming entrou com R$ 500 mil – mesmo aporte da UBC, somando R$ 1 milhão – e promete igualar cada doação feita, dobrando o valor do que for arrecadado. Para receberem o apoio, os artistas precisam se cadastrar no site da UBC e ser associados da instituição há pelo menos um ano.
As doações são feitas em nosso site, é muito simples. Muitos compositores que dependem de músicas que tocam nos shows estão sem renda. Então, o prejuízo de direitos autorais é grande – avalia Marcelo Castello Branco, diretor-executivo da UBC.
Fonte: Revista PGN