Ator falou sobre emoção de ser rever em cena ao iniciar novo passo na carreira longe do humor e destaca importância de seu personagem para 'desglamourização do artista'. Lúcio Mauro Filho durante gravação de "Malhação" Globo/Marília Cabral Lúcio Mauro Filho passou quase 14 anos dando vida ao personagem Tuco em "A Grande Família". Entre amigos, brincava que se o seriado não chegasse ao fim, não daria tempo de viver um pai em outros trabalhos artísticos, pulando direto para o papel avô. "E a profecia se concretizou", brinca o ator ao falar sobre seu trabalho em "Malhação: Viva a Diferença", em que dá vida ao ex-cantor Roney. "Eu não era só pai, mas também um avô. Tinha uma filha adolescente grávida e com todas as questões inerentes da gravidez na adolescência". Com a pausa nas gravações das novelas por causa da pandemia de coronavírus, a trama teen gravada e exibida em 2017 e 2018 voltou ao ar em uma edição especial. O retorno para a TV trouxe várias lembranças para o ator, que naquele momento, iniciava uma nova fase em sua carreira. Lúcio deixava a fase do humor para trás e retornava para as novelas após quase 20 anos de trabalho em outros formatos. "Eu estava me redescobrindo. Então eu era veterano pra galera de 'Malhação', mas eu me considerava tão novato quanto eles, porque eu estava voltando para as novelas, um outro tipo de dramaturgia." "Fui enxergar isso tudo agora, fico feliz", contou o ator durante uma entrevista com jornalistas por teleconferência. "Acho que todo ser humano, todo profissional, tem que continuar aprendendo, mas o artista que parou de aprender, que acha que chegou a algum lugar, acabou de morrer. Pra mim, é um alento ver minha evolução dentro desse trabalho, porque enxergo que continuo evoluindo na vida." Lúcio também brinca com outro ponto ao rever a novela: o estético: "Dá um pouco de agonia, porque eu estava com muito mais cabelo e a novela não faz tanto tempo. Como pode perder tanto cabelo?". Lúcio Mauro Filho Globo/João Cotta 'Memória maluca' Diferentemente de Dira Paes, que contou ter ficado surpresa ao perceber que não lembrava de muitas cenas da novela durante a reprise de "Fina Estampa", Lúcio Mauro diz se lembrar até do que acontecia nos bastidores antes da gravação. "Eu me lembro de tudo, tenho uma memória muito maluca. Eu não só me lembro das cenas, como me lembro do que aconteceu no camarim, no que o diretor me pediu… Esse lado também é muito bom, porque eu fico me lembrando das escolhas que fiz [em cena]." 'Desglamourização do artista' Para Lúcio, seu papel em "Malhação" não foi importante apenas para sua carreira, mas também para levantar a pauta de toda a classe artística. Na novela, Roney fazia um papel de um cantor que foi famoso na década de 1980 e que se tornou dono de uma lanchonete após a fama. "Meu personagem traz uma discussão interessante, que é a desglamourização do artista." "O artista, por causa, principalmente, desse último governo, foi meio que demonizado, apenas como um joguete para manipular as pessoas. Só que muita gente caiu nessa esparrela, porque quando elas pensam num artista, elas pensam sempre na gente, nós que somos os sortudos que conseguimos fazer uma carreira. Elas não pensam no artista comum." Lúcio cita ainda que o mercado é pequeno e que boa parte dos artistas no Brasil é de trabalhador que não tem estabilidade na carreira. "Então quando começou esse discurso de demonização dos artistas e as pessoas começaram a falar 'é tudo mamador, é tudo isso, é tudo aquilo', achei muito bacana fazer um personagem que experimentou o sucesso e que agora toca uma lanchonete e cuida de uma filha grávida", afirma o ator. "Para as pessoas entenderem que, pra maioria dos artistas, mesmo que aconteça o sucesso, pode ser que seja único e depois ele tenha que conviver com a vida comum de aperto, instabilidade e vulnerabilidade."