Desempregado desde fevereiro, ele não consegue nem pagar a pensão alimentícia da filha; saída é contar com a ajuda da família. Rafael de Lima Moreira, de 35 anos, está passando por uma fase difícil após ter perdido o emprego antes da quarentena Arquivo pessoal Rafael de Lima Moreira, de 35 anos, ficou desempregado em fevereiro, após ficar apenas três meses trabalhando como supervisor de call center. Desde então, não tem nenhuma renda. Moreira está vivendo graças à ajuda financeira da mãe e da sogra. Ele, a esposa e o filho de 6 anos moram nos fundos da casa da sua mãe, na Zona Leste de São Paulo, e não pagam aluguel. O supervisor de call center chegou a participar de dois processos seletivos de emprego em março mas, com a quarentena por causa da pandemia, as seleções foram suspensas. “Terei de esperar passar essa tempestade para ver se eles darão continuidade às seleções. Enquanto isso, não tenho nenhuma renda estabelecida. Estava contando com o auxílio emergencial de R$ 600, mas, infelizmente, estou esperando a análise do meu pedido desde 7 de abril. A gente vai se virando como dá”, lamenta. Sem renda e com dificuldades para receber o Auxílio Emergencial, trabalhadores dependem de ajuda para atravessar pandemia 'Estou vivendo com a ajuda de algumas mães', diz pipoqueiro sem trabalho no Rio Com salão fechado, manicure diz que só consegue comer 'com ajuda de clientes' 'Estamos vivendo da ajuda dos meus clientes', diz empregada doméstica da periferia de SP Juntei tudo que eu podia para vender', diz fotógrafo de baladas em SP A esposa dele cursa pedagogia e não paga faculdade porque está dentro do programa do governo federal ProUni. “Passamos apertos, mas não está faltando nada. A única renda que a gente teve veio do estágio da minha esposa, ela deu aula por uma semana em março para alunos da primeira série e recebeu pelo mês integral o valor de R$ 600 mais o auxílio-transporte, mas agora ela está em casa. É preocupante porque não sabemos como vai ficar daqui para frente. Enquanto isso vamos nos virando com o suporte que minha mãe e sogra têm dado”, conta. A sogra de Moreira trabalha como auxiliar de limpeza e recebe um salário mínimo por mês. A mãe dele é pensionista do INSS. “Enquanto isso, as contas da minha casa caem em cima da minha mãe e da minha sogra. Elas ganham pouco, mas não se importam em dividir. Graças a Deus tem pessoas muito boas nas nossas vidas que não deixam que a gente passe por apuros.” Moreira tem uma filha de 12 anos de outro relacionamento e não conseguiu pagar a pensão alimentícia referente ao mês de abril. A do mês de março ele conseguiu dar metade do valor, graças à ajuda de sua sogra. “A mãe da minha filha também está sem trabalho, ela é manicure e não está atendendo. Eu prometi que assim que sair o auxílio emergencial eu pago a pensão da nossa filha”, afirma. O supervisor de call center está procurando trabalho em outras áreas, mas não está conseguindo nem fazer bicos para levantar alguma renda. “Estou tentando até a área de metalurgia, como ajudante geral. Até falei para o meu cunhado que nem laje para bater a gente consegue, está bem complicado mesmo”. Moreira conta que teve que reduzir os gastos e focar na alimentação, priorizando as misturas mais baratas que rendem mais. “A gente foca na questão dos mantimentos, arroz e feijão de marcas mais baratas, iogurte, bolacha e fruta para o meu filho, e na mistura a gente dá uma variada básica. Hoje tem ovo, amanhã tem peito de frango, outro dia a gente vai só na verdura, nos legumes ou na linguiça. A gente tem que variar com o pouco que tem para ir se mantendo até conseguir arrumar alguma coisa”, conta. Moreira diz que utilizou o cheque especial quando foi mandado embora da empresa em fevereiro. “Mas fiz a negociação do pagamento, era para pagar em abril e agora joguei pra pagar em junho”, afirma. Ele também negociou o pagamento do cartão de crédito para daqui a 60 dias. “Não temos reserva financeira nenhuma, nem limite de cartão, não tem nada bancário para recorrer”, diz. Ele calcula que tenha no total R$ 2 mil em dívidas. Moreira negociou ainda o parcelamento da faculdade de direito que cursa, apesar de ter bolsa de 70%. “É viver um dia de cada vez, pedindo que acabe logo isso e eu consiga voltar a buscar recolocação profissional. E estou na espera do auxílio emergencial para ter mais um fôlego, conseguir comprar as coisas para casa, pagar algumas contas pessoais e a pensão da minha filha, que é o que mais me preocupa no momento”.