William Paiva teve seu faturamento reduzido com o fechamento das casas noturnas da cidade por conta da pandemia do novo coronavírus. Não há precedente na indústria do entretenimento para o estrago deixado pela pandemia do novo coronavírus. As casas noturnas de São Paulo são grande exemplo, fechadas e sem expectativa de reabertura enquanto aglomerações são inseguras. Sem demanda por trabalho, muitos profissionais informais ficou desguarnecida com a mudança brusca. William Paiva, de 37 anos, é um deles. Fotógrafo autônomo de casas noturnas, chegou a fazer cinco eventos por semana nos bons momentos do mercado. Com a quarentena, viu o faturamento ir a zero. Sem renda e com dificuldades para receber o Auxílio Emergencial, trabalhadores dependem de ajuda para atravessar pandemia 'Estou vivendo com a ajuda de algumas mães', diz pipoqueiro sem trabalho no Rio Sem dinheiro, supervisor de call center vive com ajuda da mãe e da sogra Com salão fechado, manicure diz que só consegue comer 'com ajuda de clientes' 'Estamos vivendo da ajuda dos meus clientes', diz empregada doméstica da periferia de SP Para William Paiva, dificuldades começaram logo após o carnaval Reprodução/Acervo Pessoal A situação já era complicada. Há pelo menos um ano, Paiva percebeu um estrangulamento do mercado. O número de eventos caiu. O cachê por noite, também. A diária de R$ 300 nos bons tempos passou para R$ 150, em média, nos últimos 12 meses. "O tíquete médio das festas passou de R$ 80 para R$ 15 em regiões como a Rua Augusta", diz. "As casas já vinham em crise, e a fotografia é a primeira a ser cortada." Da parte que toca o novo coronavírus, a dificuldade começou logo depois do Carnaval. Com o primeiro caso registrado no fim de fevereiro, as baladas paulistanas baixaram as portas. Umas por precaução sanitária, outras porque o público passou a fugir das aglomerações. Sem reservas financeiras, a fuga de dinheiro impactou a conta de Paiva imediatamente. "Juntei tudo que eu podia para vender, como uma placa de vídeo de computador encostada, um pedal de efeitos de guitarra, meus livros de faculdade", diz ele. "Algumas pessoas compraram mesmo sem precisar, muito para ajudar mesmo, ou pagaram um pouco a mais do que o valor que eu tinha pedido. Foi o que ajudou porque eu estava sem receber desde o Carnaval." Auxílio emergencial? Fotógrafo vendeu bens e solicitou o Auxílio Emergencial Reprodução/Acervo pessoal Além de vender bens, outra saída foi apelar ao auxílio emergencial concedido pelo governo a trabalhadores autônomos. Foram 40 dias de espera, boa parte deles com o pedido em análise pela Caixa. A queda de renda e a espera fez com que entrasse no cheque especial. Assim que o dinheiro entrou, foi direto para o débito com o banco. Na última sexta-feira (8), começou a trabalhar com entregas para o proprietário de uma das casas noturnas, que também é dono de uma cervejaria. "Não é um valor fixo, né? Depende das entregas, da quilometragem que eu faço. Não sei quanto que vai render e se vai dar uma quantia que vale a pena", afirma o fotógrafo. "Pensei em fazer Uber, mas meu carro também já é um pouco antigo." Em casa, ele não foi o único a perder renda. A namorada de Paiva, hostess de casa noturna, também perdeu o emprego. A balada encerrou as atividades com a diminuição de público antes da pandemia, mas havia um comprador engatilhado. Com o estouro da crise, o investidor desistiu do negócio. Contratada com carteira assinada, ela agora briga para conseguir o seguro-desemprego. A sobrecarga de pedidos do benefício, contudo, está atrasando o processo. Segundo a Caixa, dos 97 milhões que tentaram se cadastrar, 50,5 milhões já receberam R$600 Crise atrás de crise Os livros que Paiva foi obrigado a vender lhe serviam na faculdade de Editoração na Universidade de São Paulo. Aluno de escola pública e bolsista nos anos de cursinho, foi aprovado em 2003. Nos anos seguintes, foi estagiário na própria universidade e trabalhou em duas das maiores editoras de livros do Brasil. Entre uma editora e outra, ficou cinco meses parado. No meio tempo, fez dois empréstimos para pagar o financiamento de um carro. Quando voltou ao mercado de editoração, passou a trabalhar na noite como barman para complementar a renda e se livrar das parcelas. "Quando fui efetivado e acabou a dívida, usava esse dinheiro extra para viajar e outros luxos", diz ele. Na editora, Paiva trabalhava como produtor de livros, profissional que faz o meio de campo entre diagramadores, ilustradores e revisores, além do controle de qualidade para partir para a venda. Tudo ia bem até 2016, quando o mercado entrou em uma crise aguda. "O investimento em cultura diminuiu demais. Minha equipe tinha cinquenta pessoas, caiu para cinco", afirma. "Havia uma equipe de revisores, outra de diagramadores. Tudo foi terceirizado e eu fazia a gestão do trabalho de freelancers." Em uma segunda leva de reajustes, Paiva foi demitido junto com outros 50 profissionais. "De 2016 para cá, eu já vinha cortando muita coisa, né? Comprava só o essencial, roupa e tênis só quando fura e não dá mais para usar de jeito nenhum", diz. O fotógrafo não culpa a quarentena. "Sou a favor de todas as medidas — inclusive, estamos fazendo até pouco", diz. "Eu moro na periferia e a galera simplesmente não obedece o distanciamento e até semana passada não usavam máscaras." "Se fizéssemos tudo direito, poderíamos voltar muito mais rápido ao normal", lamenta. Initial plugin text