Trata-se da menor variação agosto de 1998 e do primeiro recuo do IPCA desde setembro de 2019. Preço dos combustíveis caiu 9,59% no mês e compensou a alta da alimentação no domicílio. Abril registra deflação de 0,31%, menor taxa mensal em 22 anos O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a inflação oficial do país, caiu 0,31% em abril, em meio a queda dos preços dos combustíveis e tombo da atividade econômica, segundo divulgou nesta sexta-feira (8) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado é a menor variação mensal desde agosto de 1998, quando chegou a -0,51%. Trata-se também da primeira deflação registrada no país desde setembro do ano passado, quando o IPCA ficou em -0,04%. No ano, o IPCA acumula alta de 0,22% e, nos últimos doze meses, de 2,40%, bem abaixo dos 3,30% observados nos 12 meses imediatamente anteriores. Veja abaixo a evolução da inflação nos últimos meses: IPCA – Inflação oficial mês a mês Economia G1 A queda dos preços em abril foi maior do que a esperada pelo mercado. Pesquisa da Reuters apontou que a expectativa de analistas era de recuo de 0,20% em abril, acumulando em 12 meses avanço de 2,49%. O centro da meta de inflação do governo para este ano é de 4%. O que explica a deflação Dos 9 grupos de produtos e serviços pesquisados, 6 tiveram deflação em abril, refletindo a baixa demanda e a fraqueza da economia neste momento pandemia, com os brasileiros consumindo menos quer seja por queda da renda ou por medo de recessão. Segundo o IBGE, o resultado do IPCA foi influenciado principalmente pela queda de 9,59% no preço dos combustíveis. A gasolina recuou 9,31% em abril e representou o maior impacto individual sobre o índice geral (-0,47 ponto percentual). Etanol (-13,51%), óleo diesel (-6,09%) e gás veicular (-0,79%) também apresentaram deflações em abril. "O resultado de abril foi muito influenciado pela série de reduções nos preços dos combustíveis, principalmente da gasolina, que caiu bastante e puxou o índice para baixo", explica o gerente da pesquisa, Pedro Kislanov. No período de coleta, houve dois anúncios de diminuição no preço da gasolina nas refinarias: no dia 28 de março, de 5%, e no dia 20 de abril, de 8%. Os preços internacionais do petróleo desabaram em abril em meio a queda da demanda e tombo da atividade econômica no mundo todo com as paralisações e medidas de isolamento adotadas para tentar conter o avanço da Covid-19. O pesquisador do IBGE destacou que, além da pressão da cotação internacional do petróleo, a queda dos preços dos combustíveis sofreu impacto da queda da demanda interna, "por causa do menor número de carros circulando”. Nesta quinta-feira, a Petrobras elevou em 12% os preços da gasolina nas refinarias. Outras quedas significativas em abril foram verificadas nos preços de eletrodomésticos e equipamentos (-3,58%), nos itens de mobiliário (-2,92%) e na energia elétrica (-0,76%). Preços dos alimentos seguem aumentando Apesar da deflação em abril, os preços do grupo alimentação e bebidas (1,79%) continuaram a subir e a taxa de alta acelerou em relação ao resultado do mês anterior (1,13%). A alimentação no domicílio passou de 1,40% em março para 2,24% em abril, com destaque para as altas da cebola (34,83%), da batata-inglesa (22,81%), do feijão-carioca (17,29%) e do leite longa vida (9,59%). Já as carnes (-2,01%) apresentaram queda pelo quarto mês consecutivo. "Há uma relação da restrição de oferta, natural nos primeiros meses do ano, e do aumento da demanda provocado pela pandemia de Covid-19, com as pessoas indo mais ao mercado, cozinhando mais em casa", explicou Kislanov. A alimentação fora do domicílio, por sua vez, passou de 0,51% em março para 0,76% em abril, influenciada pela alta do lanche (3,07%). Já a refeição fora de casa registrou deflação (-0,13%) pelo segundo mês consecutivo. Em março, a queda tinha sido de 0,10%. Pessoas se aglomeram na porta de um supermercado em Copacabana, no Rio de Janeiro; segundo o IBGE, preços dos itens de alimentação e bebidas tiveram alta média de 1,79% em abril Marcos Serra Lima/G1 O que caiu e o que subiu Na análise por grupos, as maiores quedas fora nos preços de transportes (-2,66%) e artigos de residência (-1,37%). Veja a inflação de março por grupos e o impacto de cada um no índice geral: Alimentação e bebidas: 1,79% (0,35 ponto percentual) Habitação: -0,10% (-0,02 p.p.) Artigos de residência: -1,37% (-0,05 p.p.) Vestuário: 0,10% (0 p.p.) Transportes: -2,66% (-0,54 p.p.) Saúde e cuidados pessoais: -0,22% (-0,03 p.p.) Despesas pessoais: -0,14% (-0,01 p.p.) Educação: zero (0 p.p.) Comunicação: -0,20% (-0,01 p.p.) O índice de inflação da construção civil teve variação de 0,25% em abril. Queda nos preços de serviços Segundo Kislanov, a demanda exerceu pressão sobre os serviços e sobre a alimentação, mas com movimentos contrários. “Tem uma queda da demanda na parte de serviços, e uma alta da demanda na parta de alimentação, principalmente nos alimentos menos perecíveis, que são mais fáceis de estocar, e acabam sofrendo uma alta dos preços. Já os serviços tiveram uma queda”, destacou. Kislavov ponderou que, embora os serviços tenham registrado alta de 0,25% no mês, essa alta foi puxada pelas passagens aéreas (15,10%). Nos demais serviços houve queda disseminada dos preços. Entre os serviços com deflação em abril destaque para transporte por aplicativo (-4,5%), aluguel de veículo (9,63%), hospedagem (2,58%) e pacote turístico (1,66%). Perspectivas e meta de inflação A meta central do governo para a inflação em 2020 é de 4%, e o intervalo de tolerância varia de 2,5% a 5,5%. Para alcançá-la, o Banco Central eleva ou corta a taxa básica de juros da economia (Selic), que foi reduzida nesta semana para 3% – nova mínima histórica. A expectativa de inflação do mercado para este ano segue bem abaixo do piso da meta. Os analistas das instituições financeiras reduziram a projeção de inflação para 1,97% em 2020, conforme aponta a última pesquisa Focus do Banco Central. Foi a oitava redução seguida do indicador em meio à pandemia do novo coronavírus, que tem derrubado a economia brasileira e mundial, e colocado o mundo no caminho de uma recessão., O mercado passou a projetar retração de 3,76% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2020. Já o FMI prevê queda de 5,3% do PIB do Brasil neste ano. Entenda os impactos da pandemia de coronavírus nas economias global e brasileira Metas para a inflação estabelecidas pelo Banco Central Aparecido Gonçalves/Arte G1 Inflação por regiões do país Regionalmente, 14 das 16 áreas pesquisadas tiveram deflação em abril. O menor índice foi o da região metropolitana de Curitiba (-1,16%). Já o maior resultado foi registrado na região metropolitana do Rio de Janeiro (0,18%), em função das altas nos preços das passagens aéreas (15,83%) e da energia elétrica (1,33%). INPC varia -0,23% em abril O IBGE divulgou também o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), referente às famílias com rendimento de um a cinco salários mínimos e que serve de referência para reajustes salariais. O indicador apresentou variação de -0,23%, enquanto em março havia registrado 0,18%. Foi o menor resultado para um mês de abril desde o início do Plano Real. A variação acumulada no ano foi de 0,31% e, nos últimos doze meses, o índice apresentou alta de 2,46%, abaixo dos 3,31% registrados nos 12 meses imediatamente anteriores. Coleta à distância Em virtude do quadro de emergência de saúde pública causado pela Covid-19, o IBGE suspendeu, no dia 18 de março, a coleta presencial de preços nos locais de compra. Os preços passaram a ser coletados por outros meios, como pesquisas realizadas em sites de internet, por telefone ou por e-mail. Segundo o IBGE, para o cálculo do índice do mês, foram comparados os preços coletados no período de 31 de março a 29 de abril de 2020 com os preços vigentes no período de 3 a 30 de março de 2020. STF decide manter suspenso repasse ao IBGE de dados de usuários de empresas de telefonia