Saxofonista e pianista reavivam a obra do compositor em disco que traz a voz de Soraya Ravenle em duas músicas. ♪ Em 2018, a obra de Jacob Pick Bittencourt (14 de fevereiro de 1918 – 13 de agosto de 1969), o Jacob do Bandolim, foi alvo de diversas abordagens de instrumentistas em discos idealizados para celebrar o centenário de nascimento do influente compositor e músico carioca. Um dos principais difusores do choro, ritmo que executava com destreza no bandolim de toque singular, Jacob ganha – dois anos depois – mais um tributo fonográfico, descolado das homenagens pelo centenário do artista. Álbum instrumental lançado pela gravadora Kuarup, no formato de CD e em edição digital, Entre mil… Você! – Um tributo a Jacob do Bandolim reaviva a obra do chorão no sopro do saxofone de Daniela Spielmann e do toque do piano de Sheila Zagury. O disco foi batizado com o nome do choro de 1953 que, na gravação das instrumentistas, ganha ares de bossa nova, embora a composição Entre mil.. Você! tenha sido lançada cinco anos antes da revolução feita por João Gilberto (1931 – 2019). Como sintetiza o cavaquinista Sérgio Prata, diretor do Instituto Jacob do Bandolim, em texto escrito para o encarte da edição em CD do álbum Entre mil… Você!, Daniela Spielmann e Sheila Zagury reapresentam o cancioneiro de Jacob em tons arejados, de “janelas abertas”. Capa do álbum 'Entre mil… Você! – Um tributo a Jacob do Bandolim', de Daniela Spielmann e Sheila Zagury Divulgação Essa abertura de janelas possibilita às instrumentistas, no disco, temperar a brejeirice da obra do compositor com o exercício da liberdade consentida pelo jazz e com a formalidade da música de câmera, entre outras proezas estilísticas. O repertório do álbum alinha dez temas de Jacob em seleção que, em ordem cronológica, inclui Bole-bole (1951), Doce de coco (1951), Migalhas de amor (1952), Santa morena (1954), Benzinho (1955), A ginga do Mané (1962), O voo da mosca (1962), Receita de samba (1967) e Vibrações (1967), além da já mencionada música-título Entre mil.. Você! (1953). Cabe ressaltar que o choro Benzinho reaparece acoplado no álbum à canção Naquela mesa (1972), composição feita por Sérgio Bittencourt (1941 – 1979) para celebrar o pai que falecera em 1969. No álbum, Naquela mesa – propagada no canto de Elizeth Cardoso (1920 – 1990) – reverbera na voz de Soraya Ravenle, intérprete também convidada por Spielmann e Zagury a cantar Modinha, outra música de Sérgio Bittencourt, lançada em disco em 1968 na voz de Taiguara (1945 – 1996). Além de Ravenle, merece menção a participação no álbum do bandolinista Almir Côrtes, ouvido, por exemplo, na gravação em que A ginga do mané balança na cadência do ragtime. Ousadia estilística de disco em que Daniela Spielmann e Sheila Zagury buscam sopros e toques de renovação na abordagem da obra do centenário Jacob do Bandolim.