Professores da Unicamp e da Universidade de Denver (EUA) alertam que a empresa brasileira precisará buscar um reposicionamento no mercado após a negociação frustrada. Boeing desiste de comprar parte da Embraer Especialistas nas áreas da indústria aeronáutica e em relações internacionais avaliam que a crise do novo coronavírus foi um dos fatores para o fim do acordo de aviação comercial entre Boeing e Embraer. Além disso, eles alertam que a empresa brasileira precisará buscar um reposicionamento no mercado após a negociação frustrada. Segundo o professor e especialista em Indústria Aeronáutica, Marcos José Barbieri, da Universidade de Campinas (Unicamp), a decisão da Boeing em romper o acordo teria sido motivada por problemas estruturais, agravados por prejuízos com o modelo de avião '737 Max' e pela crise do coronavírus. “Com a crise do coronavírus, inviabilizou, porque a operação vai precisar fazer uma reestruturação muito mais forte. Ela (Boeing) vai precisar de muito mais recursos públicos, do contribuinte americano, para poder sobreviver. Mesmo que seja uma operação vantajosa, do ponto de vista tecnológico e comercial para a Boeing, ela não tem condições de tocar esse projeto a frente", diz o professor. Barbieri também avalia como a Embraer deverá atuar no mercado, após o fim do acordo. “Ela vai ter que voltar a ser o que sempre foi, uma empresa que se desenvolveu com parcerias com outras empresas e países, mas, com autonomia, mantendo a integridade da empresa. É isso que ela tem que fazer para procurar sobreviver”, afirma. Para o professor de Relações Internacionais, Aaron Schneider, da Universidade de Denver (EUA), a Boeing terá que compensar a Embraer pelas perdas na negociação. Ele lembra que a empresa brasileira já tinha readequado fábricas e reorganizado o quadro de trabalhadores nas unidades para iniciar a nova operação. “A penalidade, o castigo que Boeing teria que pagar é entre 75 e 100 milhões de dólares por ter desistido. Acredito que a Boeing vai recorrer à justiça e culpar a Embraer por não cumprir detalhes, mas no meu entender Boeing desistiu e terá que pagar'', avalia Schneider. O professor também lembra que, além do fim do acordo, a Embraer enfrentará um mercado em crise nos próximos anos. “'O mercado de aviação não vai recuperar por três a cinco anos e qualquer companhia, a Embraer em particular, vai precisar de estratégia para navegar nesse momento de queda. Vai precisar de reposicionamento da companhia para competir quando o mercado abrir de novo'', diz. Fim do acordo A rescisão do acordo para área da aviação comercial foi anunciado neste sábado (25) pela Boeing. Firmado em 2018, o negócio – então avaliado em US$ 5,26 bilhões – previa a criação de uma empresa conjunta que ficaria sob comando da Boeing, com 80% de participação. A Embraer ficaria com os 20% restantes, e poderia vender a sua parte para a americana. “É uma decepção profunda. Entretanto, chegamos a um ponto em que continuar negociando dentro do escopo do acordo não irá solucionar as questões pendentes”, diz o comunicado aos investidores divulgado pela Boeing. O texto diz ainda que a Boeing “exerceu seu direito de rescindir" acordo "após a Embraer não ter atendido as condições necessárias”. Já a Embraer afirmou que a Boeing rescindiu "indevidamente" o acordo e que a empresa norte-americana "fabricou falsas alegações como pretexto para tentar evitar seus compromissos de fechar a transação". A empresa ainda diz que buscará as medidas cabíveis contra a Boeing, pelos danos sofridos pela rescisão do acordo. Parceria entre Boeing e Embraer prevê a criação de joint ventures de aviação comercial e defesa. Claudia Ferreira / G1 Mercado O cancelamento ocorre em meio aos impactos causados pelo coronavírus no mercado de aviação. A queda nas ações da Embraer e preocupações com dinheiro na Boeing, impulsionadas pelo impacto do coronavírus nas viagens aéreas, foram um golpe para a transação nos últimos dias. As ações da terceira maior fabricante de aviões do mundo chegou a cair dois terços desde que o acordo foi divulgado em 2018, segundo dados da Refinitiv. A esse preço, a Boeing assumiria o controle da unidade comercial da Embraer, mas somente após pagar três vezes o valor de toda a empresa. A Boeing se ofereceu para pagar US$ 4,2 bilhões em dinheiro por 80% da unidade comercial da Embraer, que fabrica jatos no segmento de 70 a 150 assentos e concorre com o programa A220, recentemente adquirido pela Airbus.